Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

14 – Eucaristia (Missa; Fracção do Pão; Santa Ceia)
a - A Eucaristia

A Eucaristia (literalmente “agradecimento”) é o Mistério no qual o pão e o vinho da oferenda são mudados pelo Espírito Santo no verdadeiro Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e então os fiéis recebem a comunhão deles para a mais intima união com Cristo e para a vida eterna. Esse Mistério é então composto de dois momentos separados:
1 - a mudança ou transformação do pão e vinho em Corpo e Sangue do Senhor;
2 - a Comunhão desses Santos Dons.
É chamado de “Eucaristia”, “Ceia do Senhor”, “o Mistério do Corpo e Sangue de Cristo”. O Corpo e Sangue de Cristo nesse Mistério são chamados de “Pão do céu e Cálice da vida” ou “Cálice da Salvação”; eles são chamados de “Santos Mistérios”, de “Sacrifícios não Sangrentos”.
A Eucaristia é o maior Mistério Cristão (Sacramento).

b - As palavras do Salvador sobre esse Mistério

Antes da primeira realização desse Mistério na Mística Ceia (Última Ceia), Cristo prometeu em sua conversa concernente ao Pão da Vida por ocasião da alimentação de cinco mil homens com cinco peixes. O Senhor ensinou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu, se alguém comer desse pão viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo. 6, 51). Os judeus evidentemente entenderam as palavras de Cristo literalmente. Eles começaram a dizer uns aos outros: “Como nos pode dar este a sua carne a comer?” (Jo. 6, 51). E o Senhor não contou aos judeus que eles o haviam entendido erradamente, mas só com maior força e clareza ele continuou a falar com o mesmo significado: “Na verdade, na verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne, e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo. 6, 53-56).
Seus discípulos também entenderam as palavras de Cristo literalmente: “... Ouro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo. 6, 60), eles disseram, o Salvador, como para convencê-los da possibilidade de tal comer miraculoso, indica outro milagre de sua futura Ascensão para o céu: “... Isto escandaliza-vos? Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do Homem, para onde primeiro estava?” (Jo. 6, 61-62). A isso Cristo acrescenta: “É o Espírito que vivifica, a carne que nada aproveita: as palavras que eu vos disse, são Espírito e vida” (Jo. 6, 63). Por essa observação Cristo não pede que suas palavras sobre o Pão da Vida sejam entendidas em qualquer sentido “metafórico”. “Mas há alguns de vós que não crêem” - Ele acrescenta imediatamente (Jo. 6, 64). Por essas palavras o Salvador indica que suas palavras são difíceis para a fé: Como é que os fiéis irão comer seu Corpo e beber seu Sangue? Mas ele confirma que ele fala de seu Corpo real. Suas palavras relativas a seu Corpo e Sangue são “Espírito e vida”. Elas testemunham que:
a - aquele que participa dos dons terá vida eterna, e será ressuscitado para o Reino de Glória no último dia;
b - aquele que participa neles entrará na mais íntima comunhão com Cristo.
Suas palavras não falam de vida na carne, mas de vida no Espírito. “O Pão da Vida e o Cálice da Vida; experimenta e vê que o Senhor é bom” - essas são as palavras que ouvimos na Liturgia dos Dons Pré-Santificados. Essa Comunhão de seu Corpo e Sangue é importante não para o aplacamento da fome física, como foi o alimentar-se com maná no deserto, ou a alimentação dos cinco mil - mas é importante para a vida eterna.

