Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

12 - Baptismo
a - O estabelecimento do Mistério do Baptismo

Em primeiro lugar na série de Mistérios da Santa Igreja está o Baptismo. Ele serve como porta levando para o Reino da graça, ou a Igreja, e concede acesso à participação em outros Mistérios. Menos antes do estabelecimento do Mistério do Baptismo, o Senhor Jesus Cristo em sua conversa com Nicodemos indica a absoluta necessidade dele, para a salvação: “Na verdade na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Quando Nicodemos expressa a sua perplexidade: “Como pode um homem nascer sendo velho?” O Salvador responde que o novo nascimento seria realizado pela água e pelo Espírito: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido de carne é carne e o que é nascido do Espírito é o espírito” (Jo. 3, 3-6).
O estabelecimento desse Mistério, dador de graça ocorreu depois da Ressurreição de Cristo. Tendo aparecido para os seus discípulos, o Senhor disse-lhes que ele tinha recebido de seu Pai toda autoridade no Céu e na terra, e continuou: “Portanto ide ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que estou convosco até a consumação dos séculos” (Mt. 28, 19-20). E a isso acrescentou: “Quem crer e for baptizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc. 16, 16). No dia da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, quando depois do discurso do Apóstolo Pedro, os seus ouvintes perguntaram o que deveriam fazer, ao que o Apóstolo Pedro lhes disse: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (Act. 2,38). No mesmo livro dos Actos estão registadas várias passagens de baptismos realizados pelos Apóstolos. Assim, o Apóstolo Pedro baptizou Cornélio (cap. 10), o Apóstolo Paulo baptizou Lídia e aqueles da sua casa (cap. 16), bem como o guarda da prisão com todos os da sua casa.

b - O significado do Mistério

O aspecto místico doados pela graça do Baptismo é indicado nas passagens acima citadas nas Sagradas Escrituras; Baptismo é um “novo nascimento” e é realizado para a salvação dos homens (Mc. 16, 16). Além disso, colocando a importância da doacção da graça do Baptismo, os Apóstolos nas suas Epístolas indicam que nele nós somos “santificados”, “limpos”, justificados”; que no Baptismo nós “morremos para o pecado” para andar numa vida renovada; nós somos “sepultados com Cristo”, e ressuscitamos com Ele. “... Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (isto é, o Baptismo com a proclamação das palavras instituídas para acompanha-lo; Ef. 5, 25-26). “Haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Cor. 6, 11). “...fomos sepultados com ele pelo baptismo da morte, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rom. 6, 4). O Baptismo é chamado de “lavagem de regeneração” (Tit. 3, 5). Para o lado subjectivo - o estado da alma da pessoa sendo baptizada - é indicado pelo Apóstolo Pedro, que chama ao Baptismo de promessa de uma boa consciência para com Deus (1 Ped. 3, 21). Através do Baptismo ao mesmo tempo somos agregados à Igreja.

c - Os meios de realização do Mistério

A comparação do Baptismo com uma lavagem por água, com um túmulo, e outras coisas tais, indica que esse Mistério deve ser realizado por imersão. A palavra grega «baptizo» significa “imergir”. A respeito do Baptismo do eunuco por Felipe nós lemos no livro dos Actos: “...e desceram ambos à água, tanto Felipe quanto o eunuco, e baptizou-o. E quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatava Felipe” (Act. 8, 38-39). Como uma excepção, a Igreja aceita o martírio Cristão dos não baptizados como “Baptismo de sangue”. O Baptismo por aspersão, a Igreja Ortodoxa Oriental reconhece mas não aprova, salvo em algumas excepções.
A imersão na água é feita três vezes com o pronunciamento das palavras: “O servo de Deus (nome) é baptizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, de acordo com a ordem dada pelo próprio Cristo (Mt. 28, 19). Assim era realizado na antiga Igreja. A Epístola do Apóstolo Barnabé já menciona isso e Tertuliano indica directamente que “a maneira de como o baptismo é prescrito”, indicando as palavras do Salvador concernentes ao Baptismo; Tertuliano também testifica a tripla imersão e também indica uma particularidade: que aquele que está sendo baptizado é solicitado a renunciar a Satanás e a seus anjos e então confessar a fé.
Em certas passagens da Sagrada Escritura é mencionado um Baptismo em nome do Senhor Jesus (Act. 2, 38; 3, 16; 10, 48). De acordo com a interpretação dos antigos Padres, a expressão “em nome do Senhor Jesus” significa “de acordo com o comando e a tradição de Cristo”, ou como testemunho da fé de alguém em Cristo. Por essa expressão não é negado o facto do Baptismo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, como pareceu para certos historiadores do Cristianismo que são da escola racionalista. É inteiramente natural que o escritor do livro dos Actos, o Apóstolos Lucas, e o Apóstolo Paulo também (Rom. 6, 3; Gal. 3, 27; 1 Cor. 1, 13), quando falando do Baptismo “em Cristo” tinham em mente distinguir esse Baptismo do baptismo de João ou qualquer coisa similar, do “Baptismo para o Cristianismo”. Assim até agora é cantado no Baptismo: “Vós todos que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gal. 3, 27).

