Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

5 - Deus e a Salvação do Homem
a - A economia de nossa salvação

“Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade. E predestinou para filhos de adopção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, que Ele fez abundar para connosco em toda a sabedoria e prudência, descobrindo-nos o mistério da sua vontade segundo o seu beneplácito que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef. 1, 3-10).
" Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo. 3, 16).
" Mas Deus, que riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando ainda nós mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo" (Ef. 2, 4-5).
" Nisto está a caridade, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação dos nossos pecados... Nós o amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro" (1 Jo. 4, 10-19).
Deus, pré-conhecendo a queda dos homens, pré-ordenou a salvação dos homens, mesmo "antes da fundação do mundo" (Ef. 1, 4). A Palavra de Deus chama ao Salvador de Cordeiro de Deus "ainda antes da fundação do mundo" (1 Ped. 1, 20).

b - A preparação para receber o Salvador

"Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para reunir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adopção de filhos" (Gál. 4, 45).
No que consiste essa "plenitude dos tempos" que foi ordenada, para o trabalho da redenção? Nos versículos que precedem as citadas palavras do Apóstolo Paulo na Epístola aos Gálatas, o Apóstolo fala do tempo antes da vinda do Salvador como sendo "quando éramos meninos" (Gál. 4, 3). Assim, ele chama o período do Velho Testamento de "infância", o tempo do desenvolvimento, a condução das crianças sob a Lei de Moisés, enquanto que a vinda do Salvador é o fim da "infância".
Nós podemos entender o significado desse período preparatório se nós formos guiados pela parábola do Filho Pródigo. O pai entristecido pela partida de sua casa de seu amado filho. No entanto, sem violar a dignidade e a liberdade de seu filho, ele esperou até que o filho, tendo experimentado o amargor do mar e tendo lembrado da bondade da vida na casa do pai, ele próprio ficou saudoso da casa do pai e abriu a sua alma para o amor do pai. Assim foi com a raça humana também. "Minha alma tem sede de ti, como terra sedenta" (Sal. 143, 6), poderia ter sido dito pela melhor parte da humanidade; ela tornou-se uma "terra sedenta", tendo experimentado até os restos, o amargor do afastamento de Deus. O Senhor não abandonou os homens, não os mandou completamente embora, mas do momento da queda no pecado conduziu-os para a futura salvação.

1 - Tendo cortado a criminalidade da humanidade original pelo Dilúvio, o Senhor, em primeiro lugar escolheu dos descendentes de Noé, que foram salvos do Dilúvio, uma raça para a preservação da piedade e da fé, e também da fé na vinda do Salvador. Essa foi a raça de Abraão, Isaac e Jacob, e então de todo o povo hebreu. Em seu cuidado com seu povo escolhido, Deus conduziu-os para fora da escravidão, preveniu-os, castigou-os pedagogicamente, e de novo teve misericórdia, conduzindo-os para fora do cativeiro babilónico, e finalmente, do meio deles preparou a escolhida, que veio a ser a Mãe do Filho de Deus.
A escolha do povo hebreu foi confirmada pelo Senhor Jesus Cristo quando Ele disse: "...a salvação vem dos judeus" (Jo. 4, 22). Os escritos dos Apóstolos testificam abundantemente a mesma coisa: o discurso do primeiro mártir Estêvão e o Apóstolo Pedro no Livro dos Actos, as Epístolas do Apóstolo Paulo aos Romanos e aos Gálatas, e outros lugares na Sagrada Escritura.

