Catecismo Ortodoxo
Parte III
Apêndice
2 - A glorificação
dos Santos
a - Introdução
O que é, em essência a glorificação
pela Igreja dos Santos? Na Igreja Santa Católica e Ortodoxa a memória
em oração de cada um de seus membros que partiu na fé,
esperança e arrependimento é cuidada. Essa comemoração
da maioria dos que partiram é limitada, comparativamente ao estreito
círculo da "Igreja doméstica" ou, em geral, a pessoas
de relação sanguínea próxima ou adquirida com os
que partiram. Ela é expressa pela oração pelos que partiram,
oração pela remissão dos pecados, que "sua alma seja
cantada entre os justos", que "seu repouso seja entre os santos".
Esse é um fio espiritual que liga os que estão na terra aos que
partiram; é uma expressão de amor que é benéfica
tanto para os que partiram quanto para os que oram por eles. Se, depois da
morte, ele não é privado da visão da glória de
Deus, por seus pecados pessoais, ele responde com suas orações
próprias para aqueles próximos a ele na terra.
Pessoas que são grandes em seu espírito Cristão, gloriosos
em seu serviço à Igreja, faróis iluminando o mundo, deixando
atrás de si uma memória que não é confinada a um
mundo estreito de pessoas, mas uma memória que abrange toda a Igreja
local ou universal. Confiança em eles terem atingido a glória
do Senhor e no poder de suas orações, mesmo depois de mortos, é tão
grande e não questionada que o pensamento de seus irmãos na terra
não é canalizado para o perdão de seus pecados (já que
eles são santos diante do Senhor sem isso), mas para a louvação
de suas lutas, para aceitar suas vidas como modelo para si próprio,
e para pedir as orações deles por nós.
Em testemunho da profunda certeza da Igreja que um homem justo que repousou
está com o Senhor, no coro dos santos na Igreja celeste, ela Igreja
compõe um ato de "numerá-los entre os santos" ou de "glorificação".
Por esse ato a Igreja dá a sua bênção para a mudança
de oração para os que repousam para oração de pedido
para nós assistência diante do trono de Deus. A voz unânime
da Igreja, expressa através dos lábios de seus hierarcas, a voz
conciliatória, confirma a convicção de seus membros comuns
a respeito da santidade do homem justo. Tal é a essência do ato
de glorificação. Nada na Igreja deve ser arbitrário, mas "próprio
e ordenado". A preocupação da Igreja com relação
a isso é expressa pelo oferecimento de uma súplica orante uniforme
para o justo.
À
s vezes a comemoração de um justo que partiu não se estende
além de uma região particular. Outros santos de Deus tornaram-se
famosos e renovados em toda a Igreja mesmo durante a sua actividade terrestre;
eles são a glória da Igreja e mostram ser os pilares da Igreja.
Uma resolução eclesiástica sobre a glorificação
deles confirma essa comemoração para sempre no domínio
próprio, isto é, na Igreja local que ele fez essa resolução,
ou em toda Igreja Universal.
A assembleia dos Santos na Igreja celeste de todos os tempos é grande,
além de numerosa. Os nomes de alguns santos são conhecidos na
terra; outros permanecem desconhecidos. Os santos são como estrelas
- aqueles mais perto de nós são vistos mais claramente; no entanto,
incontáveis outros pontos de luz existem pelo espaço, além
do alcance da visão humana. Assim, na comemoração da Igreja,
os santos são glorificados em grandes grupos e assembleias completas,
assim como individualmente. Tais são as comemorações de
mártires que foram mortos em centenas e milhares, os Padres dos Concílios
Ecuménicos, e, finalmente a celebração geral de "todos
os santos", a anual (o primeiro domingo após o Pentecostes; o segundo
domingo após o Pentecostes para todos os santos da Rússia), e
a semanal (todos os sábados).
Como ocorreu e ocorre a glorificação dos grandes hierarcas, ascetas,
e outros reconhecidos como santos da Igreja? Na base de que principio, porque
critérios, porque rito - no geral, e em casos individuais? Pesquisa
pelo professor E. Golubinsky, «The Historyof The Canonization of Saints
in the Russian Church» (2ª edição, Moscovo: University
Press, 1903) é dedicada a essa questão. Na exposição
que se segue iremos, em sua maior parte, fazer do trabalho do Professor Golubinsky.
Quanto ao uso do termo canonização dos santos, o Prof. Golubinsky
admite nas primeiras linhas de seu livro que, apesar desse termo ser etimológico,
derivado da palavra grega «canon», ele forma uma parte da terminologia
da Igreja latina e não é empregado pelos Ortodoxos gregos. Essa é uma
indicação que nós não precisamos usar esse termo;
e de facto, mesmo no seu próprio tempo o Prof. Golubinsky foi recriminado
por usar o termo assiduamente, especialmente porque o espírito e carácter
da glorificação Ortodoxa é alguma coisa diferente da canonização
da confissão romana. A canonização da Igreja Romana, em
sua forma contemporânea, consiste em uma solene proclamação
pelo Papa: "Nós, resolvemos e determinamos que o Bem Aventurado
N. é um santo e o colocamos no catálogo dos santos, ordenando
que toda a Igreja honre sua memória com reverência...." A
expressão Ortodoxa "enumerando-o entre o coro dos santos" não
tem fórmula especial, fixa, mas o seu sentido deve ser expresso assim: "Nós
confessamos que N. está (é enumerado com) o coro dos santos de
Deus".
b - Testemunhos do Início da Igreja
Nos primeiros séculos da Igreja Cristã, três
tipos básicos de santos eram reconhecidos. Eram:
A - do Velho Testamento patriarcas, profetas (entre os quais São João,
o Precursor, é preeminente) e do Novo Testamento os Apóstolos;
B - os mártires, que ganharam coroas de glória pelo derramamento
de seu sangue;
C - hierarcas destacados que serviram a Igreja, assim como pessoas aclamadas
por suas lutas pessoais (os justos e os ascetas).
Com relação a patriarcas, profetas, apóstolos e mártires
ser membro em qualquer dessas categorias carregava consigo o reconhecimento
como santo.
É
sabido pela história que reuniões de oração eram
feitas em honra dos mártires tão cedo quanto o primeiro quarto
do século II (conforme São Inácio de Antioquia). Com toda
probabilidade, elas começaram no período imediatamente posterior á primeira
perseguição dos Cristãos... a de Nero. Parece que nenhum
decreto eclesiástico especial era requerido para autorizar a veneração
em oração desse ou daquele mártir em particular. A própria
morte do mártir testemunhava a recepção da coroa celeste.
