Catecismo Ortodoxo

Parte III

Apêndice

2 - A glorificação dos Santos
a - Introdução

O que é, em essência a glorificação pela Igreja dos Santos? Na Igreja Santa Católica e Ortodoxa a memória em oração de cada um de seus membros que partiu na fé, esperança e arrependimento é cuidada. Essa comemoração da maioria dos que partiram é limitada, comparativamente ao estreito círculo da "Igreja doméstica" ou, em geral, a pessoas de relação sanguínea próxima ou adquirida com os que partiram. Ela é expressa pela oração pelos que partiram, oração pela remissão dos pecados, que "sua alma seja cantada entre os justos", que "seu repouso seja entre os santos". Esse é um fio espiritual que liga os que estão na terra aos que partiram; é uma expressão de amor que é benéfica tanto para os que partiram quanto para os que oram por eles. Se, depois da morte, ele não é privado da visão da glória de Deus, por seus pecados pessoais, ele responde com suas orações próprias para aqueles próximos a ele na terra.
Pessoas que são grandes em seu espírito Cristão, gloriosos em seu serviço à Igreja, faróis iluminando o mundo, deixando atrás de si uma memória que não é confinada a um mundo estreito de pessoas, mas uma memória que abrange toda a Igreja local ou universal. Confiança em eles terem atingido a glória do Senhor e no poder de suas orações, mesmo depois de mortos, é tão grande e não questionada que o pensamento de seus irmãos na terra não é canalizado para o perdão de seus pecados (já que eles são santos diante do Senhor sem isso), mas para a louvação de suas lutas, para aceitar suas vidas como modelo para si próprio, e para pedir as orações deles por nós.
Em testemunho da profunda certeza da Igreja que um homem justo que repousou está com o Senhor, no coro dos santos na Igreja celeste, ela Igreja compõe um ato de "numerá-los entre os santos" ou de "glorificação". Por esse ato a Igreja dá a sua bênção para a mudança de oração para os que repousam para oração de pedido para nós assistência diante do trono de Deus. A voz unânime da Igreja, expressa através dos lábios de seus hierarcas, a voz conciliatória, confirma a convicção de seus membros comuns a respeito da santidade do homem justo. Tal é a essência do ato de glorificação. Nada na Igreja deve ser arbitrário, mas "próprio e ordenado". A preocupação da Igreja com relação a isso é expressa pelo oferecimento de uma súplica orante uniforme para o justo.
À s vezes a comemoração de um justo que partiu não se estende além de uma região particular. Outros santos de Deus tornaram-se famosos e renovados em toda a Igreja mesmo durante a sua actividade terrestre; eles são a glória da Igreja e mostram ser os pilares da Igreja. Uma resolução eclesiástica sobre a glorificação deles confirma essa comemoração para sempre no domínio próprio, isto é, na Igreja local que ele fez essa resolução, ou em toda Igreja Universal.
A assembleia dos Santos na Igreja celeste de todos os tempos é grande, além de numerosa. Os nomes de alguns santos são conhecidos na terra; outros permanecem desconhecidos. Os santos são como estrelas - aqueles mais perto de nós são vistos mais claramente; no entanto, incontáveis outros pontos de luz existem pelo espaço, além do alcance da visão humana. Assim, na comemoração da Igreja, os santos são glorificados em grandes grupos e assembleias completas, assim como individualmente. Tais são as comemorações de mártires que foram mortos em centenas e milhares, os Padres dos Concílios Ecuménicos, e, finalmente a celebração geral de "todos os santos", a anual (o primeiro domingo após o Pentecostes; o segundo domingo após o Pentecostes para todos os santos da Rússia), e a semanal (todos os sábados).
Como ocorreu e ocorre a glorificação dos grandes hierarcas, ascetas, e outros reconhecidos como santos da Igreja? Na base de que principio, porque critérios, porque rito - no geral, e em casos individuais? Pesquisa pelo professor E. Golubinsky, «The Historyof The Canonization of Saints in the Russian Church» (2ª edição, Moscovo: University Press, 1903) é dedicada a essa questão. Na exposição que se segue iremos, em sua maior parte, fazer do trabalho do Professor Golubinsky.
Quanto ao uso do termo canonização dos santos, o Prof. Golubinsky admite nas primeiras linhas de seu livro que, apesar desse termo ser etimológico, derivado da palavra grega «canon», ele forma uma parte da terminologia da Igreja latina e não é empregado pelos Ortodoxos gregos. Essa é uma indicação que nós não precisamos usar esse termo; e de facto, mesmo no seu próprio tempo o Prof. Golubinsky foi recriminado por usar o termo assiduamente, especialmente porque o espírito e carácter da glorificação Ortodoxa é alguma coisa diferente da canonização da confissão romana. A canonização da Igreja Romana, em sua forma contemporânea, consiste em uma solene proclamação pelo Papa: "Nós, resolvemos e determinamos que o Bem Aventurado N. é um santo e o colocamos no catálogo dos santos, ordenando que toda a Igreja honre sua memória com reverência...." A expressão Ortodoxa "enumerando-o entre o coro dos santos" não tem fórmula especial, fixa, mas o seu sentido deve ser expresso assim: "Nós confessamos que N. está (é enumerado com) o coro dos santos de Deus".

