Breve comentário sobre o Matrimónio
O noivado efectiva-se pela imposição dos anéis
e daí ser chamado "rito dos anéis": a «akolouthía
tou arrabonos». O rito da "coroação", a «akolouthía
tou stephanómatos», segue quase sempre imediatamente e consiste
na imposição das coroas. Ambos os ofícios são,
pois, celebrados numa cerimónia única, o que raramente acontece
na Igreja Católica Ortodoxa Hispânica.
Após a Divina Liturgia (Santa Missa), durante a qual receberam a santa
comunhão, os noivos colocam-se diante das portas reais, o homem em frente
ao ícone do Cristo e a mulher em frente ao ícone da Teotokos
(figura da Igreja). Recolhem-se diante desta imagem arquetípica do casamento,
segundo são Paulo: a união do Cristo e da Igreja.
Os dois anéis foram colocados no centro do santuário, sobre o
Altar. Representam o mistério do reino e, símbolo do novo destino,
designam a dimensão na qual o Sacramento introduzirá o casal.
O padre recebe dos noivos a afirmação de que se apresentam por
livre e espontânea vontade, diante do olhar de Deus. Benze-os com as
velas nupciais acesas que eles segurarão durante o ofício. Sua
luz é a reminiscência do que acontecera no princípio: "Faça-se
a Luz"; corresponde, assim, ao plano da criação antes da
queda e à palavra de instituição paradisíaca da
unidade conjugal. Sua chama lembra ainda as línguas de fogo de Pentecostes.
Os noivos aguardam seu pentecostes conjugal na expectativa da descida da graça.
O celebrante, traçando em cruz, incensa os noivos. Este gesto simbólico
relaciona-se com a história de Tobias: a fumaça afugentava os
demónios e tornava o recinto puro e santo. No limiar da nova vida, a
cruz é traçada com seu poder de protecção. A cruz
purificou a atmosfera e libertou o mundo da dominação demoníaca,
ensina Santo Atanásio.
Após as ladainhas, o padre pronuncia a primeira oração,
pedindo que a graça divina reúna o que fora disperso e torne
indestrutível o elo do amor. Percebemos nestas palavras um eco da mais
antiga oração eucarística da Didaqué (cap. 9): "Como
este pão partido, outrora dispersado pelas montanhas, foi recolhido
para tornar-se um todo, assim também seja a tua Igreja unificada de
uma extremidade a outra da terra". O amor dos noivos, em sua própria
inspiração, alia e orienta-se para a comunhão eucarística.
A segunda oração nos coloca diante do arquétipo divino
do matrimónio: os esponsais de Cristo e da Igreja. Seu alcance corresponde à palavra
inspirada de São João Crisóstomo: o casamento não é a
imagem de algo terrestre! O ritual copta menciona aqui a história de
Eliezer, o intendente de Abraão. Deus acompanha-o em sua viagem e revela-lhe
a maneira de reconhecer a eleita. Deste modo, Deus guia os passos dos que se
vão encontrar; seu desígnio sobre o par que se apaixona é o
penhor de suas bênçãos.
A terceira oração não é menos rica de sentido e
revela o significado da imposição dos anéis. O significado
de entrega e intercâmbio entre os noivos aprofunda-se prodigiosamente
nos ritos arménio e sírio onde, segundo antigo uso, a troca das
cruzes baptismais exprime, com simbolismo muito evidente, a entrega recíproca
da vida. O rito sírio começa no ponto culminante: "Quantos
mistérios estão ocultos e contidos no esplendor dos anéis!...
O Senhor Jesus Cristo que desposou a Igreja e que, pelo seu sangue, constituiu-lhe
um dote e, com os cravos da crucifixão, forjou-lhe um anel.”
A oração do rito bizantino fala de José: o selo real engastado
no anel era o sinal de seu poder e garantia, confirmando a confiança
e a fidelidade do rei a seu respeito. Assim também, na evocação
da história de Daniel lançado na cova dos leões, o rei
serviu-se de seu sinete que garantia a libertação do profeta
e exprimia o mesmo penhor de fidelidade em relação a ele. Tamar,
citada diante do juiz Judas, mostra o anel que o lembra da sua promessa e obriga-o
a ser fiel a ela. Finalmente, ao filho pródigo, de volta a casa, o pai
coloca-lhe no dedo o anel, sinal do perdão concedido e da dignidade
real restituída.
O encontro dos noivos torna-se como que selado pelo anel da promessa divina;
súmula da história da humanidade: o filho de Deus é salvo
pela fidelidade do Pai, "Filantropo", "o que ama os homens".
