Catecismo Ortodoxo

B. Exposições do Ensinamento Cristão


a - Os livros simbólicos

As interpretações do Símbolo da Fé, ou os "Guias Simbólicos" (do grego symballo, significando "unir"; symbolom um sinal unitivo ou condicional) da Fé Ortodoxa, no significado comum desse termo, são aquelas exposições de Fé Cristã que são dadas no Livro de Cánones dos Santos Apóstolos, nos Santos Concílios Locais e Ecuménicos, e nos Santos Padres. A teologia da Igreja Russa também faz uso, como livros simbólicos, daquelas duas exposições de fé que em tempos mais recentes foram evocadas pela necessidade de apresentar o ensinamento Cristão Ortodoxo contra ensinamentos de confissões não-ortodoxas no segundo milénio. Esses livros são: A Confissão da Fé Ortodoxa compilada pelo Patriarca de Jerusalém, Dositeus, que foi lida e aprovada no Concílio de Jerusalém em 1672 e, cinquenta anos depois, em resposta a uma inquirição recebida da Igreja Anglicana, foi enviada para essa Igreja em nome do todos os Patriarcas Orientais e por isso ficou mais conhecida pelo nome de "A Encíclica dos Patriarcas Orientais Sobre a Fé Ortodoxa". Também incluída nessa categoria está a «Orthodox Confession de Peter Mogica», Metropolita de Kiev, que foi examinada e corrigida em dois concílios locais, o de Kiev em 1640 e o de Jassy em 1643, e então aprovada por quatro Patriarcas Ecuménicos e pelos Patriarcas Russos Joaquim e Adrian. O Catecismo Cristão Ortodoxo do Metropolitan Philaret de Moscovo goza de importância similar na Igreja Ortodoxa Russa, particularmente a parte que contêm a exposição do símbolo da fé. Esse catecismo foi "examinado e aprovados pelo Santo Sínodo e publicado para instrução nas escolas e para o uso de todos os Cristãos Ortodoxos".

b - Sistemas dogmáticos

À tentativa de se ter uma exposição compreensiva de todo ensinamento cristão nós chamamos de "sistema de teologia dogmática". Um sistema dogmático completo, muito valioso para a Teologia Ortodoxa, foi compilado no século oitavo por São João Damasceno sob o título de «Exact Exposition of the Orthodox Faith». Nesse trabalho, pode-se dizer, São Damasceno reuniu todo o pensamento teológico dos Padres do Oriente e professores da Igreja até o século oitavo.

Entre os teólogos russos os trabalhos mais completos de teologia dogmática foram escritos no século dezanove pelo Metropolita Macário de Moscovo (Orthodox Dogmatic Theology, dois volumes), por Monsenhor Philaret, Arcebispo de Chernigov (Orthodox Dogmatic Theology, em duas partes), pelo Bispo Silvestre, Reitor da Academia Teológica de Kiev (Essay in Orthodox Dogmatic Theology, with a Historical Exposition of the Dogmas, cinco volumes), pelo Arcipreste N. Malinovsky (Orthodox Dogmatic Theology, quatro volumes e A Sketch of Orthodox Dogmatic Theology, em duas partes), e pelo Arcipreste P. Svietlov (The Chistian Teaching of Faith, na Apologetic Exposition). (Esses "sistemas" russos de teologia do século dezanove estiveram fora de moda entre os teólogos académicos Ortodoxos nos anos recentes, e alguns os criticaram por supostas "influências orientais" que eles mostrariam. Essa crítica, enquanto de uma certa maneira parte justificada, em sua maior parte é unilateral e injusta, e conduziu alguns a uma confiança cega nos teólogos ortodoxos de hoje como não contaminados pela "influência ocidental". A verdade do assunto é que a divisão da teologia em "categorias", sua "sistematização" (que o próprio livro presente segue) é um dispositivo bem moderno emprestado do Ocidente, mas como somente uma organização externa do sujeito-assunto da teologia. Padre Michael, ele próprio, defendeu em outro texto esse sistema de teologia pela sua utilidade no ensino da teologia nas escolas contra acusações de "escolaticismo" que são totalmente injustas. Em intenção, esses sistemas são só uma tentativa no século dezanove de fazer o que São João Damasceno fez no século oitavo, e ninguém pode negar que o conteúdo básico desses trabalhos é Ortodoxo).