c - O estabelecimento do Mistério e sua execução nos tempos apostólicos

Visto que a pré-indicação do Salvador a respeito do futuro estabelecimento do Mistério da Eucaristia foi dada no Evangelho de João, o real estabelecimento do Mistério é mostrado em três Evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas, e então repetido pelo Apóstolo Paulo.
No Evangelho de São Mateus, no capítulo 26, é dito: “...e quando comiam, Jesus tomou o pão e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos e disse: Tomai, comei isto é o meu Corpo; e tomando o cálice, e dando graças, deu-lhe dizendo: Bebei dele todos, porque este é o meu Sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para a remissão dos pecados” (Mt. 26, 26-28). A mesma coisa é dita no Evangelho de Marcos no capítulo catorze.
No Evangelho de Lucas, o capítulo 22, nós lemos: “E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lhe, dizendo: Isto é o meu Corpo, que por vós é dado; fazei isso em memória de mim. Semelhantemente tomou o cálice, depois da ceia dizendo: este cálice é o Novo Testamento, no meu Sangue que é derramado por vós” (Lc. 22, 19-20).
A mesma coisa que o Evangelista Lucas diz nós lemos na Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, capítulo 11, somente com as palavras prefacias: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei, que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e tendo dado graças, o partiu e disse...” (1 Cor. 11, 23-24).
As palavras do Salvador na Mística Ceia: “Esse é meu Corpo, que é partido por vós; esse é meu Sangue do Novo Testamento derramado por vós para a remissão dos pecados”, são completamente claras e definidas, e não permitem nenhuma outra interpretação que não seja a mais directa, nomeadamente que foram dados aos discípulos o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Cristo. E isso está em completa concordância com a promessa feita pelo Salvador no capítulo sexto do Evangelho de São João a respeito do seu Corpo e do seu Sangue.
Tendo dado comunhão aos discípulos, o Senhor comandou: “Fazei isso em memória de Mim”. Esse sacrifício deve ser realizado “até que ele venha” (1 Cor. 11, 25-26), como o Apóstolo Paulo instrui, isto é, até a segunda vinda do Senhor. Isso recorre também das palavras do Senhor Salvador: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e beberes o seu Sangue, não tereis vida em vós. E de facto, a Eucaristia foi recebida na Igreja desde os primeiros dias como o maior dos Mistérios; a instituição dela é preservada com o maior cuidado e reverência; e é realizada e será realizada até o final do mundo.
A respeito da execução da Eucaristia nos tempos Apostólicos na Igreja de Cristo, podemos ler nos Actos dos Apóstolos (2, 42-46; 20, 6-7), e no Apóstolo Paulo no 10º e 11º capítulos da Primeira Epístola aos Coríntios. O Apóstolo Paulo escreve: “Porventura o cálice de bênção que abençoamos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? O pão que partimos não é por ventura a comunhão do Corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo: porque todos participamos do mesmo pão” (1 Cor. 10, 16-17). E de novo: “Porque todas as vezes que comerdes esse pão e beberdes esse cálice anunciais a morte do Senhor até que venha. Portanto, qualquer que comer esse pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o Corpo do Senhor. Por causa disto, há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (1 Cor. 11, 26-30). Nas palavras citadas o Apóstolo nos instrui com que reverência e auto-análise preparatória um Cristão deve se aproximar da Eucaristia, e ele deixa claro que isso não é simples comida e bebida, mas a recepção do verdadeiro Corpo e do verdadeiro Sangue de Cristo.
Estando unidos com Cristo na Eucaristia, os fiéis que recebem a Comunhão estão unidos também uns com os outros: “Porque nós, sendo muitos somos um só pão e um só corpo: porque todos participamos do mesmo Pão”.