Mas a enumeração dos hierarcas e ascetas que haviam partido entre
o coro dos santos era feita individualmente, e era naturalmente levada avante
baseada no valor pessoal de cada um.
É
impossível dar uma resposta geral a respeito de que critério
a Igreja usa para reconhecer os santos dessa terceira classificação.
Com respeito aos ascetas em particular, sem dúvida a base geral e fundamental
de sua glorificação é a realização de milagres.
Isso porque a evidência sobrenatural é livre de caprichos e influências
humanas. O Prof. Golubinsky considera essa indicação a única
base para glorificação dos ascetas na história da canonização
eclesiástica. Apesar dessa opinião do Prof. Golubinsky, no entanto,
pode-se concluir que a comemoração dos grandes Cristãos
moradores do deserto de antigamente, os lideres e guias do monasticismo, foi
mantida pela Igreja pelos dons didácticos e por elevados alcances espirituais
deles à parte da estrita dependência se eles foram glorificados
pelo dom de realizar milagres. Eles foram enumerados entre o coro dos santos
estritamente por suas vidas ascéticas, sem nenhuma referência
particular a tal critério (realização de milagres).
A antiga glorificação pela Igreja de santos hierarcas deve ser
vista algo diferentemente. O elevado serviço deles foi a base para sua
glorificação; como o santo martírio final foi para os
mártires. No calendário cartaginense, que data do século
VII, existe uma inscrição: "Aqui estão registrados
os aniversários (isto é, datas do martírio) dos mártires
e os dias de repouso dos Bispos cuja comemoração a Igreja de
Cartago celebra". Assim, julgando por antigos calendários litúrgicos
gregos, deve-se supor que na Igreja grega todos os Bispos Ortodoxos que não
tivessem se maculado de modo algum eram enumerados entre o coro dos santos
locais da diocese deles, com base na crença que sendo intercessores
mesmo na vida além túmulo. Nos calendários eclesiásticos
do Patriarcado de Constantinopla, todos os Patriarcados, todos os Patriarcas
que ocuparam a Sé entre AD 315 (Santo Metropolitas) e AD 1025 (Santo
Eustátios), com excepção daqueles que foram heréticos
ou que por uma razão canónica foram depostos, são registados
na lista dos santos. Essa compilação, no entanto, foi pouco feita
na sequência em que os Patriarcas ocuparam a sé. Com toda probabilidade,
os Bispos mais renomados foram reconhecidos como santos imediatamente depois
do seu repouso; em outros casos essa inclusão ocorreu em algum outro
tempo.
Os nomes de todos os Bispos que partiram entravam no díptico local -
as listas dos que partiram que eram lidas alto nos ofícios divinos,
e todo ano, na data do repouso de cada um deles sua comemoração
era feita com especial solenidade. Sozomem, o historiador da Igreja, afirma
que nas Igrejas individuais ou dioceses, a celebração de seus
mártires locais e a comemoração de seus padres anteriores
(isto é, os hierarcas) eram observadas. Aqui ele usa o termo "celebração" em
referencias à memória dos mártires, mas "comemoração" em
referência aos hierarcas, levando a ser entendido que na Igreja antiga
os eventos dos hierarcas, eram de menor estatura que os dos mártires
(se é próprio falar de um plano geral e não de casos individuais).
O Prof. Golubinsky conjectura que, com relação a hierarcas, depois
de um certo número de anos de orações fervorosas por eles,
a celebração anual de suas memórias eram transformadas
num dia de oração para eles. De acordo com o testemunho de Simeão
da Tessalónica, desde os primeiros tempos em Constantinopla os hierarcas
eram enterrados, dentro do santuário, na maior Igreja, a dos Apóstolos,
como as relíquias dos santos, por causa da graça do divino sacerdócio.
Na Igreja grega, até o século XI, muito poucos do coro dos hierarcas
foram santos venerados universalmente pela Igreja, toda. A maior parte dos
hierarcas permaneceu santo local das Igrejas individuais (isto é, dioceses),
e cada diocese/Igreja individual celebrava só os seus próprios
hierarcas locais, com um número muito pequeno de hierarcas venerados
universalmente por toda a Igreja. Com o século XI a transformação
do coro de hierarcas de local para universal, ocorreu, e como resultado existe
um grande número de nomes. Essa foi provavelmente a razão pela
qual, desse século em diante, a enumeração de hierarcas
entre o coro dos santos foi levada mais estritamente, e como um critério
para a enumeração de qualquer Patriarca de Constantinopla, entre
os santos foi declarado necessário ter-se irrefutáveis evidências
de seus milagres, e isso foi requerido também para a glorificação
dos ascetas.
Nas Igrejas locais (dioceses) o direito de reconhecer indivíduos como
santos pertencia aos seus bispos e seu clero ou a oficiais sujeitos a autoridade
deles (bispos e clero). É também bem possível que os bispos
não realizassem tais actos sem o conhecimento e consentimento do Metropolita
e do Sínodo dos Bispos da província metropolitana. Às
vezes os leigos determinavam antecipadamente, de sua determinação
erigiam Igrejas dedicadas a tais ascetas aparentemente na certeza, que a benção
da hierarquia, ocorreria num futuro próximo.
Quando Simeão, o Pio, staretz e guia de São Simeão, o
Novo teólogo, repousou no Senhor depois de quarenta e cinco anos de
trabalhos ascéticos. São Simeão conhecendo a intensidade
de suas lutas, sua pureza de coração, sua proximidade de Deus
e a Graça do Espírito Santo que o recobria, compôs em sua
honra um Eulogio, assim como hinos e cánones, e celebrava a sua memória
anualmente com grande solenidade, tendo pintado um ícone dele como santos.
Outros, talvez, dentro e fora do mosteiro, seguiram seu exemplo, pois Simeão,
o Pio, tinha muitos discípulos e admiradores entre monges e leigos.
São Sérgio II, então Patriarca de Constantinopla (reinou
999-1019), ouviu sobre isso, e convocou São Simeão a apresentar-se
diante dele e questionou-o a respeito da festa e do Santo que estava sendo
tão honrado. Mas percebendo que Simeão, o Pio, tinha levado uma
vida tão exaltada, ele não proibiu a veneração
de sua memória, e ainda enviou lamparinas e incenso em memória
de Simeão, o Pio. Dezesseis anos se passaram sem incidentes. Mas mais
tarde, um certo influente Metropolita aposentado que residia em Constantinopla
objectou a qualquer veneração conduzida por iniciativa privada.