2 - Além disso, a preparação para a recepção do Salvador, consistia em: a) as promessas confortadoras de Deus, e b) as profecias dos profetas a respeito de Sua vinda.
a - As promessas de Deus começaram no Paraíso. As palavras do Senhor para a serpente concernentes "a semente da mulher" possuem um significado místico: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gén. 3, 15). A promessa feita aqui a respeito da semente da mulher tornou-se ainda mais clara para os escolhidos da fé com o crescimento das profecias acerca do Salvador que ele próprio suportaria sofrimentos da violência do diabo (Sal. 21, 11), e o derrubaria: "e foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás que enganava todo mundo. Ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele" (Apc. 12, 9).
Além disso existia a promessa para Abraão: "E em tua semente serão benditas toda as nações da terra" (Gén. 22, 18) - Uma promessa repetida para Isaac e Jacob (Gén. 26, 4; 28, 14). O seu autêntico significado foi também gradualmente revelado aos judeus, durante o período de seu cativeiro e outros infortúnios, como sendo a promessa do Salvador do mundo.
b - Profecias: a bênção de Judá e do Patriarca Jacob, abençoando um de seus filhos logo antes de sua morte, proferiu uma profecia ainda mais definida sobre o Salvador: "O ceptro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló, e a ele se congregarão os povos" (Em hebreu Siló significa Reconciliador). Em outras palavras, a autoridade da tribo de Judá não cessará até que o Reconciliador, a esperança das nações, venha, e consequentemente, a terminação da autoridade da tribo de Judá será um claro sinal da vinda do Salvador. Os antigos professores viam no Reconciliador o esperado Messias, a quem eles aplicaram o nome Siló.
Outra profecia consiste nas palavras de Moisés para seu povo: "O Senhor teu Deus despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos como eu; a ele ouvireis" (Deut. 18, 15). Depois de Moisés existiram muitos grandes profetas entre os hebreus mas a nenhum deles as palavras de Moisés se referiam: "E nunca mais se levantou em Israel profeta algum igual a Moisés" (Deut. 34, 10). O próprio Senhor Jesus Cristo referiu-se às palavras de Moisés sobre Si: "Porque, se vós acreditásseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele" (Jo. 5, 46).
Vieram então numerosas profecias na forma de prefiguração nos Salmos, dos quais o mais expressivo é o Salmo 22 que os antigos rabinos reconheciam como um hino ao Messias. Ele inclui uma descrição dos severos e atormentadores sofrimentos que o Salvador suportou na Cruz: "Deus, Deus meu, porque me desamparaste? Todos os que vêem zombam de mim, estendem os beiços e meneiam a cabeça dizendo: confio no Senhor, que o livre... Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram... Repartem entre si os meus vestidos, e lançam sorte sobre a minha túnica...." Próximo do fim do Salmo estão estas palavras que concernem ao triunfo da Igreja: "O meu louvor virá de ti na grande Congregação (Igreja): pagarei os meus votos ... Os mansos comerão e se fartarão... o vosso coração viverá eternamente".
Numerosos outros Salmos contem tais profecias e prefigurações. Alguns deles proclamam os sofrimentos do Salvador (Sal. 40, 69, 109, 41, 16, 8), enquanto outros proclamam a sua glória (Sal. 2, 110, 45, 68, 118, 97, 95).
Finalmente, perto do fim do período do Velho Testamento, numerosas profecias apareceram nos livros dos assim chamados maiores e menores profetas, e esses ainda mais claramente revelaram a eminente vinda do Filho de Deus. Eles falaram do precursor do Senhor, do tempo, lugar e condições do nascimento do Salvador de Sua imagem espiritual-corporal (sua docilidade, humildade e outras características), dos eventos que precederiam a traição do Senhor, de seus sofrimentos e Ressurreição, na descida no Espírito Santo, do carácter do Novo Testamento, e de outros aspectos da vinda do Senhor.
Entre essas profecias um lugar especial pertence ao capítulo cinquenta e três do profeta Isaias, que dá uma imagem do sofrimento do Salvador na Cruz. Eis como Isaías prefigura os sofrimentos redentores do Messias, Cristo: "Quem deu crédito a nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como renovo perante Ele, e como raiz de uma terra seca, não tinha parecer nem formosura; e olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos: e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras formos sarados. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez criar sobre Ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido, mas não abriu a sua boca: como um cordeiro foi conduzido ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os tosquiadores, ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo de sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes: pela transgressão do meu povo ele foi atingido... e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercede" (Isaías 53, 1-8.12).
No profeta Daniel nós lemos a revelação dada a ele pelo Arcanjo Gabriel a respeito das setentas semanas - o período de tempo da restauração de Jerusalém antes de Cristo, até Sua morte e a cessação do Velho Testamento, isso é, a cessação dos sacrifícios no Templo de Jerusalém (Daniel 9, 24-27).
Essas promessas e profecias, antes de tudo, deram suporte ao povo escolhido, especialmente durante os períodos difíceis de suas vidas; elas deram suporte para sua firmeza, fé e esperança. Segundo, elas preparam o povo de modo que eles fossem capazes de reconhecer por essas profecias que o tempo da promessa estava perto, e que eles viessem a reconhecer o Salvador na forma dada a ele pelos profetas.
Graças a essas profecias, quando o tempo da vinda do Salvador aproximava-se, a expectativa sobre ele esteve intensa e vigilante entre os pios judeus. Vemos isso nos Evangelhos. Isso é revelado na expectativa de Simeão, o Receptor de Deus, para quem foi declarado que ele não veria a morte até que ele tivesse contemplado Cristo, o Senhor (Lc. 2, 26). Também é revelado na resposta da mulher samaritana ao Salvador: "Eu sei que o Messias vem; quando ele vier nos anunciará tudo" (Jo. 4, 25). É revelado nas perguntas dos Judeus que vieram para João Baptista: "És Tu o Cristo?" (Jo. 1, 20-25); nas palavras endereçadas por André, o primeiro chamado Apóstolo, depois dos seus encontros com Cristo, a seu irmão Simão: "Achamos o Messias" (Jo. 4, 41), e igualmente nas palavras similares de Filipe para Natanael no relato do evangelista sobre seu chamado ao apostolado (Jo. 1, 44-45). Outro testemunho foi a atitude do povo no tempo da entrada do Senhor em Jerusalém.