d - A mudança do pão e vinho no Mistério da Eucaristia

No Mistério da Eucaristia, no momento em que o Presbítero, invocando o Espírito Santo sobre os dons oferecidos, os abençoa com a oração para Deus o Pai: “Faz desse pão o Corpo precioso do Teu Cristo; e do que contem esse cálice o Sangue precioso do Teu Cristo; mudando-os pelo poder do Teu Espírito Santo” - o pão e o vinho na verdade são Cristo; mudados em Corpo e Sangue pela descida do Espírito Santo. Depois desse momento, apesar de nossos olhos verem pão e vinho sobre o Altar, na sua verdadeira essência, invisível para os olhos sensoriais, isto é o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Jesus Cristo, somente sob as “formas” de pão e vinho.
Assim os Dons santificados:
1 - não são só sinais ou símbolos, lembrando os fiéis da redenção; como o reformador Zwingli ensinou;
2 - não é só por sua “actividade e poder” (“dinamicamente”) que Jesus Cristo está presente neles, como Calvino ensinou;
3 - ele não está presente só no sentido de “penetração”, como os luteranos ensinam (que reconhecem a co-presença de Cristo “com o pão, na forma de pão, no pão”). Mas os dons santificados no Mistério são mudados ou (um termo mais tardio) “transubstanciados” (o termo “transubstanciação” vem da Escolástica medieval latina seguindo as categorias Aristotelianas. “Transubstanciação” é uma mudança de da “substância” ou realidade intrínseca interior dos Santos Dons sem mudanças dos “acidentes” ou aparência de pão e vinho. A Teologia Ortodoxa no entanto, não tenta “definir” esse mistério em termos de categorias filosóficas e assim prefere a palavra simples “mudança”) ao verdadeiro Corpo e verdadeiro Sangue de Cristo, como o Salvador disse: “Porque minha Carne verdadeiramente é comida, e o meu Sangue verdadeiramente é bebida” (Jo. 6, 55).
Essa verdade é expressa na Encíclica dos Patriarcados Orientais nas seguintes palavras: “Nós acreditamos que nesse rito sagrado Nosso Senhor Jesus Cristo está presente não simbolicamente (typicos), não figurativo (eikonikos), não por uma abundância de graça, como em outros Mistérios, não por uma simples descida, como certos Padres falam a respeito do Baptismo, e não por uma “penetração” no pão, de modo que a Divindade do Verbo pudesse “entrar” no pão oferecido para a Eucaristia, como os seguidores de Lutero explicam desastrada e indignamente - mas verdadeiramente e realmente, de maneira que após a santificação do pão e do vinho, o pão é mudado, transubstanciado, convertido, transformado, no real e verdadeiro Corpo de Cristo, que nasceu em Belém da Sempre Virgem Maria, que foi baptizado no Jordão, sofreu, foi sepultado, ressuscitou, ascendeu, e sentou-se à direita de Deus Pai, e vai aparecer nas nuvens do céus; e o vinho é mudado e transubstanciado no real e verdadeiro Sangue do Senhor, que na hora do seu sofrimento na Cruz foi derramado pela vida do mundo. Ainda de novo, nós acreditamos que depois da santificação do pão e do vinho não mais permanecem o pão e o vinho, mas o verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor, sob a aparência e forma de pão e vinho”.
Tal ensinamento sobre o Santo Mistério da Comunhão pode ser encontrado em todos os Santos Padres, começando com os mais antigos, tais como Inácio, o Teóforo, e outros antigos escritores como São Justino, o Filósofo. No entanto, em muitos dos escritores antigos esse ensinamento não é expresso em termos completamente precisos, e em algumas expressões parece existir uma interpretação quase simbólica (alguma coisa que os Protestantes apontam). No entanto, esses modos de expressão em parte devem ser explicados pelos objectivos polémicos que esses escritores tinham em mente: por exemplo, Orígenes estava escrevendo contra uma crua atitude sensorial para com o Mistério; Tertuliano estava combatendo a heresia de Marciano; e os apologistas estavam defendendo as verdades Cristãs contra os pagãos, mas sem conduzi-los às profundezas dos mistérios.
Os Padres que participaram no Primeiro Concilio Ecuménico confessaram: “Na Mesa Divina (altar) nós não devemos ver simplesmente o pão e o cálice que foram oferecidos mas elevando nossas mentes, nós devemos compreender que na Mesa sagrada jaz o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, Que é oferecido em Sacrifício pelo presbítero; e verdadeiramente recebendo Seu Precioso Corpo e Sangue, nós devemos acreditar que isso é um sinal de nossa Ressurreição”.
De modo a mostrar e explicar a possibilidade de tal transformação do pão e do vinho pelo poder de Deus no Corpo e Sangue de Cristo, os antigos pastores indicavam a Omnipotência do Criador e as obras especiais de sua omnipotência: a criação do mundo a partir do nada, o mistério da Encarnação, os milagres registrados nos livros sagrados, e em particular a transformação de água em vinho (São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Cirilo de Jerusalém, São João Damasceno, entre outros). Eles também indicavam como em nós o pão e o vinho ou água tomados por nós são convertidos, de maneira desconhecida, em nosso corpo e sangue (São João Damasceno).