O acto divino é imediatamente seguido de dom real: "Que o anjo
do Senhor caminhe diante deles todos os dias de sua vida". E o símbolo
impressionante da unidade em um único ser, em um só destino:
o anjo da comunidade conjugal a guie até o reino.
No Ocidente, a antiga liturgia romana incluía o rito da velatio, que
realçava a imagem paulina do "véu", sinal da feminilidade,
do recato e submissão. No Oriente, o uso do véu pelas mulheres
casadas era habitual. O rito oriental da coroação suprime, retira
o véu e acentua a liberdade régia dos esposos e sua igualdade
no dom recíproco de suas pessoas. A dignidade da mulher aparece com
mais evidência: companheira de seu face a face, a ele igual, ambos constituem
a imagem única de Deus.
A cerimónia da coroação começa pelo canto do Salmo
127, integrado à cerimónia das núpcias desde o século
IV. Seu final justifica essa inserção. Convém compreender
seu sentido oculto. Encontramos as mesmas palavras na oração
central do sacramento da unção crismal (confirmação): "Que
ele te conceda a glória, e que todos os dias de tua vida tenhas a visão
dos bens de Jerusalém”. A consagração sacerdotal,
consagração de toda uma vida a serviço do Senhor, culmina
numa visão nitidamente escatológica; tratasse da Jerusalém
celeste. O canto do Salmo 127 invoca ainda o Senhor e pede sua bênção
vinda de Sião. Este nome significa, ao mesmo tempo, lugar de salvação
(Isaías 46, 13) e Jerusalém, sinónimo do reino messiânico
que a literatura rabínica e apocalíptica chamará de Jerusalém
celeste, Esposa do Senhor. Depois da solenidade de Ramos, Jerusalém
designa o Cristo e seu Corpo glorificado como Igreja mística, lugar
onde se desenrola a história da salvação.
Desde o início, esta evocação de tão denso significado
alça de vez os nubentes acima dos horizontes terrenos. Ensina a constante
e única verdadeira atitude conjugal: a cada momento, "todos os
dias de sua vida", o homem, plantado na terra, contempla o Oriente através
de suas raízes, sua alegria sorve o céu; os esponsais terrenos
dão início à ascensão de Sião na luz do
Tabor.
As orações que seguem a liturgia diaconal mencionam os nomes
dos patriarcas e as bênçãos concedidas, o que reúne
as duas alianças numa única economia da salvação.
O que se passou e já narramos ilustra e glorifica a inabalável
fidelidade de Deus. O imponente cortejo dos patriarcas termina com Zacarias
e Isabel, com Joaquim e Ana. São os casais que geram os arquétipos
humanos: o do masculino, São João Baptista; o do feminino, a
Virgem, "esposa in-desposada", "de quem, sem as relações
do matrimónio, nasceu o Salvador", esposo real do festim das virgens
prudentes. O casamento se coloca, assim, sob o signo da natividade milagrosa
e da serva e do amigo do único Esposo.
Por este motivo, as mesmas orações voltam várias vezes,
orações para implorar a castidade conjugal e um leito nupcial
sem mácula. Elas evocam as núpcias de Caná e iniciam no
simbolismo do amor transfigurado, tornado carismático. O encontro significativo
da virgindade e do estado conjugal indica a mesma fonte e a mesma plenitude,
onde culminam os dois mistérios da vida humana, após o milagre
de Caná.
Tudo o que foi dito é complementado pela evocação de Enoc,
de Elias e de Sem (filho de Noé que uma tradição inclui).
Esses profetas foram transportados vivos para o céu. A menção é importante:
aqueles que se unem são colocados diante da prefiguração
humana da ascensão do Senhor: os horizontes terrestres em nada limitam
a ascensão dos casados.
Este equilíbrio maravilhoso do céu e da terra conduz ao concreto
da existência. Na véspera das grandes festas, o padre abençoa
o trigo, o vinho e o óleo, imagem e presença exemplar da abundância
dos frutos da terra, alma mater. Partindo deste ponto esquemático, a
bênção estende-se sobre todo o universo e santifica sua
fecundidade, da qual o homem é o ecónomo supremo. A oração
do rito matrimonial segue a mesma fórmula e explicita imediatamente
a finalidade dos bens terrenos: "A fim de que possam distribuí-los àqueles
que não os têm... para a sua salvação". A abundância
da alegria do festim rectifica e sensibiliza a atenção do homem,
torna-o aberto e o predispõe a se debruçar sobre toda solidão,
sofrimento e abandono longe de Deus. Doravante, os esposos são para
todos a segunda pessoa, são para todos este mendigo rico de Deus e irmão
pobre de todos os homens aos quais deseja ardentemente a salvação.