d - A indispensabilidade do Baptismo

Desde que no Baptismo o homem recebe, no lugar da antiga existência que ele tinha, uma nova existência e nova vida, e torna-se um filho de Deus, um membro do Corpo de Cristo ou na Igreja, um herdeiro da vida eterna, é então evidente que o Baptismo é indispensável para todos, inclusive às crianças, de modo que crescendo no corpo e no espírito elas possam crescer em Cristo. Nas Escrituras Apostólicas muitas vezes há menção do Baptismo de famílias inteiras (a casa de Lídia, a casa do guarda da prisão, a casa de Estéfanas - 1 Cor. 1, 16),e em nenhum lugar é mencionado que as crianças eram excluídas. Os Padres da Igreja em suas instruções aos fiéis insistem no Baptismo das crianças. São Gregório, o Teólogo, dirigindo-se a mães cristãs, diz: “Tens uma criança? Não dês tempo para que o mal aumente. Que ela seja santificada na infância, e desde jovem dedicada ao Espírito. Tens medo do selo por causa da fraqueza da natureza, como alguém de coração fraco e fé pequena? Mas Ana mesmo antes de dar a luz Samuel prometido para Deus, ela rapidamente depois do parto dedicou-o e levantou-o para a veste sagrada, sem temer a fraqueza humana, mas acreditando em Deus”.
No entanto, é indispensável nessa questão que as pessoas que ofereçam as crianças para o Baptismo reconheçam toda a sua responsabilidade pela criação da criança baptizada na fé e virtude cristã. Nós lemos uma instrução a respeito disso, por exemplo, na obra «On The Ecclesiastical Hierarchy», conhecida sob o nome de São Dinis, o Aeropagita, que sempre foi muito respeitada na Igreja: “Foi agradável a nossos divinos instrutores permitir que crianças fossem baptizadas também, sob a sagrada condição de que os pais naturais da criança deveriam confiá-la a alguém entre os fiéis que a instruiria bem nos assuntos divinos e então tomaria conta da criança como um pai, dado do alto, e como um guarda da salvação eterna da criança. Esse homem, quando ele promete guiar a criança numa vida pia, é compelido pelo Bispo a proclamar as renúncias e a confissão sagrada (durante o Baptismo)”.
Como é importante para nós essa instrução que vem da antiga Igreja Cristã. Dela nós vemos quão importante é a responsabilidade que o padrinho da pessoa baptizada toma sobre si. Quão cuidadosos os pais da criança devem ser na escolha do padrinho! Logicamente, numa família Cristã normal os próprios pais usualmente ensinam as suas crianças as verdades da fé e as suas obrigações morais. Mas a destruição das bases da vida social contemporânea compele que se esteja em guarda para que a criança não permaneça sem orientação Cristã. E, sempre em situação favorável um padrinho deve manter um contacto espiritual estreito com seu afilhado e estar pronto a qualquer momento necessário a ir a ele com um sincero auxílio Cristão.
O décimo parágrafo do Símbolo da Fé, diz: “Confesso um só Baptismo para a remissão dos pecados”. Isso significa que o Baptismo na Igreja Ortodoxa, como um nascimento espiritual, se ele foi realizado como um rito sagrado correctamente e por tripla imersão (ou aspersão) em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não pode ser repetido.

e - Baptismo: a porta para a recepção de outros dons

Como nós vemos das acima citadas citações dos Santos Apóstolos, e da mesma forma, de todo ensinamento da Igreja, o Baptismo não é só um símbolo de limpeza e lavagem das máculas da alma, mas em si, o início e a fonte de dons divinos que lavam e aniquilam todos os pecados e comunicam uma nova vida. Todos os pecados são perdoados, o pecado original quanto os pecados pessoais; o caminho está em aberto para uma nova vida, está aberta a possibilidade de receber os dons de Deus. Um crescimento espiritual maior depende do livre arbítrio do homem. Mas como a tentação é capaz de encontrar simpatia na natureza do homem, que desde o dia de sua primeira queda tem tido uma inclinação para o pecado, a perfeição moral não pode ser atingida sem batalha. Um homem encontra ajuda para essa batalha interior na vida inteira de graça doada na Igreja. A Santa Igreja abre mais auxílios doadores de graça para o recém-baptizado, no Mistério do Crisma.

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011