3. Ao que foi dito acima deve ser acrescentado o facto que não foram só os judeus que estavam sendo preparados para a recepção do Salvador, mas também o mundo inteiro, apesar de ser um grau menor.
Mesmo no mundo pagão estavam preservados - ainda que numa forma distorcida - tradições relativas à origem e a originalmente abençoada condição da humanidade (a era de ouro), concernentes à queda de nossos primeiros ancestrais no Paraíso, a respeito do Dilúvio como consequência da corrupção do homem e mais importante de tudo, - a tradição vinda de um Redentor da raça humana e a expectativa de sua vinda, como pode ser visto nas palavras de Platão, Plutarco, Virgílio, Ovídio, Strabo e igualmente na história das religiões do mundo antigo (por exemplo as predições das sibilas [As sibilas eram videntes pagãs cujos oráculos e predições eram altamente consideradas na Roma pagã. Esses oráculos referiam-se em sua maioria ao destino dos povos, reinos e dirigentes, e alguns deles tocaram na vinda de Cristo] das quais nós lemos em Cícero e Virgílio).
Os pagãos tiveram contacto com o povo escolhido por meio de mútuas visitas, viagens marítimas, guerras, cativeiro de judeus (especialmente os cativeiros assírio e babilónico), e comércios, e graças a dispersão dos judeus nas várias nações das três partes do mundo antigo até o fim do período do Velho Testamento. Sob essas condições, a luz da fé num Deus único e a esperança em um Redentor, pôde ser espalhada para outros povos também.
Mais de dois séculos antes da natividade de Cristo, uma tradução dos livros sagrados foi feita para o grego, e muitos estudiosos pagãos, escritores e povo educado em geral fez uso dela; há vários testemunhos disso, particularmente entre os antigos escritores Cristãos.
Sabemos da Sagrada Escritura que fora o povo escolhido existiram também outros povos que preservaram a fé no Deus único e estavam no caminho de aceitar a piedade. Nós aprendemos isso no relato de Melquisedec no Livro do Génesis (Gen. 14, 18). Na história de Job, no relato do sogro de Moisés, Jetro de Midian (Ex. 18), no relato de Balaam, que profetizou a respeito do Messias: "Vê-lo-ei mas não agora; contemplá-lo-ei mas não de perto" (Num. 24, 17), e no arrependimento dos Ninivitas após a pregação de Jonas. O estar pronto de muitas das melhores pessoas do mundo pagão para a recepção das boas novas do Salvador também é atestado pelo fato que pela pregação dos Apóstolos, da Igreja de Cristo foi rapidamente implantada em todo povo do mundo pagão, e que às vezes o próprio Cristo encontrou em pagãos uma fé que Ele não encontrou nos próprios judeus.
" Mas, vindo à plenitude dos tempos" (Gal. 4, 4), ou, em outras palavras: Quando a raça humana, seguindo após Adão, experimentou completamente, espiritualmente falando, da árvore do conhecimento do bem e do mal, e chegou a conhecer em experiência a doçura de fazer o bem e o amargor de fazer o mal; quando a maioria da humanidade atingiu um grau externo de impiedade e corrupção; quando a melhor, ainda que menor parte da humanidade estivesse com uma especialmente grande sede, esperando e desejando ver o prometido Redentor, Reconciliador, Salvador, Messias; quando, finalmente pela vontade de Deus, as condições políticas já estavam prontas porque o todo da parte civilizada tinha sido unida sob autoridade de Roma - algo que favoreceu fortemente o espalhamento da fé e da Igreja de Cristo. Então o prometido e esperado Filho de Deus veio para a terra.