Tal coisa parecia a ele blasfema e contrária à ordem da Igreja.
Algumas poucas paróquias através de seus padres e alguns leigos
concordaram com o Metropolita, e nesse ponto começaram as perturbações
que duraram cerca de dois anos. Para atingir sua meta, os oponentes de São
Simeão não pararam com difamações dirigidas ao
Santo e seu staretz. São Simeão recebeu a ordem de comparecer
perante o Patriarca e o seu Sínodo para dar uma explicação.
Sua resposta foi que, seguindo os preceitos dos Apóstolos e dos Santos
Padres, ele não poderia se refrear em honrar seu guia, mas que ele não
compelia outros a fazê-lo, que ele estava agindo de acordo com sua consciência,
e que os outros poderiam fazer o que achassem melhor. Satisfeito com essa apologia,
eles no entanto ordenaram a São Simeão que daí por diante
celebrasse a memória de seu staretx tão modestamente quanto possível
sem qualquer solenidade. A controvérsia continuou por cerca de seis
anos, no entanto, uma vingança completa foi lançada contra o ícone
de Simeão, o Pio, no qual ele estava pintado na companhia de outros
santos, com uma inscrição que se referia a ele como "santo" e
obscurecido por Cristo, o Senhor em posição de benção.
O resultado disso foi que, para a paz da mente e o estabelecimento da paz,
São Simeão decidiu deixar Constantinopla e assentou-se num lugar
remoto perto da antiga Igreja de Santa Marina, onde mais tarde ele construiu
um mosteiro, com relação à questão da veneração
em si, o decreto prévio permaneceu em vigor, isto é, a celebração
era permitida desde que não fosse conduzida com solenidade (conforme "Life
of S. Symeon the New Theologism" em seus Discourses, edição
Bispo Teofano, 2 volumes [Moscovo: Ephimon Press, 1892], vol 1, p. 3-20).
O incidente citado acima demonstra de um ponto de vista, que conhecimento de
uma vida justa e ascética conduz a firme convicção a respeito
de sua permanência na companhia dos santos depois de sua morte e a sua
veneração; de outro lado, o incidente testemunha o facto que
naquele tempo (século XI), os costumes e procedimentos da Igreja requeriam
uma definida confirmação pelas mais altas autoridades da Igreja
e um decreto sinodal sancionando a veneração pública.
No futuro a Igreja Grega conheceria duas classificações dos novos
santos glorificados: mártires e ascetas.
c - Mártires e Ascetas
Sob o domínio turco, a Igreja Grega teve um número
não pequeno de mártires que foram mortos pelo seu excepcional
zelo pela fé cristã e por denunciar o Islão publicamente.
A Igreja Grega mais recente e a Igreja Universal com ela, tem olhado e continua
a aceitar o martírio deles assim como a Igreja Antiga olhava os mártires
do início da era cristã, desconhecendo o martírio como
base suficiente para a glorificação, independente do dom de realizar
milagres, terem tido lugar em muitos casos. Um grande número de mártires
apesar de milagres terem tido lugar em muitos casos. Um grande número
de mártires gregos não foram proclamados como santos de nenhuma
maneira oficial e eram frequentemente honrados como "zelotes", sem
nenhum deliberado interrogatório ou proclamação por parte
da grande Igreja de Constantinopla, pois isso teria sido muito difícil
de se fazer sob as condições do domínio turco. São
Nicéforo de Chios, que compôs um "Ofício Geral para
Qualquer Novo Mártir", explicando a necessidade de tal ofício
afirma: "Porquanto a maioria dos novos mártires não tem
um ofício para celebrar, e desde que muitas pessoas estão desejosas
de tal ofício - um, para honrar seu companheiro de cidade, outro para
honrar alguém conhecido dele pessoalmente; outro ainda que o havia ajudado
em alguma necessidade, por essa razão eu compus um ofício geral
para qualquer novo mártir. Possa ele então, que deseja assim,
cante tal ofício para aquele mártir para quem ele tem veneração".
O autor de «A History of the Canonization of the Saints in the Russian
Church» acredita que mártires em geral que eram honrados sem glorificação
oficial eram incluídos no caso acima. Se essa suposição é acurada é difícil
de ser determinada.
Como antes, na Igreja Oriental o critério que tinha que ser atendido
para a glorificação de ascetas, fossem eles hierarcas ou monásticos,
era o dom de realizar milagres. O Patriarca Nectário de Jerusalém
(reinou de 1661-1669), dá um lúcido testemunho a respeito disso.
Ele escreve: "Três coisas certificam a verdadeira santidade em pessoas:
1) Ortodoxia irrepreensível, 2) perfeição em todas as
virtudes, que são coroadas por manter a fé, mesmo com o derramamento
de seu sangue, e finalmente, 3) a manifestação por Deus de sinais
e maravilhas sobrenaturais". Em acréscimo a isso, o Patriarca Nectário
indica que naquele tempo, quando abusos no relato de milagres e virtudes eram
ocorrências comuns, frequentemente ainda outros sinais eram requeridos,
por exemplo, não corrupção dos corpos ou uma fragrância
emanando dos ossos.
No oriente, o direito de glorificar um santo para veneração local
pertence aos Metropolitas, o Metropolita vê: para a veneração
geral por toda a Igreja de Constantinopla, o Patriarca de Constantinopla com
o seu Sínodo dos Bispos da a bênção. Actos, que
aparentemente, constituem uma excepção a esse respeito, glorificando
os seus próprios ascetas para veneração local na Montanha
Santa pela autoridade pessoal das irmandades, ou por mosteiros individuais,
ou pela sinodia de «Protato» para a inteira comunidade Atonista.
Também, o dom de realizar milagres dificilmente pode ser considerado
obrigatório como base para a glorificação, ainda mais
que alguém pode levar uma vida ascética, confirmada posteriormente
pelo sinal de fragrância emanando dos ossos, como tal base.
Da compilação de documento do Patriarcado de Constantinopla relativos à glorificação
de santos, que é um apêndice da segunda edição da «History
of the Canonization of the Saints in the Russian Church», pode formar-se
uma ideia de como a glorificação foi levada.