A primeira oração do rito de coroação evoca, explicita
e torna presente o acontecimento de Caná: "Por uma graça
misteriosa foste a Caná da Galileia, para ali abençoar o casamento,
a fim de mostrar que a união conjugal está de acordo com tua
santa vontade... acolhe nossa prece, pois aqui estás invisivelmente
presente como lá te encontravas".
No evangelho, a glória perfaz toda obra em Cristo, sua realização é manifestada
e glorificada pelo Espírito Santo. Os noivos, diante do Cristo presente,
recebem a glória que complementa a constituição de seu
ser único, e o sacerdote eleva-os àquela dignidade pela epíclese
do sacramento: "Senhor, nosso Deus, coroa-os de glória e de honra".
E o momento efectivo do sacramento: o tempo do pentecostes conjugal, a descida
do Espírito criando a nova criatura.
O rito copta acentua fortemente este sentido pela unção dos noivos,
lembrança da unção crismal e sinal dos dons de Pentecostes.
A bênção do óleo diz: “Tu que ungiste sacerdotes,
reis e profetas (tríplice dignidade do sacerdócio régio)
com o produto do fruto da oliveira, nós te pedimos abençoar o óleo
que te apresentamos. Torne-se ele óleo de santificação,
unção de castidade, luz e beleza imaculada".
O coro canta:... “é o óleo dos espíritos santos”...
A unção infunde a graça da santidade conjugal. O que estava
separado, não mais está; o anjo do ser conjugal tornou-se presente
como testemunha celeste da palavra criadora reconstituída e novamente
ouvida: "Ele o fez à semelhança de Deus. Ele os criou...
e lhes deu o nome de Homem". Estas aproximações prodigiosas
do júbilo litúrgico fazem sentir até que ponto a palavra
da oração sacerdotal do Senhor (Jo, 17): "Eu lhes dei a
glória, a fim de que sejam um", acha-se no âmago da manifestação
da mesma glória em Caná e presente em todas as núpcias
cristãs. É a própria fórmula do amor conjugal e
do sacramento do matrimónio.
A oração central do rito de coroação é muito
reveladora, coloca-se no começo e no fim da destinação
humana e une-os. Com efeito, ao descrever a magnificência do homem inocente,
na aurora de sua vida, a epístola aos Hebreus (2, 7) diz: "Tu o
coroaste de glória e de honra".
O Apocalipse coloca-se na outra extremidade, no termo da história, e
culmina com a visão da cidade nova onde "as nações
trarão sua glória e sua honra". Não é de mãos
vazias que os homens alcançam as margens do reino; carregam os dons
do Espírito: a glória e a honra. Mas a mesma fórmula que
vem exprimir a promessa inicial e sua realização - o paraíso
e o reino -, vem como palavra que opera o sacramento do matrimónio:
os esposos são coroados de glória e de honra. Vemos assim o casamento
como ponto de junção entre o Alfa e o Ómega do destino
humano.
O rito da coroação foi introduzido em recordação
dos quarenta mártires de Sebaste aos quais Deus envia do céu
sua coroa. A menção de são Procópio também é significativa.
Sua vida nos conta que ele exortava as esposas a obterem pelo martírio
as núpcias celestes. Este relato sucinto orienta a procissão-dança
nupcial ao canto do topázio dos mártires: "Santos mártires
que combatestes corajosamente e recebestes a coroa, intercedei por nós
junto ao Senhor", dirige-a para este mesmo fim e designa assim o termo
glorioso do caminho da vida. Portanto, os casados, por seu amor mútuo,
fazem brotar esta magnífica oração dos mártires: "És
tu, meu Esposo, que desejo; procurando-te, luto e me crucifico contigo; envolvo-me
em teu baptismo e sofro por ti, a fim de viver em ti". O engaste dos antigos
anéis nupciais deixava ver dois perfis unidos pela cruz. O amor perfeito é o
amor crucificado. Por esta razão, as coroas estão associadas à coroa
de espinhos de Nosso Senhor, única a poder conferir sentido a todas
as demais. Ao longo de toda sua vida, os esposos ouvirão o eco mais
ou menos longínquo do topázio dos santos mártires.