c - A encarnação do Filho de Deus

"No princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez... E o verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo. 1, 1-3.14). Assim o Evangelista João anuncia as boas novas e teologiza as primeiras linhas do seu Evangelho. A Igreja Ortodoxa coloca este relato acima de todas as leituras do Evangelho, oferecendo-o a nós na Divina Liturgia do dia da Santa Páscoa, e começando o ciclo anual de leituras do Evangelho com este relato.
" Grande é o mistério da piedade: Deus manifestou-se em carne" (1 Tim. 3, 16). O inexprimível, o incognoscível, invisível, inatingível Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tornou-se homem na forma de Deus-Homem, o Senhor Jesus Cristo, e habitou entre os homens da terra.
A pregação do Deus-Homem do encarnado Filho de Deus constitui o conteúdo das Palavras do Salvador, o conteúdo da totalidade da mensagem das boas novas anunciadas pelos Apóstolos, a essência dos quatros Evangelhos e de todos os escritos Apostólicos, a base do Cristianismo, e a base do ensinamento da Igreja.

d - O Senhor Jesus Cristo: Deus verdadeiro

As boas novas do Evangelho são as boas novas do encarnado Filho de Deus que tornou-se homem, tendo nascido do céu para a terra.
Fé em Jesus Cristo - que Ele é o Filho de Deus - é a base firme ou rocha da Igreja, segundo as próprias palavras do Senhor: "Sobre essa pedra edificarei a minha Igreja" (Mt. 16, 18).
Com essas boas novas o Apóstolo Marcos começa seu relato: "Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus" (Mc. 1, 1).
Com essa mesma verdade de fé o Evangelista João conclui o texto principal de seu Evangelho: "estes porém foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida sem seu nome" (Jo. 20, 31); isto é a pregação da divindade, Jesus Cristo é o objectivo do Evangelho todo.
" ...o Santo, que de Ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lc. 1, 35) - o Arcanjo Gabriel dirigindo-se à Virgem Maria.
No Baptismo do Salvador essas palavras foram ouvidas "Este é meu Filho amado..." a mesma coisa foi repetida na transfiguração do Senhor (Mt. 3, 17; 17, 5).
Simão confessou: "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo" (Mt. 16, 16), e essa confissão serviu para a promessa que a Igreja de Cristo seria construída sob a pedra dessa confissão.
O próprio Senhor Jesus Cristo testificou que Ele é o Filho de Deus Pai: "Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt. 11, 27). Aqui Cristo fala de si próprio como o único Filho do único Deus Pai.
De maneira que as palavras, "O Filho de Deus" não venham a ser entendidas num sentido metafórico ou condicional, a Sagrada Família junta a elas a expressão, "unigénito" - isto é o Único gerado do Pai; "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo. 1, 14.18). "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo. 3, 16).
Da mesma forma a Sagrada Escritura usa a palavra "verdadeiro", chamando Cristo o Verdadeiro Filho do Verdadeiro Deus: "E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo. 5, 25).
Similarmente, as palavras "próprio Filho": "Ele que nem mesmo a seu próprio Filho (em grego «idion») poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele em toda as coisas?" (Rom. 8, 32).
O Filho Unigénito de Deus é o Deus verdadeiro mesmo enquanto em carne humana: "Dos quais (isto é, os israelitas) são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente: Amén" (Rom. 9, 5).
Assim, a divindade completa permanece na forma humana de Cristo: "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Col. 2, 9).
O primeiro Concílio Ecuménico de Nicéia foi convocado para a confirmação dessa verdade na clara consciência de todos os Cristãos, como a base da Fé Cristã, e para esse propósito ele compôs o Símbolo da Fé (o Credo) da Igreja Ecuménica.