No século XIV veio para a Rússia um decreto do Patriarca João
XIV (reinou 1333-1347) endereçado a Theognostos, Metropolita de Kiev
e toda a Rússia (reinou 1328-1353, residente em Moscovo), datado de
Julho de 1339, a respeito da enumeração de seu predecessor, São
Pedro, Metropolita de Moscovo (reinou 1308-1326), entre os santos: "...Nós
recebemos a carta de Tua Santidade, junto com a notificação e
atestado a respeito do hierarca da santa Igreja que foi antes de ti, e que
após a morte foi glorificado por Deus e mostrou ser um de Seus verdadeiros
favoritos, e que grandes milagres são realizados por ele e que toda
doença é curada. E nós nos rejubilamos com isso, e estamos
muitíssimo alegres em espírito, e rendemos a Deus adequada glorificação.
E como Tua Santidade procurou orientação connosco em como agir
com tais santas relíquias, nós respondemos: Tua Santidade própria
sabe, pois tu não és ignorante sobre a maneira do ritual e costume
da Igreja de Deus proceder em tais casos. Tenho recebido um firme e incontestável
atestado a respeito do Santo, que Tua Santidade no presente evento aja de acordo
com o Rito da Igreja. Honrem e benzam o favorecido de Deus com hinos e sagradas
doxologias, e deixem em testamento isso para os tempos futuros, para a louvação
e glória de Deus, Que glorifica aqueles que O glorificam...".
No eulógio do Patriarca Philoteus de Constantinopla (reinou 1354-1355,
1364-1376) para São Gregório Palamas, Arcebispo de Tessalónica,
com relação a enumeração do Arcebispo entre o coro
dos santos, depois de um relato de dez milagres realizados no túmulo
do santos, nós lemos: "Por consequência (isto é, devido
ao facto que muitos milagres ocorreram ao tumulo do Arcebispo), os maiores
amantes de Deus e preeminentes deles presentes (os cidadãos de Tessalónica)
e especialmente deles os padres, tomaram conselhos juntos, colocaram um ícone
sagrado de Gregório e estão celebrando um radioso festival para
todo o povo no dia de seu repouso, e se apressam e erigir uma Igreja para ele,
pois ele é um glorioso discípulo de Cristo. Eles não estão
esperando pelas assembleias dos grandes homens, ou por qualquer Concílio
Geral para proclamá-lo (um santo), pois tais coisas às vezes
são um embaraço, um peso, um obstáculo e um cuidado, e
são todas muito humanas, mas eles estão satisfeitos, como é louvável,
com uma proclamação do alto, com a irrefutável e luminosa
contemplação de suas obras, e com fé". Do discurso
do Patriarca Philoteus fica claro que: 1) São Gregório Palamas
foi enumerado entre os santos pelos milagres ocorridos em seu túmulo,
e 2) sua glorificação foi realizada pelo Metropolita de Tessalónica.
Decretos de origem muito posterior à época citada falam claramente
de averiguações especiais pelos Sínodos relativos à glorificação.
Assim, num decreto do Patriarca Cirilo I (reinou 1621-1623; 1632-33; 1633-34,
1637-38) a respeito da glorificação de São Gerasino de
Cefalonia, seguindo uma explanação dogmática do ensinamento
Ortodoxo relativo ao Santo, nós encontramos: "E nós, de
um lado, prontos diante de Deus para render, aos divinos homens a honra que
lhes convém em recompensa, e de outro lado, cuidando para o bem comum
dos fiéis, de acordo com os divinos padres que foram antes de nós,
e seguindo a prática universal, da Igreja, resolvemos por sínodo,
apontados e comandados pelo Espírito Santo, com a aprovação
também dos abençoados Patriarcas de Antioquia e Jerusalém
que vive em Constantinopla, dos sacratíssimos Metropolitas, em nossos
amados irmãos, os Arcebispos e Bispos, muito honrado no Espírito
Santo, do digníssimo e culto clero, que o acima mencionado São
Gerasimo seja venerado anualmente com ofício e salmodia sagrados, e
seja contado no número dos veneráveis e santos homens, daqui
para a frente e por todo o sempre, não só na ilha de Cefalonia,
mas por toda a Igreja dos pios, de um fim do mundo até o outro. Mas
aquele da primeira e segunda admoestação que ele seja cortado
da comunidade dos pios e que ele fique com os gentios e publicanos, de acordo
com a palavra do Evangelho". Seguem-se as assinaturas dos três Patriarcas
e outros sete hierarcas. Na cópia que leva o selo, a requisição
endereçada ao Patriarca pelos habitantes na Ilha de Cefalonia está colocada
antes do decreto. Na requisição, o povo requer, pela mediação
de um certo Bispo, que um decreto seja emitido pelo Patriarca, autorizando
a veneração de Gerásimo, e que ele seja incluído
na lista dos veneráveis e santos homens.
Outro decreto do mesmo Patriarca, datado de 1633, relativo a enumeração
de São João de Creta e seus noventa e oito companheiros ascetas
entre o coro dos santos, contem uma explanação dogmática
seguida pela assertiva: "Em um tempo muito antes do nosso, na cidade divinamente
construída de Creta, o venerável João morador do deserto
e seus companheiros ascetas, noventa e oito em numero brilharam... cujas vidas
o Senhor glorificou com milagres... tenho reunido no Espírito Santo
todos os hierarcas que se encontrou em Constantinopla, e tendo chamado o prometido
para estar connosco todos os dias, nós ordenamos que esses santos sejam
glorificados com festivais anuais e salmodia sagrada, e sejam enumerados com
o resto dos santos, tanto na Ilha de Creta e em todas as Igreja do mundo inteiro.
Estranha e gigantesca tolice seria Deus estar maravilhado em glorifica-los
como santos e nós não tivéssemos deleite em honrá-los,
ou fossemos mesmo ainda privados dos benefícios daí derivados,
especialmente porque nós estamos necessitados de tais intercessores...." Esse
decreto termina com a assinatura de vinte e um hierarcas.
O acto de enumerar entre os santos, na sua maior parte, é combinado
com a abertura das relíquias dos justos que estão sendo glorificados.
Nesses caso deve-se distinguir três actos específicos. O exame
das relíquias pode ser contado com uma das acções que
precede o ato de glorificação, junto com a verificação
dos relatos de seus milagres. Segue-se então a decisão sinodal
a respeito da glorificação. Em nossos dias, a solene remoção
das relíquias e usualmente uma das primeiras acções sagradas
na realização do acto de glorificação que terá lugar.
Com a remoção das relíquias e com a colocação
delas num relicário posto num lugar especialmente preparado na Igreja,
a comemoração orante em honra do novo glorificado favorito de
Deus começa. No entanto, a presença das relíquias e sua
abertura não são absolutamente essenciais para a glorificação.