b - Testemunhos do Início da Igreja

Nos primeiros séculos da Igreja Cristã, três tipos básicos de santos eram reconhecidos. Eram:
A - do Velho Testamento patriarcas, profetas (entre os quais São João, o Precursor, é preeminente) e do Novo Testamento os Apóstolos;
B - os mártires, que ganharam coroas de glória pelo derramamento de seu sangue;
C - hierarcas destacados que serviram a Igreja, assim como pessoas aclamadas por suas lutas pessoais (os justos e os ascetas).
Com relação a patriarcas, profetas, apóstolos e mártires ser membro em qualquer dessas categorias carregava consigo o reconhecimento como santo.
É sabido pela história que reuniões de oração eram feitas em honra dos mártires tão cedo quanto o primeiro quarto do século II (conforme São Inácio de Antioquia). Com toda probabilidade, elas começaram no período imediatamente posterior á primeira perseguição dos Cristãos... a de Nero. Parece que nenhum decreto eclesiástico especial era requerido para autorizar a veneração em oração desse ou daquele mártir em particular. A própria morte do mártir testemunhava a recepção da coroa celeste. Mas a enumeração dos hierarcas e ascetas que haviam partido entre o coro dos santos era feita individualmente, e era naturalmente levada avante baseada no valor pessoal de cada um.
É impossível dar uma resposta geral a respeito de que critério a Igreja usa para reconhecer os santos dessa terceira classificação. Com respeito aos ascetas em particular, sem dúvida a base geral e fundamental de sua glorificação é a realização de milagres. Isso porque a evidência sobrenatural é livre de caprichos e influências humanas. O Prof. Golubinsky considera essa indicação a única base para glorificação dos ascetas na história da canonização eclesiástica. Apesar dessa opinião do Prof. Golubinsky, no entanto, pode-se concluir que a comemoração dos grandes Cristãos moradores do deserto de antigamente, os lideres e guias do monasticismo, foi mantida pela Igreja pelos dons didácticos e por elevados alcances espirituais deles à parte da estrita dependência se eles foram glorificados pelo dom de realizar milagres. Eles foram enumerados entre o coro dos santos estritamente por suas vidas ascéticas, sem nenhuma referência particular a tal critério (realização de milagres).
A antiga glorificação pela Igreja de santos hierarcas deve ser vista algo diferentemente. O elevado serviço deles foi a base para sua glorificação; como o santo martírio final foi para os mártires. No calendário cartaginense, que data do século VII, existe uma inscrição: "Aqui estão registrados os aniversários (isto é, datas do martírio) dos mártires e os dias de repouso dos Bispos cuja comemoração a Igreja de Cartago celebra". Assim, julgando por antigos calendários litúrgicos gregos, deve-se supor que na Igreja grega todos os Bispos Ortodoxos que não tivessem se maculado de modo algum eram enumerados entre o coro dos santos locais da diocese deles, com base na crença que sendo intercessores mesmo na vida além túmulo. Nos calendários eclesiásticos do Patriarcado de Constantinopla, todos os Patriarcados, todos os Patriarcas que ocuparam a Sé entre AD 315 (Santo Metropolitas) e AD 1025 (Santo Eustátios), com excepção daqueles que foram heréticos ou que por uma razão canónica foram depostos, são registados na lista dos santos. Essa compilação, no entanto, foi pouco feita na sequência em que os Patriarcas ocuparam a sé. Com toda probabilidade, os Bispos mais renomados foram reconhecidos como santos imediatamente depois do seu repouso; em outros casos essa inclusão ocorreu em algum outro tempo.