e - A natureza humana do Senhor Jesus Cristo

Sendo Deus perfeito, Cristo o Salvador é ao mesmo tempo também homem perfeito. Como homem, Cristo nasceu quando para Maria, Sua mãe; "cumpriram-se os dias em que ela havia de dar a luz" (Lc. 2, 6). Ele gradualmente "crescia e se fortalecia em espírito" (Lc. 2, 40). Como Filho de Maria, ele: "era sujeito a ela e a seu esposo" (Lc. 2, 51). Como homem, ele foi Baptizado por João no Jordão: Ele foi pelas cidades e vilas com a pregação da salvação; nenhuma vez antes da sua Ressurreição ele encontrou necessidade de provar a sua humanidade a ninguém. Ele experimentou fome e sede, a necessidade de descanso e de sono, e sofreu dolorosos sentimentos e sofrimentos físicos.
Vivendo a vida física natural de um homem, o Senhor também viveu a vida da alma como homem. Ele fortificou os seus poderes espirituais com o jejum e oração. Ele expressou sentimentos humanos: alegria, raiva, tristeza; e expressou-os exteriormente: "Ele turbou-se em espírito" (Jo. 13, 21), mostrou insatisfação, derramou lágrimas por exemplo, na morte de Lázaro. Os Evangelistas revelam-nos uma forte batalha no Jardim de Getsemani na noite antes de ser preso pela guarda: "minha alma está cheia de tristeza até a morte" (Mt. 26, 38). Assim o Senhor descreve o estado da sua alma aos seus discípulos.
A racional e consciente vontade humana de Jesus Cristo, sem falha alguma, colocou todos os esforços humanos em submissão à vontade divina. Uma surpreendente e evidente imagem disso é dada na Paixão do Senhor, que começou no Jardim de Getsemani: "Meu Pai, se é possível passe de mim esse cálice; toda via, não seja como eu quero, mas como tu queres" (Mt. 26, 39). "Não se faça a minha vontade, mas a tua" (Lc. 22, 42).
A respeito da verdade da natureza humana completa do Salvador, os Santos Padres da Igreja falam assim: "Se a natureza que ele recebeu não tivesse uma mente humana, então quem teria entrado em batalha com o diabo teria sido o próprio Deus; e então teria sido Deus quem teria tido a vitória. Mas se Deus tivesse sido o vitorioso, então eu que de todo não participei dessa vitória, não receberia nenhum, não receberia nenhum benefício gabando-me de um troféu de outro alguém" (São Cirilo de Alexandria). "Se o homem vindo fosse uma visão então a salvação seria um sonho" (São Cirilo de Jerusalém). Outros Santos Padres expressam-se similarmente.

f - Os erros a respeito das duas naturezas de Jesus Cristo

A Igreja sempre guardou estritamente o ensinamento correcto das duas naturezas do Senhor Jesus Cristo, vendo nisso uma condição indispensável da fé, sem a qual a salvação é impossível.
Os erros a respeito desse ensinamento têm sido vários, mas eles podem ser reduzidos a dois grupos: num, nós vemos a negação ou diminuição da Divindade de Jesus Cristo, em outro nós vemos a negação ou diminuição de Sua Humanidade.

a - Como já foi mencionado no capítulo da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o espírito da descrença dos judeus na Divindade de Cristo, a negação da sua Divindade, reflectiu-se na era Apostólica na heresia de Ebion, de quem esses heréticos receberam o nome de Ebionistas. Um ensinamento similar foi espalhado no século terceiro por Paulo de Samosata, que foi denunciado por dois Concílios de Antioquia. Ligeiramente diferente foi o falso ensinamento de Arius e das várias correntes Arianas no século IV. Eles ensinaram que Cristo não era um simples homem, mas o Filho de Deus, criado e não gerado, e o mais perfeito de todos os espíritos criados. A heresia de Arius foi condenada no Primeiro Concílio Ecuménico em 325, e o Arianismo foi refutado em detalhe pelos mais renomeados Padres da Igreja durante o curso dos séculos IV e V.
No século V levantou-se a heresia de Teodoro de Mopsuestia, que foi apoiada por Nestório, Arcebispo de Constantinopla. Eles reconheciam ser o Senhor Jesus Cristo o único "portador" do princípio divino, e assim eles atribuíam a Santíssima Virgem Maria o título de «Christotokos» (Mãe de Cristo), mas não de «Theotokos» (Mãe de Deus). De acordo com Nestório, Jesus Cristo unia em si duas naturezas e duas pessoas diferentes, divina e humana, que tocavam uma na outra mas eram separadas; e após seu nascimento, ele era homem, mas não Deus. São Cirilo de Alexandria apresentou-se como o principal acusador de Nestório. O Nestorianismo foi acusado e condenado pelo Terceiro Concílio Ecuménico (431).