As relíquias de muitos santos não foram preservadas. Com respeito às
relíquias de um considerável número de santos antigos,
algumas delas se constituem de corpos inteiros - ossos com carne; outros -
ossos destituído de carne.
d - Prática Russa
A remoção dos corpos do solo começou
nos primeiros tempos da Igreja. Como é sabido por documentos do segundo
século, os Cristãos reuniam cedo nos túmulos dos mártires
nos dias de seus repousos para celebrar esses dias com solenidade. São
Basílio, o Grande, e São Gregório, o Teólogo, mencionam
a exumação de relíquias dos santos. Em sua vida de Santo
Antão, Santo António relata a extraordinária reverência
dos Cristãos do Egipto pelos remanescentes dos mártires. É bem
conhecido que o Imperador Constâncio (reinou de 337-61), filho de Constantino,
o Grande, pôs em relicários as relíquias dos Apóstolos
André, Lucas e Timóteo na Igreja dos Santos Apóstolos,
nos anos 356 e 357.
Na questão da glorificação dos Santos, a Igreja Russa
seguiu a crença e prática das Igrejas do Oriente. As regras gerais
a respeito formam e continuam sendo as seguintes: a base para a enumeração
de um favorito de Deus que partiu, entre o coro dos anjos era o dom de realizar
milagres; seja durante a sua vida, como na maioria dos casos, ou depois da
morte. Na Igreja Antiga, como foi afirmado, serviços exaltados para
a Igreja ou o fim por martírio eram em si a tal base. Na Igreja Russa
ocasiões similares e de glorificação eclesiástica,
a parte de realização de milagres existiram mas eram excepções.
O que se segue difere de acordo com o grau da extensão territorial da
veneração:
1 - santos locais num sentido mais estreito, cuja celebração
começou no próprio local de seu sepultamento, fosse num mosteiro
ou numa Igreja paroquial (dos quais há inúmeros exemplos);
2 - santos locais em um sentido mais amplo, isto é, aqueles cuja veneração
fosse virtualmente limitada aos contornos da diocese e finalmente;
3 - santos gerais ou universais da Igreja, cuja primeira e segunda categoria
pertence ao Dispo Diocesano, aparentemente com o assentimento do Metropolita
ou Patriarca; o direito da glorificação geral pertence à cabeça
da Igreja Russa.
A execução da glorificação dos Santos consistia
em receber relatos dos milagres e a correspondente verificação
desses testemunhos. A essência na glorificação dos santos
está em se iniciar uma celebração anual da memória
de um santo, no dia de seu repouso ou no dia da abertura de suas relíquias,
ou ambos. Para a celebração da memória de um santo é requerido
um ofício para ele, assim como uma "vida" escrita. As autoridades
eclesiásticas viam se os ofícios e leitura do Prólogo
(Sinaxarion) do santo foram compostas "de acordo com o padrão",
isto é, se estavam conformes com uma forma e eram satisfatórias
do ponto de vista estilístico literário.
A veneração de um santo glorificado novo começa com um
ofício especial, solene, divino na Igreja na qual os restos corporais
do santo de Deus estavam localizados.
Desde tempos antigos até o presente, a glorificação dos
santos tem sido conduzida da mesma maneira na Igreja Russa; por essa razão
não houve período em sua historia que possa ter dependido de
uma mudança de condição ou do método pelo qual
a glorificação foi feita. Independente de uma glorificação
oficial, e em outros casos antes da glorificação, existiu ainda
uma "veneração" de ascetas virtuosos que partiram.
Em muitos casos foi erigida uma capela sobre o túmulo do que partiu,
e dentro dela era colocada uma prancha de túmulo ou um relicário
(se o que partiu era enterrado dentro da Igreja, o relicário era colocado
sobre o local do sepultamento; usualmente isso era um sarcófago vazio
que não continha corpo, já que o corpo estava abaixo do solo).
Paniquidas eram cantadas no túmulo e, às vezes até "molebens" para
o que partiu. Essa caprichosa declaração de tal pessoa como um "santo" pelo
canto de "molebens" foi proibida pelas autoridades eclesiásticas
como ilícitas. Existiram casos de na vida da Igreja Russa que ofícios
foram compostos para santos ainda não glorificados por uma decisão
sinodal especial; esses casos passaram para uso privado. Assim no século
XVI, Photius um monge do Mosteiro de Volokomansk, compôs um ofício
para o que partiu José de Volotsk e submeteu-o ao Metropolita Macário
de Moscovo (reinou 1543-64). "O grande luminar e professor do mundo todo,
Sua Eminência Metropolitana Macário", a supra inscrição
do ofício afirma, "tendo recebido esse ofício, abençoou
o monge Photius para usá-lo em suas orações em sua cela
até a celebração de uma exposição sinodal".
Ocasiões similares de bênçãos pelas altas autoridades
eclesiásticas de iniciativas pessoais na composição de
ofícios para ascetas ainda não glorificados por um decreto sinodal
não eram muitos frequentes. Em uma das «sborniki» (antologias)
de São Cirilo do Mosteiro de White Lake é encontrada um artigo "Sobre
a Vanglória de Jovens Monges Compõe Novos Cánones e Vidas
de Santos". O autor anónimo desse artigo se opõe a monges
que, "buscando glória terrena e querendo atrair a atenção
daqueles em autoridade, compõe novos cánones, escrevem vidas
dos que repousaram e que Deus ainda não glorificou!" Em sua conclusão,
o autor admoesta compiladores de cánones e vidas dizendo: "Ó infantis,
não componham novos cánones e vidas para serem cantados por indivíduos
em casa ou em celas monásticas, sem a bênção da
Igreja".
Em essência não há distinção entre santos
celebrados pela Igreja toda e santos locais. Santos das duas classes são
glorificados por uma resolução de autoridade hierárquica.
Os fiéis viram-se para ambos com seu rogo em oração por
assistência. A Igreja chama ambos de "santos". Na Igreja Russa,
como entre as Igrejas Ortodoxas do Oriente, santos locais em muitos casos passam
para a categoria de santos na Igreja Universal. Uma das marcas distinguindo
santos universalmente venerados de santos locais é que é verdade
que, até a metade do século XVI, não existiam em geral
nome de santos russos nas listagens oficiais, mas depois do século XVI
eles começaram a aparecer. No «Book of Epistles» (apostólo)
impresso em Moscovo no final do século XVI, há sete santos russos
encontrados: São Sérgio de Radonezh, São Pedro, Metropolita
de Moscovo, Santo Aléxis, Metropolita de Moscovo, São Leôncio,
Bispo de Rostov, São Cirilo de Byelozersk, o Grande Príncipe
Vladimir, e os Santos Portadores da Paixão Boris e Gleb. Mas começando
com o primeiro «Liturgicon» (Sluzhebinik), impresso em 1602, uma
lista dos santos geralmente celebrados foi introduzida nas listas mensais no «Typiconi» e
nas listas dos santos em outros livros litúrgicos. Durante o período
sinodal, nas resoluções do santo sínodo relativo a glorificações
eclesiásticas gerais, a seguinte indicação é encontrada
em muitas ocasiões "...nos livros impressos na Igreja é requerida
permissão para inserir nomes nas listas com o resto".