e - A maneira pela qual Jesus Cristo permanece nos Santos Dons

1 - Apesar do pão e do vinho serem transformados no Mistério no Corpo e Sangue do Senhor, ele está presente nesse Mistério com todo o seu ser, isto é, com a sua alma e com a sua Divindade, que é inseparavelmente unida à sua humanidade.
2 - Apesar, de depois, o Corpo e o Sangue do Senhor serem partidos no Mistério da Comunhão e distribuídos, ainda acreditamos que em cada parte - mesmo na menor partícula - dos Santos Mistérios, aqueles que recebem Comunhão recebem o inteiro Cristo em seu ser, isto é, em sua Alma e Divindade, como perfeito Deus e perfeito homem. Essa fé da Igreja é expressa nas palavras do Presbítero no partir do Santo Cordeiro: “O Cordeiro de Deus é partido e distribuído; é partido mas não dividido, comido mas nunca consumido, santificando aqueles que O recebem em comunhão”.
3 - Apesar de ao mesmo tempo haverem muitas Santas Liturgias no universo, no entanto não existem muitos Corpos de Cristo, mas um só e o mesmo Cristo está presente e é dado em seu corpo em todas as Igrejas aos fiéis.
4 - O pão do ofertório, que é preparado separadamente em cada Igreja, depois de sua santificação torna-se um e o mesmo com o Corpo que está nos céus.
5 - Depois da transformação do pão e do vinho no Mistério da Eucaristia no Corpo e Sangue, eles não mais voltam à sua natureza anterior, mas permanecem o Corpo e o Sangue do Senhor para sempre, sejam ou não consumidos pelos fiéis. Por isso a Igreja desde a antiguidade tem tido o costume de realizar em certos dias a Liturgia precedente, permanecem o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo. Há também desde a antiguidade o costume de preservar os Dons santificados em vasos sagrados de modo a se dar a comunhão aos moribundos. É bem conhecido que na Igreja antiga existia o costume de enviar os Dons santificados pelos Diáconos para os Cristãos que não estavam em condição de receber a Comunhão dos Santos Dons na Igreja, por exemplo, aqueles que se encontravam na prisão e os penitentes. Com frequência na antiguidade os fiéis traziam os Santos Dons com reverência das Igrejas para as suas casas, e os ascetas pegavam os Dons e os levavam para o deserto para receber a Comunhão.
6 - Porque para o Deus homem, Cristo é adequado oferecer uma única e inseparável divina adoração, tanto para a sua divindade quanto para a sua humanidade, como consequência da sua inseparável união, dever-se-ia dar para os Santos Mistérios da Eucaristia a mesma honra e adoração que nós somos obrigados a dar para o Senhor Jesus Cristo.

f - A Eucaristia e a Cruz

O Sacrifício Eucarístico não é uma repetição do Sacrifício do Salvador na Cruz, mas é uma oferta do Corpo e Sangue sacrificado uma vez oferecido pelo nosso Redentor na Cruz, por Ele Que “é sempre comido, mas nunca consumido”. O sacrifício do Gólgota e o Sacrifício da Eucaristia são inseparáveis, compreendendo um único Sacrifício; mas ao mesmo tempo devem ser distinguidos um do outro. Eles são inseparáveis; eles são uma e a mesma árvore dadora de graça e vida plantada por Deus no Gólgota, mas preenchendo com seus ramos místicos toda Igreja de Deus, e até o fim dos tempos nutrindo por seus frutos salvíficos todos aqueles que buscam a vida eterna. Mas eles têm também que ser distinguidos: o Sacrifício oferecido na Eucaristia é chamado “sem sangue” e “sem paixão”, já que é realizado após a Ressurreição do Salvador, que “... havendo Jesus Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre: a morte não mais terá domínio sobre ele” (Rom. 6, 9). É oferecido sem sofrimento, sem derramamento de sangue, sem morte, apesar de ser realizado em lembrança do sofrimento e morte do Divino Cordeiro.

g - O significado da Eucaristia como um sacrifício

É um sacrifício de louvação e agradecimento. O Presbítero que celebra o Sacrifício sem sangue de acordo com o rito da Liturgia de São Basílio e de São João Crisóstomo, antes da santificação dos Dons lembra em suas orações secretas as grandes obras de Deus; ele glorifica e dá graças a Deus na Santíssima Trindade por chamar o homem da não-existência, por seu grande e variado cuidado com o homem depois de sua queda, e pela economia de sua Salvação através do Senhor Jesus Cristo. Da mesma forma todos os Cristãos presentes na Igreja, nesses santos momentos glorificando a Deus, clamam a Ele: “Nós Te louvamos, nós Te bendizemos, nós Te damos graças, ó Senhor”.
A Eucaristia é da mesma forma um Sacrifício propiciatório para todos os membros da Igreja. Dando aos seus discípulos, seu Corpo, o Senhor disse dele próprio: “Que é partido por vós”; e dando seu sangue ele acrescenta: “Que é derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”. Portanto, desde o início do Cristianismo o Sacrifício sem Sangue foi oferecido para a lembrança tanto dos vivos quanto dos mortos e para a remissão dos seus pecados. Isso é evidente dos textos de todas as Liturgias, começando com a Liturgia do Santo Apóstolo Tiago, e esse sacrifício é frequentemente chamado directamente nesses textos de sacrifícios de propiciação.
A Eucaristia é um sacrifício que no modo mais íntimo une todos os fiéis em um Corpo em Cristo. Por isso, depois da transformação dos Santos Dons assim como antes da «proskomídia», o Presbítero relembra a Santíssima «Theotokos» e todos os santos, acrescentando: “por suas orações, salva-nos, ò Deus”; e aí ele vai para a comemoração dos vivos e dos mortos - a Igreja de Cristo completa.
A Eucaristia é também o sacrifício de súplica: pela paz das Igrejas, pela boa condição do mundo, pelas autoridades, por aquele com enfermidades e trabalhos, por todos que pedem ajuda - “e por todos os homens e mulheres”.