b - O outro grupo errou ao negar ou diminuir a humanidade de Jesus Cristo. Os primeiros heréticos nesse tipo foram os Docetidas, que entendiam serem a carne e a matéria um princípio maligno ao qual Deus não podia se juntar. Por isso eles consideravam que a carne de Cristo era tão somente pretensa ou "parecida" (grego «dokeo», "parecer").
No tempo dos Concílios Ecuménicos. Apolinário, Bispo de Laodicéia, ensinava erroneamente a respeito da humanidade do Salvador. Apesar de reconhecer a realidade da Encarnação do Filho de Deus em Jesus Cristo, ele afirmava que a Sua humanidade era incompleta. Afirmando a composição tripartida da natureza humana, ele ensinava que Cristo tinha uma alma e um corpo humanos, mas que o Seu espírito (ou "mente") não era humano mas divino e que esse espírito fazia parte da Divina natureza do Salvador, que O abandonou na hora de Seus sofrimentos na Cruz.
Refutando essas opiniões, os Santos Padres explicaram que é o livre espírito humano que contem a essência básica do homem, É isso que possuindo liberdade, estava sujeito à queda e sendo derrotado, estava necessitado de salvação. Assim, o Salvador para restaurar o homem decaído, ele próprio possuiu não só a parte mais baixa mas também a parte mais alta da alma humana.
No século quinto houve outra heresia que diminuiu a humanidade de Cristo: a dos Monofisitas: ela surgiu entre os monges de Alexandria e foi o oposto a uma reacção contra o Nestorianismo, que havia diminuído a natureza divina do Salvador. Os Monofisitas consideravam que em Jesus Cristo, o princípio da carne tinha sido engolido pelo princípio do espírito, o humano pelo divino, e por isso eles reconheciam em Cristo uma só natureza. O Monofisismo também chamado de heresia de Eutiques, foi rejeitado pelo Quarto Concílio Ecuménico, o de Calcedónia (451).
Algo resultante da heresia rejeitada dos Monofisitas foi o ensinamento dos Monotelistas (do grego «thelima», "desejo" ou "vontade"), que apresentava a ideia de que em Cristo exista uma só vontade. Partindo do receio de reconhecer uma vontade humana em Cristo, o que permitiria a ideia de duas pessoas nele, os Monotelistas reconheciam só a vontade divina em Cristo. Mas como os Padres da Igreja explicaram, esse ensinamento abolia todo o trabalho, para a salvação da humanidade, feito por Cristo, já que esse trabalho teria consistido na livre sujeição da vontade humana para a vontade divina: "Não se faça a minha vontade, mas a tua", o Senhor orou. Esse erro foi rejeitado pelo Sexto Concílio Ecuménico (681).
Esses dois tipos de erros, que morreram na história da Igreja antiga, continuam a achar refúgio para si parcialmente de forma escondida mas em parte abertamente no Protestantismo dos últimos séculos. O protestantismo, então, em larga extensão recusa-se a reconhecer os decretos dogmáticos dos Concílios Ecuménicos.