Na Igreja Russa, os primeiros a serem enumerados entre o coro dos santos foram
os príncipes Boris e Gleb (nomeados de Roman e David nos seus baptismos);
daí então seguiu São Teodósio do Lavra, das Grutas
de Kiev; então, talvez São Nicetas, Bispo de Novgorod, e a grande
Princesa Olga. Ao todo, até o século XVIII, haviam cerca de setenta
nomes de santos glorificados russos, dos quais vinte e dois eram celebrados
por toda a Igreja Russa. Os Concílios de 1547 e 1549, convocados sob
a presidência do Metropolita Macário institui a celebração
de vários santos novos, e elevou o grau de outros acrescentando trinta
e nove nomes aos vinte e dois que já estavam recebendo veneração
geral, elevando o numero para sessenta e nove. Entre esses dois Concílios
e o estabelecimento do Santo Sínodo, tanto quanto cento e cinquenta
novas glorificações tiveram lugar na Rússia Moscovita,
dos quais as datas exactas de cerca de um terço deles são conhecidas;
das demais referências indirectas, tais como a construção
de Igrejas e altares laterais dedicados a eles, e alguma menção
de passagem na literatura do período, nos proveram com alguma evidência
de alguma sanção oficial da veneração deles.
Os nomes dos santos do sudeste da Rússia deveriam ser colocados numa
categoria própria, encabeçados da lavra das Grutas de Kiev. Circunstâncias
históricas, particularmente a subjugação dos poderes estrangeiros
(Lituânia e Polónia), resultando em muito poucas glorificações
naquela região. Um ofício geral para os santos das Grutas de
Kiev foi comissionado pelo Metropolita Pedro Moghila (1633-46), a quem foi
apresentado em 1643. Antes disso, mas ainda sob Pedro Moghila, o «Pantericon
of the Caves» foi compilado, assim como relatos ocorridos no Lavra e
em suas grutas durante os quarenta e quatro anos precedentes à compilação
do livro.
Da vida de São Job de Pochaev, escrita por seu discípulo e assistente
no governo do Mosteiro de Pochaev, nós sabemos como a glorificação
do venerável, ocorreu cuja memória é especialmente reverenciada
na diáspora russa. A abertura de suas relíquias foi realizada
sete anos depois do repouso do santo, pelo Metropolita Dionísio (Balaban)
de Kiev (reinou 1657-63). A causa imediata disso foi uma aparição
ocorrida três vezes do venerável Job para o Metropolita enquanto
ele estava dormindo, informando a ele que estava agradando a Deus que suas
relíquias fossem abertas. Após a terceira aparição,
o Metropolita (que aparentemente conheceu São Job e o Mosteiro de Pochaeu
durante seu período de Bispo de Lutsk) "assim entendeu que esse
assunto estava de acordo com a providência de Deus e, não demorando,
apressou-se para o Mosteiro de Pochaeu, levando consigo Kyr Theopano (krekhovestsy),
Arquimandrita do Mosteiro de Obruchsky, que acontecia de estar com o Metropolita
naquela hora. Chegando no Mosteiro, com todo o seu clero, ele inquiriu seriamente
a respeito da vida pura e honorável de São Job em detalhe. Convencendo-se
que isso era um bom trabalho e agradava a Deus, ele sem perda de tempo, ele
ordenou, com o consentimento dos irmãos, que o túmulo do santo
fosse aberto. Lá dentro, em estado de incorruptibilidade, como se tivesse
acabado de ser sepultado, eles descobriram as relíquias do venerável,
que estavam cheias de inconcebível fragrância doce. Na companhia
de uma multidão de pessoas, eles carregaram a relíquia com adequada
honra para a grande Igreja da Trindade Vivificante, e lá, no «nartex»,
posicionaram o relicário no ano do Senhor de 1659, no dia vinte e nove
de Agosto. Então uma vasta multidão de pessoas aflitas com diversas
dores receberam cura, pois São Job foi nessa vida adornado com toda
virtude, e então, depois da morte, não cessou de fazer o bem
para aqueles que se aproximassem dele com fé" (conforme o Oficio
do Venerável Job e sua Vida, Jordanville, NY).
Depois da unificação das Rússias Moscovita e Kievana,
os santos da Rússia deveriam então serem referidos como "santos
de toda a Rússia" - os do norte e do leste da Rússia. Essa
era de facto a prática, apesar de não antes de 1762, um decreto
ter sido publicado pelo Santo Sínodo permitindo a inserção
dos nomes dos santos Kievanos nas listas mensais gerais de Moscovo, e permitindo
que seus ofícios fossem impressos em «Menaion». Esse decreto
foi repetido duas vezes depois.
No Período Sinodal, os seguintes santos foram glorificados para veneração
de toda a Igreja (eles estão apresentados em ordem cronológica,
de acordo com as datas de suas glorificações): São Demetrio,
Metropolita de Rostov; Santo Inocêncio, primeiro Bispo de Irkutsk, São
Metrofano, Primeiro Bispo de Voronzh; São Rhikon de Zadonsk, Bispo de
Voronezh; São Teodósio, Arcebispo de Chernigv; São Serafim
de Sarov; São Joasaf, Bispo de Belgorod; São Hermogeno, Patriarca
de Moscovo; São Pitirim, Bispo de Tampov; São João, Metropolita
de Tobolsk; São José, Bispo de Astrakahm.
Existiram também glorificações locais de santos durante
o período sinodal. Mas mesmo para essa era não existem listas
acuradas ou os fatos confiáveis a respeito de circunstancias e datas
da glorificação deles, já que as decisões para
glorificações locais foram feitas sem proclamação
formal, nos registros dos decretos dos Santos Sínodos, pois até o
aparecimento das publicações oficiais do Sínodo - The
Church Register e o Diocesan Register - esses não eram de todo publicado.
e - Necessidade de Alta Autoridade
Na Igreja Russa, como no Oriente Ortodoxo, quanto maior a área
proposta para a veneração, maior a autoridade eclesiástica
necessária para confirmá-la.