Os nomes de todos os Bispos que partiram entravam no díptico local - as listas dos que partiram que eram lidas alto nos ofícios divinos, e todo ano, na data do repouso de cada um deles sua comemoração era feita com especial solenidade. Sozomem, o historiador da Igreja, afirma que nas Igrejas individuais ou dioceses, a celebração de seus mártires locais e a comemoração de seus padres anteriores (isto é, os hierarcas) eram observadas. Aqui ele usa o termo "celebração" em referencias à memória dos mártires, mas "comemoração" em referência aos hierarcas, levando a ser entendido que na Igreja antiga os eventos dos hierarcas, eram de menor estatura que os dos mártires (se é próprio falar de um plano geral e não de casos individuais). O Prof. Golubinsky conjectura que, com relação a hierarcas, depois de um certo número de anos de orações fervorosas por eles, a celebração anual de suas memórias eram transformadas num dia de oração para eles. De acordo com o testemunho de Simeão da Tessalónica, desde os primeiros tempos em Constantinopla os hierarcas eram enterrados, dentro do santuário, na maior Igreja, a dos Apóstolos, como as relíquias dos santos, por causa da graça do divino sacerdócio.
Na Igreja grega, até o século XI, muito poucos do coro dos hierarcas foram santos venerados universalmente pela Igreja, toda. A maior parte dos hierarcas permaneceu santo local das Igrejas individuais (isto é, dioceses), e cada diocese/Igreja individual celebrava só os seus próprios hierarcas locais, com um número muito pequeno de hierarcas venerados universalmente por toda a Igreja. Com o século XI a transformação do coro de hierarcas de local para universal, ocorreu, e como resultado existe um grande número de nomes. Essa foi provavelmente a razão pela qual, desse século em diante, a enumeração de hierarcas entre o coro dos santos foi levada mais estritamente, e como um critério para a enumeração de qualquer Patriarca de Constantinopla, entre os santos foi declarado necessário ter-se irrefutáveis evidências de seus milagres, e isso foi requerido também para a glorificação dos ascetas.
Nas Igrejas locais (dioceses) o direito de reconhecer indivíduos como santos pertencia aos seus bispos e seu clero ou a oficiais sujeitos a autoridade deles (bispos e clero). É também bem possível que os bispos não realizassem tais actos sem o conhecimento e consentimento do Metropolita e do Sínodo dos Bispos da província metropolitana. Às vezes os leigos determinavam antecipadamente, de sua determinação erigiam Igrejas dedicadas a tais ascetas aparentemente na certeza, que a benção da hierarquia, ocorreria num futuro próximo.
Quando Simeão, o Pio, staretz e guia de São Simeão, o Novo teólogo, repousou no Senhor depois de quarenta e cinco anos de trabalhos ascéticos. São Simeão conhecendo a intensidade de suas lutas, sua pureza de coração, sua proximidade de Deus e a Graça do Espírito Santo que o recobria, compôs em sua honra um Eulogio, assim como hinos e cánones, e celebrava a sua memória anualmente com grande solenidade, tendo pintado um ícone dele como santos. Outros, talvez, dentro e fora do mosteiro, seguiram seu exemplo, pois Simeão, o Pio, tinha muitos discípulos e admiradores entre monges e leigos. São Sérgio II, então Patriarca de Constantinopla (reinou 999-1019), ouviu sobre isso, e convocou São Simeão a apresentar-se diante dele e questionou-o a