g - As duas naturezas em Jesus Cristo

Em três Concílios Ecuménicos - o Terceiro (de Éfeso, contra Nestório), o Quarto (da Calcedónia, contra Eutiques), e o Sexto (o terceiro de Constantinopla, contra os Monotelistas) - a Igreja revelou o dogma da hipóstase do Senhor Jesus Cristo em duas naturezas, divina e humana, e com duas vontades, a vontade Divina e a vontade humana, que estava inteiramente em sujeição à primeira.
O Terceiro Concílio Ecuménico, o de Éfeso em 431, aprovou a exposição de Fé de São Cirilo de Alexandria, a respeito do facto que "a Divindade e Humanidade compuseram uma única Hipóstase do Senhor Jesus Cristo, por meio de uma indizível e inexplicável união dessas duas distintas naturezas numa".
O Quarto Concílio Ecuménico, o de Calcedónia em 451, pondo fim ao Monofisismo, formulou precisamente a maneira da união das duas naturezas na única pessoa do Senhor Jesus Cristo, reconhecendo ser a essência dessa união mística e inexplicável. A definição do Concílio de Calcedónia, é lido assim: "Seguindo os Santos Padres nós ensinamos em uma voz que o Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo é para ser confessado com uma e a mesma Pessoa, que Ele é perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, com razoável alma e corpo (humanos), um em Essência com o Pai no tocante à Sua Divindade, e um em essência connosco no tocante à sua humanidade; feito em todas as coisas como nós, excepção feita só ao pecado, gerado de Seus Pais antes do mundo segundo Sua Divindade, mas nos últimos dias por nós homens e para nossa salvação nascido da Virgem Maria a «Theotokos», de acordo com a Sua humanidade. Esse um e o mesmo Jesus Cristo, o Filho Unigénito, deve ser confessado em duas naturezas, sem confusão, imutavelmente, indivisivelmente, inseparavelmente,... não separado e dividido em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho e unigénito Deus o Verbo, Nosso Senhor Jesus Cristo, como os profetas dos tempos antigos falaram a respeito dele, e como o Senhor Jesus Cristo nos ensinou, e como o Credo dos Padres nos entregou" (Eerddmans, Seven Ecumenical Councils, p. 264-285).
A maneira dessa união das naturezas é expressa na definição de Calcedónia nas palavras: "sem confusão e imutavelmente". As pessoas divina e humana em Cristo não se misturam e não são convertidas uma na outra.
" Indivisivelmente, inseparavelmente". As duas naturezas estão unidas para sempre, não formando duas pessoas que estão só moralmente unidas, como Nestório pensou. Elas são inseparáveis desde o momento da concepção (isto é, o homem não foi formado primeiro, e então Deus foi unido a ele; mas Deus o Verbo, descendo no ventre da Virgem Maria formou uma carne humana viva para si próprio). Essas naturezas também eram inseparáveis na hora dos sofrimentos do Salvador na cruz, no momento da morte, na Ressurreição e depois da Ascensão, e pelos séculos dos séculos. Em sua carne deificada o Senhor Jesus Cristo virá também na sua segunda Vinda.
Finalmente, o Sexto Concílio Ecuménico, no ano 681 (o terceiro em Constantinopla), decretou que devem ser confessadas duas naturezas em Cristo e duas operações: "Duas vontades naturais não contrária uma à outra... Mas a Sua vontade humana seguirá sem que seja resistindo e relutante mas ao invés sujeita à Sua Divina e omnipotente vontade" (Da "Definition of Faith do Sexto Concílio Ecuménico", Eerdermans, Seven Ecumenical Councils, p 345).
A natureza humana - ou, na terminologia dos Santos Padres, a "carne do Senhor" - unida com a divindade, foi enriquecida pelos poderes divinos sem perder nada dos seus atributos próprios, e tornou-se participante da dignidade divina mas não da natureza divina. A carne, sendo deificada, não foi destruída, "mas continuou em seu próprio estado e natureza", como o Sexto Concílio Ecuménico expressou (obra citada acima).
Correspondendo a isso, a vontade humana em Cristo não foi mudada para a vontade divina e não foi destruída mas permaneceu completa e operativa. O Senhor sujeitou-a completamente à vontade divina, que nele é uma com a vontade do Pai: "Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo. 6, 38).
Em sua «Exact Exposition of the Ortodox Faith», São João Damasceno fala-nos da união das duas naturezas na pessoa do Senhor Jesus Cristo: "Assim como nós confessamos que a encarnação foi feita sem transformação ou mudança, assim também nós mantemos que a deificação da carne foi feita. Pois o Verbo nem ultrapassou os limites de sua própria Divindade nem as divinas prerrogativas a ela pertencentes porque ele foi feito carne, e quando a carne foi feita Divina ela certamente não mudou sua própria natureza ou suas propriedades naturais. Mesmo depois da união das naturezas, permaneceram não misturadas e suas propriedades intactas. Mais ainda, por razão de sua não misturada união com o Verbo, isto é, sua união hipostática, a carne do Senhor foi enriquecida com operações divinas mas de modo algum sofreu qualquer enfraquecimento de suas propriedades naturais. Porque não é por suas próprias operações que a carne faz obras divinas, mas pelo Verbo unido a ela e através dela o Verbo mostra suas próprias operações. Assim, o aço que foi aquecido queima, não porque naturalmente adquiriu poder de queimar, mas porque ele adquiriu esse poder de sua união com o fogo" (Extract Exposition, 3, 17; tradução inglesa, p. 316-317).
A respeito da maneira da união das duas naturezas em Cristo, deve-se sem dúvida ter em mente que os Concílios e os Padres da Igreja tinham somente um objectivo: defender a fé dos erros dos heréticos. Eles não tentaram revelar inteiramente a verdadeira essência dessa união, isto é, a mística transformação da natureza humana em Cristo, a respeito da qual nós confessamos que em sua carne humana, Cristo senta-se à direita de Deus Pai, que em carne ele virá em glória para julgar o mundo, e o seu reino não terá fim, e que fiéis recebem comunhão de seus vivificantes Carne e Sangue em todo tempo através do mundo todo.