Quando em 1715, o Padre e os paroquianos da Igreja da Ressurreição
em Totma (Província de Vologda) procuravam o Arcebispo de Veliky Ustiug
com o pedido de, em vista dos muitos milagres que tinham ocorrido no túmulo
de Maximus, um Padre e "louco em Cristo" da cidade, que havia repousado
em 1650, o Arcebispo abençoou a construção de uma Igreja
dedicada a Santa Parasceva sobre o seu túmulo "como era costume
para os santos de Deus, e também construir sobre suas relíquias
um sarcófago e um santo ícone para cobri-lo". Em resposta
a esse pedido, o Arcebispo decretou "que um monumento fosse construído
naquela Igreja e que «molebens» fossem cantados para São
Máximo de maneira santa, como para os outros favoritos de Deus".
Assim, pode-se concluir que o Arcebispo abençoou a veneração
local baseado em sua autoridade pessoal.
Como exemplos de como a execução Sinodal de assunto pertinentes
aos justos que partiram aconteciam, citaremos vários extractos de actos
relacionados à glorificação de santos "de toda a
Rússia".
Observando a instituição da celebração geral eclesiástica
da memória de São José de Volotsk, o seguinte relatório é encontrado
em uma das antologias de Volokolansk: "Por ordem do justo-fiel e amante
de Cristo o Soberano Autocrata, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich
de Toda a Rússia, e com a benção de seu pai, Sua Santidade
Job, primeiro Patriarca de Moscovo e de toda Rússia, o tropário, «kondakion», «estiquérios» e
cánon, e todo o ofício para a Liturgia para nosso venerável
pai e abade José de Volotsk, foram corrigidos pelo abade Josafa em 01
de Junho, 7099 (isto é, 1591). E o Soberano Autocrata, Tsar e Grande
Príncipe Feodor Ivanovich de Toda Rússia, e Sua Santidade Job,
Patriarca de Moscovo e Toda Rússia e o Concílio todo, em assembleia
geral testemunharam o canto do tropário, «kondanion», os «estiquerios»,
o cánon, e o ofício da Liturgia para o venerável José.
Baseados na opinião de todo o Concilio, o Tsar e o Patriarca ordenaram
que o oficio fosse cantado e celebrado em todos os lugares no dia 04 de Setembro,
o dia do repouso do nosso venerável Pai José, o Taumaturgo, que é o
dia da comemoração dos santos e justos ancestrais de Deus, Joaquim
e Ana. O Soberano, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich ordenou que «menaion» impresso
e em todos «menaia» no mesmo dia o «kondakion», «estiquério»,
cánon e todo o oficio para o venerável José fosse impresso,
junto com a festa da Natividade da Santíssima «Theotokos» e
aquela dos Ancestrais de Deus, assim instituindo e confirmando que essa festa
fosse celebrada dessa maneira, imutável, em todos os lugares, para sempre.
Amén.". A veneração de São José foi
instituída três vezes - duas localmente e uma generalizada. Suas
relíquias não foram abertas e permanecem até o dia presente
em baixo de uma lápide.
Por um decreto do Patriarca Job (reinou 1586-1605) datado de 1600 e localizado
no Mosteiuro Korniliev na Província de Vologna, fica-se sabendo como
o estabelecimento da veneração geral de São Cornélio
de Komel aconteceu. O abade José do Mosteiro de Korniliev relatou ao
Patriarca que uma capela lateral havia sido construída no Mosteiro em
honra de São Cornélio, que ele não havia sido consagrado
ainda, e que "por muitos anos eles haviam pedido cura para São
Cornélio e tinha recebido, e os cegos, os coxos e aqueles que estavam
aflitos com muitas dores foram curados". Com isso, o Abade José submeteu
ao Patriarca em Concílio os estiquéros, canones, e vida de São
Cornélio. O Patriarca, Bispos, e todos os outros que atendiam o Concílio
questionaram o Arcebispo Jonah de Vologda a respeito dos milagres de São
Cornélio e receberam dele a resposta que de facto "no relicário
de São Cornélio o Taumaturgo, muitos milagres inefáveis
tiveram lugar, e é bem sabido que os milagres realizados por ele não
são falsos". Mais tarde, eles todos prestaram atenção
no «estiquério», cánon e vida de São Cornélio
e acharam que a vida escrita estava "de acordo com a imagem e semelhança".
Depois disso, o Patriarca e o Concílio relataram o assunto ao Tsar Boris
Feodorovich Godunov (reinou 1548-1605), e o soberano, tendo conferido com o
Patriarca e com o Concílio, ordenou que as "Vésperas fossem
celebradas e a Vigília de Toda Noite e a Liturgia de Deus fossem servidas
na Igreja Católica Apostólica da Puríssima Mãe
de Deus, dedicada à sua Dormição na cidade capital de
Moscovo, no dia da comemoração do Santo Mártir Patrício,
Bispo de Prusa, em 19 de Maio, e nas catedrais das províncias metropolitanas,
nas sés arquiepiscopais e episcopais de toda a Grande Rússia,
como era feito para o resto dos santos; e nos mosteiros de São Cornélio,
e na Igreja Catedral de Sofia a Sabedoria de Deus em Vologda, e nos subúrbios,
e nas santas Igrejas de Deus e nos distritos distantes e nas cidades circundantes
e todo o território submetido ao Arcebispo de Vologda, é ordenado
celebrar a memória de Cornélio o Taumaturgo em 19 de Maio".
Vemos nesses extractos que a instituição da glorificação
de santos era tratada com grande atenção e zelo. Mais de uma
vez as autoridades eclesiásticas negaram pedidos para glorificação
dos reverenciados que partiram se elas não viam provas incontestáveis
e firmes nas quais pudessem basear tal glorificação.
As palavras dos decretos sinodais a respeito de glorificação
dos santos mostra-nos claramente o entendimento Ortodoxo dessas acções
como uma confissão conciliar universal de parte da Igreja de uma firme
crença ou certeza que Deus glorificou Seu favorito nos céus,
e que por isso nós devemos glorifica-Lo também, com júbilo,
na terra. Esse pensamento é expresso nos actos do período sinodal,
e foi notado exacta e completamente.