São João Crisóstomo vê na coroa o símbolo
da ascese conjugal, a fim de alcançar a castidade, a integridade do
ser. É de admirar que o ritual não demonstre nenhum receio do
sexo, não comporte traço algum de desconfiança ou desprezo.
A oração pela castidade conjugal, contrária a todo conceito
de "remédio contra a concupiscência", pede algo muito
diferente: o milagre da transfiguração do eros. O pecado carnal
não é o pecado da carne, mas pecado do espírito contra
a carne, contra o sagrado e a santidade da encarnação. Toda a
gama de superações da sexualidade instintiva que a graça
do sacramento oferece traça novos desdobramentos de onde o amor sai
eternamente jovem, novo e virgem, purificado dos estigmas do passado adulterado.
A liberdade dos costumes do mundo moderno, muito paradoxalmente, por um contraste
violento, determina uma sede secreta de pureza e de véu. A grandeza
da comunidade conjugal postula a vitória, não do tirano que pesa,
que calcula e finalmente suprime o amor, mas do Mestre e Senhor que tem o poder
de metamorfosear. Nos bastidores do erotismo de hoje, frustrado e mergulhado
no tédio gigantesco, o amor novamente se apresenta como a fascinante
e única grande aventura quando o ser humano alcança o céu
não somente como poeta, mas ontologicamente, pelo carisma da santidade
conjugal.
Alguns antigos manuscritos, assim como uma composição do ícone
de são Miguel, representam Satanás com dois rostos, sendo um
colocado no baixo-ventre - símbolo de desdobramento e de desagregação
da pessoa pela concupiscência demoníaca. É a perversão
definitiva do princípio virginal. Tal estado exige profunda penetração
sacramental da natureza humana, e por este motivo o matrimónio é sacramento,
a fim de reconquistar a castidade perdida. Clemente de Alexandria refere-se à "graça
paradisíaca" que restitui ao espírito humano a sophrosyne
(integridade) inicial. Segundo antiga tradição, só após
sete dias as coroas simbólicas eram retiradas. Estes sete dias de continência
iniciavam no domínio de si e serviam de noviciado monástico;
o casal passava-os em oração, a fim de se preparar para o mistério
do amor. "Não é o caminho que é difícil, mas
o difícil é que é o caminho", estas palavras de Kierkegaard
bem se aplicam à imensa dignidade do matrimónio.
O amor é misterioso: vem de repente, mas pode desaparecer também
de repente; seu esgotar-se até o desaparecimento é ainda mais
incompreensível do que seu surgimento. O amor natural, secularizado, é vítima
indefesa da inconstância humana. Nenhuma palavra simplesmente humana
cumpre suas belas promessas. “Amar e perdurar” só rimam
na poesia do "primeiro amanhecer". Compreende-se, pois, a incansável
insistência do sacramento do matrimónio que pede o milagre, pede
o carisma, e reza sem cessar pelo "amor perfeito", "pela união
indestrutível", "o amor de um a outro e a terna amizade"; "abrasa,
Senhor, o noivo e a noiva do fogo do amor", reza o rito caldeu, e "que,
no amanhecer de todos os dias, tu te despertes na alegria"... "Que,
no momento em que estenderes a mão direita mão do Senhor te atenda.
Que, por toda parte onde pousares a esquerda, seu socorro te acompanhe" (bênção
nupcial composta por santo Efrém).
Que imensa confiança da parte de Deus, colocar entre nossas frágeis
mãos um ser, um destino! Somente o amor que se aloja dentro do amor
divino pode disto encarregar-se. "Como poderás saber que não
salvarás teu face a face?" Esta pergunta-resposta é a espada
afiada que imola o individual, o isolado, o "por si mesmo". Segundo
São João Crisóstomo, um verdadeiro marido não se
detém diante da morte, "tu és mais preciosa do que minha
alma", diz ele a sua mulher. Tiago de Saroug (século V-IV), em
seu tratado «Sur le voit de Moïse», pergunta: "Que esposo,
excepto Nosso Senhor, morreu por sua esposa, e que esposa teria escolhido como
esposo um crucificado?.. O homem e a mulher ofereceram a oportunidade de esboçar
este mistério do qual não passavam de sombra e imagem. Por trás
destes nomes de homem e mulher, Moisés (em seu relato da criação
do mundo) exprimira este grande mistério, escondendo-o sob o véu.
O Apóstolo disto revelou o esplendor a toda a terra e a palavra de Moisés
viu-se elucidada: “De dois, tornaram-se um".