h - A natureza humana sem pecado de Jesus Cristo

O Quinto Concílio Ecuménico condenou o falso ensinamento de Teodoro de Mopsuestia, que estabelecia que o Senhor Jesus não foi privado das tentações internas e da batalha com as paixões. Se o Verbo de Deus diz que o Filho de Deus: "em semelhança da carne do pecado" (Rom 8, 3), está então expressando a ideia que nessa carne era a verdadeira carne humana, mas não a carne humana pecaminosa; ao invés, era completamente pura de todo pecado e corrupção, tanto do pecado ancestral quanto do pecado voluntário. Em sua vida terrena o Senhor estava livre de qualquer desejo pecaminoso, de toda tentação interior; pois nele a natureza humana não existe separadamente, mas é unida hipostaticamente à divindade.

i - A unidade da hipóstase de Cristo

Com a unidade em Cristo, o Deus - homem de duas naturezas, permanece nele numa pessoa, uma personalidade, uma hipóstase. É importante saber isso porque em geral unidade da personalidade na confissão de fé do Concílio de Calcedónia lemos: "Não separamos ou dividimos em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho, e Unigénito Deus, o Verbo..." A hipóstase divina é inseparável numa única hipóstase do Verbo. Essa verdade é expressa no primeiro capítulo do Evangelho de São João: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus"; e adiante: "e o verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo. 1, 1.14). Nessa parte, em algumas passagens da Sagrada Escritura atributos humanos são indicados como pertencentes a Cristo como Deus, e atributos divinos são indicados como pertencendo ao mesmo Cristo como homem. Assim, por exemplo, em (1 Cor. 2, 8) é dito: "porque se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória". Aqui o Senhor da Glória - Deus - é chamado de crucificado, pois o "Rei da Glória" é Deus, como lemos no (Sal. 24, 10: "Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória". A verdade unânime das hipóstases de Cristo como hipóstase divina é explicada por São João Damasceno na «Exact Exposition of the Orthodox faith» (Livro 3, cap. 7 e 8).

j - A adoração una de Cristo

Ao Senhor Jesus Cristo como a uma pessoa, ao Deus-homem, é adequado dar-se uma única e inseparável adoração, tanto de acordo com a divindade quanto de acordo com a humanidade, precisamente porque ambas as naturezas são inseparavelmente unidas nele. O decreto dos Padres no Quinto Concílio Ecuménico (o nono cánon Contra os Heréticos) diz: “Se alguém usar a expressão, Cristo deve ser adorado em suas duas naturezas, elas, no sentido de introduzir então duas adorações, uma em relação especial com Deus o Verbo e a outra como pertencente ao homem... e não venera, por uma adoração, Deus o Verbo feito homem, junto com sua carne, como a Santa Igreja ensinou desde o início, que Ele seja anátema" (Eedermans, Seven Ecumenical Councils, p. 314).

l - Sobre o culto latino do "Coração de Jesus"

Em ligação com esse decreto do Concílio pode ser visto quão fora de harmonia uma prática da Igreja é o culto do "Sagrado Coração de Jesus" que foi introduzido na Igreja Católica Apostólica Romana. Apesar do acima citado decreto do Quinto Concílio Ecuménico tocar apenas na adoração separada da divindade e humanidade do Salvador, ainda que indirectamente ele nos informa que em geral a veneração e adoração de Cristo deve ser dirigida a Ele como um todo e não a partes do Seu Ser; ela deve ser uma. Mesmo que por "coração" nós pudéssemos entender o próprio amor do Salvador, nunca nem no Velho Testamento ou no Novo existiu o costume de adorar separadamente o amor de Cristo, ou Sua sabedoria, seu poder criativo ou providencial, ou Sua Santidade. Mais ainda pode dizer-se isso a respeito das partes da Sua natureza corporal. Há algo de não natural na separação do coração da natureza corpórea no geral do Senhor para o propósito de oração, contrição e adoração diante dele. Mesmo nas relações normais da vida, não importa quanto um ser humano possa ser ligado a outro - por exemplo, uma mãe a uma criança - ele nunca vai referir-se a tal pessoa como um todo.

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011