Catecismo Ortodoxo
Parte II
Deus Manifestado no Mundo
17 – Matrimónio
(Casamento)
a - O Propósito da Família Cristã
A família, como é bem sabido, constitui a célula
fundamental do organismo da sociedade, sendo o núcleo e base da sociedade.
Assim também na militante Igreja de Cristo é a família
a unidade básica do corpo da Igreja. Por essa razão a família
Cristã é chamada nos escritos dos Apóstolos de uma “Igreja”: “Saudai
a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus... e a igreja
que está em sua casa” (Rom. 16, 3-5). “...saudai à Ninfa,
e à igreja que está em sua casa” (Col. 4, 15). Daí é compreensível
que grande atenção deveria ser dada à família do
ponto de vista da Igreja, para que a família possa preencher seu propósito
de ser uma pequena “Igreja”.
Há ainda outro caminho para a vida pessoal que é abençoado
no Cristianismo: virgindade ou celibato. Celibato por Cristo criou outro tipo
de unidade social Cristã: monasticismo. A Igreja o coloca acima da vida
casada, e na verdade na história da Igreja o monasticismo tem sido um
elemento líder, orientador, um suporte da Igreja, pondo em realização
no mais alto nível a lei moral do Evangelho, e preservando os dogmas,
os ofícios Divinos, e outras bases da Igreja.
No entanto, nem todos podem tomar para si os votos da virgindade em nome de
Cristo e da Igreja. Por isso, enquanto abençoa a virgindade como uma
forma de vida escolhida e perfeita a Igreja abençoa também a
vida casada para aqueles que não conseguem tomar os votos da virgindade,
vida que é ao mesmo tempo difícil pelos objectivos que são
colocados para uma família cristã, e essa bênção é conhecida
como Mistério.
b - O Significado do Mistério
No Mistério do Matrimónio, a Igreja invoca a ajuda de Jesus sobre aqueles que estão se casando, para que eles posam compreender, cumprir e atingir os objectivos postos diante deles, nomeadamente: ser uma “igreja do lar”, estabelecer dentro da família reais relações Cristãs, criar crianças na fé e vida coerentes com o Evangelho, ser um exemplo de piedade para aqueles à sua volta, suportar com paciência e humildade as inevitáveis tristezas e, frequentemente, sofrimentos que visitam a vida familiar.
c - O Momento Central do Mistério
O momento inicial da existência Cristã é a acção sagrada do Matrimónio. A parte mais importante no rito do Mistério do Matrimónio é a colocação das coroas sobre as cabeças daqueles que estão sendo casados com as palavras: “O servo de Deus (nome) é coroado com a serva de Deus (nome) em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, e então a bênção comum aos dois com a curta oração repetida três vezes: “O Senhor nosso Deus, coroa-os com glória e honra”.
d - Matrimónio como Instituição Divina
Que o Matrimónio tem a bênção de
Deus é dito muitas vezes na Sagrada Escritura. Assim em Génesis
1, 27-28 nós lemos: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem
de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus abençoou-o, e
Deus disse-lhe: Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra”. Da mesma
forma em Génesis 2, 18-24, o escritor da Génesis, tendo falado
da criação da mulher da costela de Adão e como ela foi
conduzida ao homem (Adão), acrescenta: “Portanto deixará o
varão o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma só carne”.
O próprio Salvador, ordenando a fidelidade a ser preservada no Matrimónio
e proibindo o divórcio, menciona as palavras do livro da Génesis
e instrui: “Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt.
19, 4-6). Essas palavras do Senhor claramente testemunham a favor da dignidade
moral do Matrimónio. O Senhor Jesus Cristo santificou o Matrimónio
pela sua presença nas bodas de Canaã na Galileia, e aí ele
realizou o seu primeiro milagre.
O Apóstolo Paulo compara o carácter místico da Igreja
com o Matrimónio nessas palavras: “Vós, maridos amai vossas
mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou
por ela”. E adiante, “Por isso deixará o homem seu pai e
sua mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois em uma
só carne. Grande é esse mistério: digo-o, porem, a respeito
de Cristo e da igreja” (Ef. 5, 25.31-32). O Apóstolo Paulo fala
mais em detalhe sobre o Matrimónio e virgindade acima do Matrimónio,
ele não condena o Matrimónio, ordenando que ele seja preservado
e advertindo que não se deve separar-se nem de descrente, na esperança
de converter o (a) companheira (o) para a fé. Tendo indicado os elevados
impulsos para permanecer na virgindade, em conclusão ele diz o seguinte: “Todavia
os tais terão atribulações na carne, e eu quereria poupar-vos” (1
Cor. 1, 28).
Tendo em mente o propósito Cristão do Matrimónio, a Igreja
proíbe que um membro dela se case com heréticos (Cánon
do Quarto e Sexto Concílios), e igualmente com aqueles de outras religiões
(Ver Cánon 14 do Concílio de Calcedónia e Cánon
12 do Quinisexto («Seven Ecumenicals Councils», págs. 278-9
e 397). A Igreja Ortodoxa em tempos modernos não tem sido tão
estrita. A regra actual na Igreja Russa fora da Rússia, por exemplo,
permite que Ortodoxos se casem com não-ortodoxos que estão próximos
na fé à Ortodoxia: Católicos Romanos, Arménios,
Episcopais, Luteranos, Presbiterianos. Outras Igrejas Ortodoxas têm hoje
em dia regras similares. O Cánon 72 no Quinisexto também permite
que Ortodoxos convertidos permaneçam com seus esposos depois da conversão,
pois como diz o Apóstolo Paulo: “Porque o marido descrente é santificado
pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido” (1
Cor. 7, 14). Na prática real, “matrimónios mistos” não
são condutores à formação de “Igrejas domésticas” ou à preservação
da Ortodoxia fervorosa nas crianças de tal união, e a conversão
para a Ortodoxa do esposo não-Ortodoxa é muito mais desejável).
e - A Indissolubilidade do Matrimónio
A Igreja só em circunstancias excepcionais concorda com a dissolução do Matrimónio, principalmente quando ele foi maculado pelo adultério, ou quando ele foi destruído pelas condições de vida (por exemplo, longa ausência de um dos esposos, sem notícia). A entrada num segundo Matrimónio depois da morte de um marido ou mulher, ou em geral a perda de um esposo pelo outro, é permitida pela Igreja, apesar de nas orações por aqueles que se estão casando pela segunda vez, é pedido perdão pelo pecado do segundo Matrimónio. Um terceiro Matrimónio é tolerado e só como mal menor para evitar o mal maior - a vida imoral (como São Basílio, o Grande, explica).
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011