c. Teologia Dogmática

O trabalho dogmático da Igreja sempre foi dirigido para a confirmação na consciência dos fiéis das verdades da Fé, que foi confessada pela Igreja desde o começo. Esse trabalho consiste em indicar que modo de pensamento tem aquele que segue a Tradição Ecuménica. O trabalho de instrução da Igreja tem sido, batalhar contra as heresias: achar uma forma precisa de expressão das verdades da fé como recebidas da antiguidade e confirmar a correcção do ensinamento da Igreja, fundamentando-o na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição. No ensinamento da fé, é o pensamento dos Santos Apóstolos que foi e permanece sendo o padrão da totalidade e da completude da visão Cristã do mundo. Um Cristão do século vinte não pode desenvolver mais completamente ou ir mais fundo nas verdades da fé do que os Apóstolos. Por isso, qualquer tentativa que é feita — seja por indivíduos ou em nome da própria teologia dogmática — em revelar novas verdades Cristãs, ou novos aspectos dos dogmas que nos foram passados, ou um novo entendimento sobre eles, é completamente fora de propósito. O objectivo da teologia dogmática como um ramo do aprendizado é apresentar, com embasamento firme e provado, o ensinamento Cristão Ortodoxo que nos foi passado.
Certas obras completas de teologia dogmática apresentam o pensamento dos Padres da Igreja em uma sequência histórica. Assim, por exemplo, o acima mencionado «Essay in the Orthodox Dogmatic Theology» pelo Bispo Silvestre é arrumado desse modo. Deve-se compreender que tal método de exposição em Teologia Ortodoxa não tem o propósito de investigar o "desenvolvimento gradual do ensinamento Cristão"; seu objectivo é inerente: é mostrar que a apresentação completa, em sequência histórica das ideias dos Santos Padres da Igreja em todas as épocas ensinaram o mesmo acerca das verdades da fé. Mas, porque alguns deles viram o assunto de um lado, e outra do outro lado, e alguns deles trouxeram argumentos de um tipo, e outros de outro tipo, por isso a sequência histórica dos ensinamentos dos Padres dá uma vista completa dos dogmas da fé e a completude das provas de suas verdades.

Isso não significa que a exposição teológica dos dogmas deva tomar uma forma inalterável. Cada época coloca seu modo de ver, modo de compreender, questões, heresias e protestos contra a verdade Cristã, ou ainda repete coisas antigas que haviam sido esquecidas. A teologia naturalmente leva em consideração as questões de cada época, e coloca as verdades dogmáticas de acordo com isso. Nesse sentido, pode-se falar acerca do desenvolvimento da teologia dogmática como um ramo do aprendizado. Mas não há espaço suficiente para se falar sobre o desenvolvimento Cristão da própria fé.

d. Dogmáticas e fé

Teologia dogmática é para o Cristão que crê. Nem mesmo ela não inspira fé. Mas pressupõe que a fé já exista no coração. "Acreditei, por isso falei" diz um homem justo no Velho Testamento (Sal. 116, 10). E o Senhor Jesus revelou os mistérios do Reino de Deus a Seus discípulos depois que eles acreditaram Nele: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, E nós temos crido e conhecido que Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. (Jo. 6, 68-69). Fé, e mais precisamente fé no Filho de Deus que veio ao mundo, é a pedra fundamental da teologia". "Estes porém foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seus Nome" (Jo. 20, 31), escreve o Apóstolo João no fim do seu Evangelho e ele repete o mesmo pensamento muitas vezes em suas Epístolas: e essas palavras dele expressa a ideia principal de todo os escritos dos Santos Apóstolos: Eu creio. Todo Cristão teologicamente deve começar com essa confissão. Sob essa condição teologizar não é um exercício intelectual abstracto, nem uma dialéctica intelectual, mas uma morda dos pensamentos nas verdades divinas, um direccionamento da mente e coração para Deus, e um reconhecimento do amor de Deus. Para um descrente teologizar é algo sem efeito, pois Cristo, para descrentes é "uma pedra de tropeço e rocha de escândalo" (1 Ped. 28; ver Mt. 21,44).

e. Teologia, Ciência e Filosofia

A diferença entre teologia e ciências naturais, que estão baseadas em observação e experiências é tornada clara pelo facto que a teologia dogmática é baseada em viva e santa fé. Aqui o ponto de início é fé, e lá, experiência. No entanto, as maneiras e métodos de estudo são um só e o mesmo em ambas as esferas; o estudo dos factos, e dedução deles tirada. Só que, nas ciências naturais as deduções são derivadas de factos colectados através da observação da natureza, o estudo da vida dos povos, e criatividade humana; enquanto em teologia as deduções do estudo da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição. As ciência naturais são empíricas e técnicas, enquanto nosso estudo é teológico.
Isso esclarece também a diferença entre teologia e filosofia. Filosofia é erigida sobre bases puramente racionais e sobre ciências experimentais, na extensão que essas últimas sejam capazes de serem usadas para elevadas questões da vida; enquanto teologia é baseada na Revelação Divina. Elas não devem ser confundidas; teologia não é filosofia mesmo quando mergulha nosso pensamento em profundos ou elevados assuntos da fé Cristã que são difíceis de entender.
A teologia não nega nem as ciências experimentais nem a filosofia. São Gregório, o Teólogo considerou que o mérito de São Basílio, o Grande foi dominar a dialéctica à perfeição com a cuja ajuda ele derrotou as construções filosóficas dos inimigos do Cristianismo. Em geral, São Gregório não simpatizava com aqueles que mostravam falta de respeito por aprendizado exterior aos assuntos de Igreja, no entanto, em suas renomadas homilias sobre a Santíssima Trindade, ele assim se coloca: "Assim, tão brevemente quanto possível, eu vos apresentei nosso amor pela sabedoria, que é dogmática e não dialéctica, na maneira dos pescadores e não de Aristóteles, espiritual e não engenhosamente tramada, de acordo com as regras da Igreja e não do mercado" (Homilia 22).
O curso de teologia dogmática é dividido em duas partes básicas: no ensinamento:
1 - Sobre Deus em Si próprio; 2 - Sobre Suas manifestações de si mesmo como Criador, Providência, Salvador do mundo e Aperfeiçoador do destino do mundo.

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


Home / Catecismo Ortodoxo


Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011