h - Conclusões de um carácter litúrgico

Dos relatos do Evangelho e dos escritos dos Apóstolos e da prática da Igreja antiga, deve-se tirar as seguintes conclusões:
a - na Eucaristia, como aos Apóstolos foram dados na Mística Ceia, assim também deve ser dado aos fiéis não só o Corpo de Cristo, mas também o Sangue de Cristo. “Bebei todos dele”, ordena o Salvador (Mt. 26, 27). “Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba desse cálice” (1 Cor. 10, 17). (Isso não é observado na Igreja Católica Apostólica Romana, onde os leigos são privados do Cálice com o preciosíssimo Sangue).
b - “Porque todos participamos do mesmo pão” (1 Cor. 10, 17), escreve o Apóstolo. Na Igreja antiga toda comunidade participava de um único pão, e na Liturgia Ortodoxa é abençoado e partido um pão, assim como um Cálice é abençoado. (A bênção de “um” pão foi também violada pela Igreja Católica Apostólica Romana no segundo milénio)
c - Em todas as passagens da Sagrada Escritura onde o pão da Eucaristia é mencionado, o pão é chamado de «artos» em grego (Jo. 6; Evangelho de Mateus, Marcos, Lucas, no Apóstolo Paulo e nos Actos dos Apóstolos). «Artos» usualmente significa o pão de trigo que cresceu com o uso de fermento (“não fermentado” é expresso em grego pelo adjectivo «azymus»): é sabido que nos tempos apostólicos - isto é, do início mesmo, da sua instituição - a Eucaristia era celebrada durante o ano todo, semanalmente, quando os judeus preparavam o pão ázimo; isso significa que era celebrada, mesmo nas comunidades judaico-cristãs, com pão fermentando. Mas ainda isso pode ser dito das comunidades de Cristãos convertidos do paganismo, para quem a lei a respeito de pão ázimo era inteiramente estranha. Na Igreja dos primeiros Cristãos o material para o Mistério da Eucaristia, como é bem sabido, era igualmente pego nas oferendas do poço, que, sem nenhuma dúvida, trazia para a Igreja de suas casas o pão usual, fermentado; ele era destinado para ser usado, ao mesmo tempo, nas festas-de-amor (ágape) e para ajudar os pobres.

i - A necessidade da Comunhão

Receber a comunhão do Corpo e Sangue do Senhor é essencial, necessário, salvífico e consolador e é obrigação de todo Cristão. Isso é evidente nas Palavras do Salvador que ele proclamou quando dando a promessa a respeito do Mistério da Eucaristia: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...” (Jo. 6, 53-54).
Os frutos salvíficos ou efeitos do Mistérios da Eucaristia, se nós comungamos dignamente, são os seguintes: ele nos une da maneira mais íntima com o Senhor: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em mim, e eu nele” (Jo. 6, 56).
Ele nutre nossa alma e corpo e ajuda em nossa fortificação, melhora o crescimento na vida espiritual: “Assim quem de mim se alimenta, também viverá por mim” (Jo. 6, 57).
Tendo recebido igualmente, ele serve para nós como fiança da futura ressurreição e da vida abençoada eternamente: “quem comer este pão viverá para sempre” (Jo. 6, 58).
No entanto, devesse lembrar que a Eucaristia oferece esses frutos salvíficos somente para aqueles que dela se aproximam com fé e arrependimento; mas uma participação indigna no Corpo e Sangue de Cristo traz é muito mais condenação: “Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o Corpo do Senhor” (1 Cor. 11, 29).

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011