No relato oficial da glorificação do Santo Hierarca Metrofanes
de Voronnezh, nós lemos: "Quando pela investigação
que foi conduzida, um verdadeiro ato de Deus, maravilhoso em Seus Santos, torna-se
suficientemente aparente para o Santo Sínodo. Sobre a incorruptibilidade
do corpo do Santo Hierarca Metrofanes e as curas que tiveram lugar por suas
relíquias, o Santo Sino não mais atrasou em solenemente revelar
para Igreja esse dom de Deus, isto é, com a bênção
hierárquica ele permitiu o que até aquele tempo tinha sido um
ato de zelo pessoal, o chamado pela intercessão de Nosso Pai entre os
santos Metrofanes em suas orações para Deus, e a colocação
de suas relíquias realizadas de maravilhas e curativas como uma vela,
não em baixo de um arbusto, mas num candelabro, para que todos fossem
iluminados. A celebração eclesiástica anual desse Santo
Hierarca foi fixada na data de seu repouso - 23 de Novembro".
O decreto de glorificação de São Thikon de Zadonsk diz: "A
memória de Sua Graça Thikon, Bispo de Voronezh... tem sido honrada
com reverencia entre o povo Ortodoxo russo que se dirigiu ao Mosteiro de Zaronsk
para o túmulo do Hierarca de grandes distancias em uma grande multidão,
orando pelo repouso da alma desse hierarca e esperando por sua orante intercessão
diante de Deus. Memória das elevadas virtudes Cristãs com que
ele brilhou na sua vida terrestre, novas da evangélica sabedoria que
ficaram em seus escritos, divinamente iluminados, e as miraculosas curas de
diversos males realizados no seu túmulo trouxeram muitos fiéis
para a veneração do Santo Hierarca. Em tudo isso uma pia esperança
que esse Hierarca que tem sido glorificado por Deus seja enumerado entre o
coro dos santos. Mesmo no fim do último século XVIII tal esperança
foi expressa em petições submetidas para Sua Alteza Imperial
e para o Santíssimo Sínodo". Arcebispo Antonio de Voronezh,
no próprio dia de seu (Tikhon) repouso, escreveu uma carta ao Imperador
Nicolas a respeito do universal fervoroso desejo de inúmeros peregrinos "que
esse grande luminar da fé e boas obras que agora jaz embaixo de um arbusto,
seja colocado diante dos olhos de todos". O Sínodo, em seu relato
ao soberano, anunciou sua decisão, começando com as seguintes
palavras: "Reconhecendo o Bispo Thikon de Voronezh como entre o coro dos
santos que foram glorificados pela graça de Deus pela fragrância
da santidade e seu incorrupto corpo como santas relíquias".
A resolução a respeito da glorificação de São
Serafim de Sarov é expressa de maneira similar: "Reconhecendo o
pio Staretz Serafim que repousou na Hermitage de Sarov, como estando no coro
dos santos glorificados pela graça de Deus".
Como é bem sabido, e ainda lembrado por algumas pessoas, nas últimas
décadas antes da queda da Rússia, a glorificação
dos santos da Igreja Russa, tais como São Teodósio de Chernigov,
São Serafim de Sarov e outros casos posteriores, foram grandes festividades
religiosas nacionais, no centro das quais estavam as aberturas das relíquias
desses santos de Deus. Geralmente, as glorificações de Santos
Russos no século dezoito ao século vinte foram marcadas pela
abertura de suas santas relíquias. Isso mostra que esses actos estavam
intimamente ligados, apesar de que, como já foi dito, a abertura das
relíquias não era uma condição absolutamente essencial
e nem sempre seguiu-se imediatamente depois do acto de glorificação.
f - Conclusão
De tudo que foi dito, podemos tirar muitas conclusões.
Essencialmente, de acordo com o entendimento da Igreja e de acordo com os princípios
de glorificação dos Santos, esta foi sempre a mesma na Igreja
Ortodoxa. Nessas questões, as Igrejas Ortodoxas Orientais do segundo
milénio seguiram a Tradição da Igreja do primeiro milénio
e do período mais antigo. A Igreja Russa depois da era de Pedro, o Grande,
permaneceu fiel aos costumes da era pré-Petrina. A glorificação
dos Santos consistia e consiste em uma generalizada afirmação
de fé pela Igreja que Deus uniu os que partiram à assembleia
de seus Santos. Essa fé é baseada nos factos que uma morte por
martírio, ou depois de uma vida justa que foi aparente para toda a Igreja,
ou pela glorificação do santo de Deus pelas realizações
miraculosas em sua vida ou no seu túmulo. A glorificação é usualmente
uma expressão da voz do povo da Igreja, para quem as mais altas autoridades
eclesiástica, depois da devida verificação, da palavra
final dada pelo sínodo, estabelecendo, reconhecendo, confirmando e dando
a sanção da Igreja. A glorificação dos santos está entre
as actividades mais importantes da Igreja. Em sua base, em seu aspecto elementar,
a glorificação consiste no virar as orações de "para
o morto" para pedidos pela intercessão do santo diante de Deus,
e em sua glorificação por ofícios para o «menaion
geral» ou com ofícios especialmente compostos. A glorificação
de um santo e abertura de suas relíquias não constitui um único,
inseparável ato, apesar de muitas vezes serem realizados justos. A Igreja
Ortodoxa não mantém que seja essenciais que um período
fixo de tempo passe entre o repouso de um homem justo e sua enumeração
entre o coro de santos, como é aceite na confissão católica
romana, que institui um período de várias décadas (usualmente
cinquenta anos da data da morte para a "beatificação",
um processo que grosseiramente corresponde à veneração
local, e oitenta para a canonização).
Nos milagres realizados através de orações ou nos túmulos
dos justos de Deus, a Igreja Ortodoxa vê a vontade de Deus na glorificação
desses lutadores. Quando esses sinais não existem, a Igreja não
vê a vontade de Deus em sua solene glorificação, como uma
das resoluções do Patriarca Adriano de Moscovo (reinou 1690-1700)
expressa com relação a uma certa requisição para
a glorificação: "Se o Senhor Nosso Deus, o Criador de tudo,
glorifica qualquer um nessa vida, e depois de sua morte, declara isso para
seu povo através de muitos milagres, então os milagres dessa
pessoa tornam-se claramente conhecidos, pois muitos santos taumaturgos foram,
encontrados na Santa Igreja, cujas memórias a Igreja sempre canta e
mantém as suas relíquias. Eles não são conhecidos,
quando Deus Todo Poderoso não se agradou em glorificar com sinais e
milagres, ainda que a pessoa tenha vivido como justo, de uma santa maneira,
e não são como aqueles que a Igreja glorifica. O nome de muitos
não é lembrado, e o mundo todo não pode conter os livros
com os nomes que poderiam ser escritos".
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011