Catecismo Ortodoxo
Parte II
Deus Manifestado no Mundo
13 - Crisma (Confirmação)
a - Crisma
O mistério do Crisma é realizado usualmente
imediatamente depois do Mistério do Baptismo, formando junto um rito único
da Igreja. O realizador do Mistério, o Bispo ou Presbítero, “unge
aquele que foi baptizado, com o Santo Miron, fazendo o sinal da Cruz na fronte,
nas sobrancelhas e olhos, nas narinas, nos lábios, em ambas as orelhas,
no peito, e nas mãos e pés” (do «Book of Needs»);
enquanto ungindo cada parte do corpo ele pronuncia as palavras, “pelo
selo do dom do Espírito Santo”. Esse Mistério é também
realizado para aqueles que se unem à Igreja vindos de comunidades heréticas
como um dos meios de serem unidos à Igreja. As palavras que são
usadas no Mistério, “o selo do dom do Espírito Santo”,
indica sua importância e efeito. É a - o acto culminante de ser
unido à Igreja, a confirmação ou selo de união;
b - o selo dos poderes dadores de graça que são concedidos nele
para o fortalecimento e crescimento na vida espiritual.
São Cipriano, escreve: “Aqueles que baptizam na Igreja são
selados pelo selo do Senhor segundo o exemplo das samaritanas baptizadas que
foram recebidas pelos Apóstolos Pedro e João através da
colocação das mãos sobre a cabeça e orações
(Act. 8, 14-17). O que estava faltando neles, Pedro e João realizaram...
Assim é também connosco... é feito perfeito pelo selo
do Senhor”. Em outros Padres da Igreja também, o Crisma é chamado
de “selo” (Clemente de Alexandria, Cirilo de Jerusalém),
de “selo espiritual” (Ambrósio de Milão), de “selo
da vida eterna” (Leão, o Grande), “a confirmação” (As
Constituições Apostólicas); a “perfeição” ou “culminação” (Clemente
de Alexandria, Ambrósio). São Efrém, o Sírio, escreve: “Pelo
selo do Espírito Santo são seladas todas as entradas para nossa
alma; pelo selo da unção todos os membros são selados”;
São Basílio, o Grande: “Como teu anjo lutará por
ti, como ele te tomará do inimigo se ele não reconhecer o selo?...
Ou tu não sabes que o destruidor passou por cima das casas daqueles
que estavam selados, e matou os primogénitos nas casas dos que não
estavam selados? Um tesouro não selado é facilmente roubado pelos
ladrões; uma ovelha não marcada pode ser levada embora seguramente”.
Esse Mistério é também chamado de “dom do espírito” (Santo
Isidoro de Pelusio), “mistério do Espírito” (Tertuliano
e Hilário), o “símbolo do Espírito” (São
Cirilo de Jerusalém). São Cipriano testifica que os antigos,
falando das palavras do Senhor concernentes ao nascimento pela água
e pelo Espírito, entendiam do nascimento pela água ser o Baptismo
do Espírito Santo, e o nascimento pelo Espírito ser o Crisma.
b - Os meios originais de execução desse Mistério
Esses dons do Espírito Santo originalmente eram dados
na Igreja primitiva pela imposição de mãos.
A respeito disso, nós lemos no livro dos Actos (8, 16-17), onde é relatado
que os Apóstolos que estavam em Jerusalém, tendo escutado que
os Samaritanos haviam recebido a palavra de Deus, enviaram para eles Pedro
e João, que vieram e oraram por eles para que pudessem receber o Espírito
Santo: “Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram
baptizados em nome do Senhor Jesus. Então lhes impuseram as mãos
e receberam o Espírito Santo”. Por esses relatos no livro dos
Actos 19, 2-6 a respeito do Apóstolo Paulo, que quando Paulo encontrou
discípulos em Éfeso que tinham sido baptizados, só com
o Baptismo de João “e ouvindo isso foram baptizados em nome do
Senhor Jesus; e impondo-lhe Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito
Santo”. Por esses relatos no livro dos Actos nós vemos que em
certos casos as acções dadoras de graça dos Mistérios
do Baptismo e do seu selo, a imposição de mãos, eram expressas
pelas manifestações visíveis e imediatas na iluminação
do Espírito Santo, juntadas ao júbilo espiritual do novo convertido,
que tinha se juntado à santa comunidade, e que tinha começado
para ele uma nova vida dadora de graça.
De que maneira essa imposição de mãos dadora de graça
tornou-se a unção com óleo doadora de graça? A
respeito disso, nós podemos fazer duas suposições: Ou
os Apóstolos, dando o Espírito Santo para os que acreditavam
através da imposição de mãos, inseparavelmente
usaram também um sinal diferente, ungindo, a respeito do que no entanto,
o livro dos Actos é silente; ou, o que é mais provável,
eles mesmos mudaram o sinal visível do Mistério (a imposição
de mãos), talvez no começo, em casos onde eles próprios
estavam ausentes, substituindo-os por outro acto sagrado visível (a
unção dos recém-baptizados com o Miron que havia sido
recebido das mãos dos Apóstolos). Mas seja como tenha sido, a
unção indubitavelmente vem dos Apóstolos, e por eles tem
a sua base nas instruções do Divino Professor deles. O Apóstolo
Paulo escreve: “Mas o que nos confirma convosco em Cristo, e o que nos
ungiu, é Deus, o Qual também nos selou, e deu o penhor do Espírito
em nossos corações” (1 Cor. 2, 21-22). As próprias
palavras que são ditas durante o Mistério “o selo do dom
do Espírito Santo”, são intimamente ligadas com essas expressões
do Apóstolo. Ele escreve: “E não entristeçais o
Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia de redenção” (Ef.