Após o rito de coroação, o leitor diz o versículo
4 do Salmo 20: "Colocaste uma coroa de ouro sobre suas cabeças".
Guarnecidos deste símbolo, os nubentes ouvem a leitura da epístola
aos Efésios (5, 20-33) e do Evangelho de São João (2,
1-11). A inesgotável riqueza dos textos evocados culmina no essencial:
a natureza eucarística do amor conjugal. O rito caldeu no-lo explica
de maneira muito feliz: "Em sua câmara nupcial, o esposo é semelhante à árvore
da vida na Igreja. Seus frutos são nutritivos, suas folhas favorecem
a cura. A esposa é semelhante a uma taça de fino ouro, transbordante
de leite e esparzida com gotas de sangue"; "Que a Trindade resida
para sempre nesta câmara nupcial!"
Relacionando seu amor ao amor de Deus, os esposos elevam o seu ao nível
do coração divino, do qual o cálice eucarístico é representação
viva. O célebre ícone da Trindade, de Roublev, o sugere. O elo
secreto entre o milagre de Caná, a cruz e o cálice se inicia
no rito da taça comum. O Eucológio menciona a bênção
da taça. Desde o século XI, o rito evoca em suas grandes linhas
a liturgia dos pré-santificados. Segundo o Códice Barberini,
o cálice era eucarístico. Entre os arménios e os etíopes,
o casamento é celebrado durante a liturgia. São Simeão
de Tessalónica descreve os costumes do século XV: "O sacerdote
toma o cálice, contendo os pré-santificados e proclama: ‘Os
pré¬-santificados para os santos’..: Dá a comunhão
aos esposos... Porque a santa comunhão perfaz e sela o casamento...
A seguir, o celebrante oferece a 'taça comum'. Hoje, os noivos comungam
na liturgia da manhã. Durante o sacramento, somente a 'taça comum' é oferecida,
e os esposos bebem assim no cálice comum da vida".
Este rito é seguido de reevocação do cortejo, resumo simbólico
da dança nupcial de outrora. É conduzido pelo padre que une as
mãos dos noivos. O ritual arménio explica, com clareza, sua significação:
O padre representa o Deus criador e reproduz seu gesto: “Deus, segurando
a mão de Eva, colocou-a na mão de Adão”. São
Gregório de Nazianzo, em uma carta a seu amigo Anísios, desculpando-se
por não poder comparecer às núpcias de sua filha, afirmava
unir pelo pensamento as mãos dos noivos.
Precedendo o novo casal, o padre o faz dar uma tríplice volta, enquanto
os padrinhos, por trás deles, carregam-¬lhe as coroas. A procissão é acompanhada
de um canto extraído do ofício do Natal: "Dança de
alegria, Isaías...” e pelo topázio dos santos mártires.
A tríplice volta é tríplice reforço do símbolo
do círculo. Forma geométrica das clausuras em torno dos templos
e das cidades de outrora, o círculo representa a eternidade e exprime
seu poder de protecção. E o significado das procissões
litúrgicas em volta do templo; reproduzindo a imagem do infinito, a
simples extensão passa a ter valor de espaço sagrado. Se o tempo
sagrado, litúrgico, corresponde à nostalgia do eterno, o espaço
sagrado corresponde à sede do paraíso perdido e antecipa o reino.
O caminho da vida conjugal deixa de ser simples itinerário, é colocado
no eixo da eternidade. A partir daí, sua caminhada comum é semelhante
ao eixo imóvel de roda que gira.
Outra oração pede: "Abençoa sua entrada e sua saída".
Os textos Lc. 13, 24; Atc. 13, 24 e 2 Rs. 3, 25; 3 Rs. 3, 7 (Bíblia
grega), referem-se à importância desde sempre reconhecida às "entradas".
Aquele que sabe entrar e sair "dignamente" é senhor de seu
destino.
A última oração mergulha no tempo e oferece a bênção
para uma longa vida e numerosa posteridade. O rito de despedida retoma o essencial
do viático e menciona o nome dos santos Constantino e Helena, "iguais
aos apóstolos" e "tendo visto a cruz traçada no céu”.
Sua dignidade real colocada sob o sinal da Cruz vitoriosa é recordação
do sacerdócio régio dos esposos. Mas estes santos são
venerados especialmente como "Iguais aos apóstolos", para
a propagação missionária da fé. A última
observação do rito conduz, assim, os recém-casados a sua
tarefa apostólica: o testemunho da fé pela sua vida, através
de seu sacerdócio conjugal.
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro de 2011