4, 30). O “dia da Redenção” na Sagrada Escritura
indica o Baptismo.
Da mesma forma, na Epístola do Apóstolo João nós
lemos: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis
tudo... E a unção que vos recebestes dele, fica em vós
e não tendes necessidade que alguém vos ensine; mas como a sua
unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira,
como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1 Jo. 2, 20-27). Nas
palavras citadas dos Apóstolos Paulo e João o termo “unção” indica
a comunicação aos fiéis de um dom espiritual. Mas é evidente
que o termo “unção” podia ser usado no seu significado
espiritual precisamente porque os Cristãos tinham diante dos seus olhos
uma unção material.
Os Santos Padres da Igreja colocam a própria palavra “Cristão” numa
forte ligação com “Crisma”. «Chrisma» e «Christos» em
grego significam “unção” e “O Ungido”. “Tendo
se tornado participantes de Cristo”, diz São Cirilo de Jerusalém, “nós
somos merecidamente chamados de “Cristãos,” isto é, “ungidos” e
a respeito de nós Deus disse: “Não toqueis nos meus ungidos...” (Sal.
105, 15).
No relato do oitavo capítulo do livro dos Actos dos Apóstolos
nós aprendemos: a - que após a pregação do Diácono,
Apóstolo Felipe, na Samaria, muitas pessoas, homens e mulheres foram
baptizados; e b - que os Apóstolos que estavam em Jerusalém,
tendo ouvido que os Samaritanos tinham recebido a palavra de Deus, enviaram
aos Samaritanos Pedro e João especificadamente para impor as suas mãos
sobre os baptizados para que eles pudessem receber o Espírito Santo
(Act. 8, 12-17). Isso permite-nos concluir que à parte do profundamente
místico lado do baixar os dons do Espírito Santo, essa imposição
de mãos (e o Crisma que veio a ter lugar depois) era ao mesmo tempo
uma confirmação da correcção do Baptismo e o selo
da união das pessoas baptizadas com a Igreja. Em vista dos fatos que
1 - o Baptismo com água era feito muito antes como um baptismo de arrependimento,
e 2 - muito à parte disso, naquele tempo, assim como através
de todo o curso da história da Igreja, existiram baptismos heréticos,
esse segundo Mistério era realizado pelos próprios Apóstolos
e os seus sucessores os Bispos, como supervisores dos membros da Igreja, ainda
que a realização da Eucaristia também tenha sempre sido
dada aos Presbíteros.
Com o extraordinário espalhamento da Santa Fé, quando as pessoas
começaram a voltar-se para Cristo no mundo todo, os Apóstolos
e os seus sucessores imediatos, os Bispos, não poderiam estar pessoalmente
em todos os lugares imediatamente após o Baptismo, para trazer o Espírito
Santo sobre todos os baptizados pela imposição das mãos.
Pode ter sido que por isso que “agradou ao Espírito Santo” que
habitava nos Apóstolos substituir a imposição de mãos
pelo acto de Crisma, com a regra que a santificação do Crisma
deveria ser realizada pelos Apóstolos e Bispos somente, enquanto a unção
dos baptizados com o Crisma santificado poderia ser deixado para os Presbíteros.
O Crisma (Miron) e não outro tipo de material foi escolhido nesse caso
porque no Velho Testamento a unção com Miron era feita com Miron
(azeite) para fazer baixar nas pessoas dons espirituais especiais (ver 1 Samuel
16, 13; 1 Reis 1, 39). Tertuliano escreve, “depois de vir da fonte nós
somos ungidos com óleo santo, de acordo com o antigo rito, como desde
há muito era o costume os Presbíteros ungirem com óleo
de um chifre”. O sexto Cánon do Concílio de Cartago só proíbe
os Presbíteros de santificar o Crisma.
c - Crisma e santificação
Assim como foram os Apóstolos que foram enviados para
os Samaritanos baptizados de modo a baixar sobre eles o Espírito Santo,
assim também no Mistério do Crisma, o miron que é usado,
de acordo com decreto da Igreja, tem que ser santificado por um Bispo, como
o mais elevado Sucessor dos Apóstolos. A santificação
do miron ocorre em um rito sagrado solene especial, com a participação,
quando possível, de outros Bispos da Igreja (o Arcebispo Primaz Katholikos
em toda a nossa Jurisdição é que consagra o Crisma para
toda a Igreja, de acordo com o cánone 375, do Código de Direito
Canónico).
No ocidente, a separação do Crisma do Baptismo ocorreu ao redor
do século XIII. Mais ainda, actualmente na Igreja Católica Romana
a Unção (que é chamada de “confirmação”) é realizada
só nas sobrancelhas, olhos, narinas, lábios, ouvidos, peito,
mãos e pés. É feita na Igreja Católica Romana para
aqueles que atingiram sete anos de idade, e é realizada unicamente por
um Bispo.
À
parte de no Mistério do Crisma, o miron é usado também
em circunstâncias excepcionais. Assim, na santificação
de uma Igreja é realizada o assinalamento com miron do Santo Altar,
sobre o qual o Mistério do Santo Corpo e Sangue de Cristo será realizado,
assim como nas paredes da Igreja. Como um rito especial, a unção
com miron é realizada também no acesso ao trono real de reis
Ortodoxos.
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011