respeito da festa e do Santo que estava sendo tão honrado. Mas percebendo que Simeão, o Pio, tinha levado uma vida tão exaltada, ele não proibiu a veneração de sua memória, e ainda enviou lamparinas e incenso em memória de Simeão, o Pio. Dezesseis anos se passaram sem incidentes. Mas mais tarde, um certo influente Metropolita aposentado que residia em Constantinopla objectou a qualquer veneração conduzida por iniciativa privada. Tal coisa parecia a ele blasfema e contrária à ordem da Igreja. Algumas poucas paróquias através de seus padres e alguns leigos concordaram com o Metropolita, e nesse ponto começaram as perturbações que duraram cerca de dois anos. Para atingir sua meta, os oponentes de São Simeão não pararam com difamações dirigidas ao Santo e seu staretz. São Simeão recebeu a ordem de comparecer perante o Patriarca e o seu Sínodo para dar uma explicação. Sua resposta foi que, seguindo os preceitos dos Apóstolos e dos Santos Padres, ele não poderia se refrear em honrar seu guia, mas que ele não compelia outros a fazê-lo, que ele estava agindo de acordo com sua consciência, e que os outros poderiam fazer o que achassem melhor. Satisfeito com essa apologia, eles no entanto ordenaram a São Simeão que daí por diante celebrasse a memória de seu staretx tão modestamente quanto possível sem qualquer solenidade. A controvérsia continuou por cerca de seis anos, no entanto, uma vingança completa foi lançada contra o ícone de Simeão, o Pio, no qual ele estava pintado na companhia de outros santos, com uma inscrição que se referia a ele como "santo" e obscurecido por Cristo, o Senhor em posição de benção. O resultado disso foi que, para a paz da mente e o estabelecimento da paz, São Simeão decidiu deixar Constantinopla e assentou-se num lugar remoto perto da antiga Igreja de Santa Marina, onde mais tarde ele construiu um mosteiro, com relação à questão da veneração em si, o decreto prévio permaneceu em vigor, isto é, a celebração era permitida desde que não fosse conduzida com solenidade (conforme "Life of S. Symeon the New Theologism" em seus Discourses, edição Bispo Teofano, 2 volumes [Moscovo: Ephimon Press, 1892], vol 1, p. 3-20).
O incidente citado acima demonstra de um ponto de vista, que conhecimento de uma vida justa e ascética conduz a firme convicção a respeito de sua permanência na companhia dos santos depois de sua morte e a sua veneração; de outro lado, o incidente testemunha o facto que naquele tempo (século XI), os costumes e procedimentos da Igreja requeriam uma definida confirmação pelas mais altas autoridades da Igreja e um decreto sinodal sancionando a veneração pública.
No futuro a Igreja Grega conheceria duas classificações dos novos santos glorificados: mártires e ascetas.

c - Mártires e Ascetas

Sob o domínio turco, a Igreja Grega teve um número não pequeno de mártires que foram mortos pelo seu excepcional zelo pela fé cristã e por denunciar o Islão publicamente. A Igreja Grega mais recente e a Igreja Universal com ela, tem olhado e continua a aceitar o martírio deles assim como a Igreja Antiga olhava os mártires do início da era cristã, desconhecendo o martírio como base suficiente para a glorificação, independente do dom de realizar milagres, terem tido lugar em muitos casos. Um grande número de mártires apesar de milagres terem tido lugar em muitos casos. Um grande número de mártires gregos não foram proclamados como santos de nenhuma maneira oficial e eram frequentemente honrados como "zelotes", sem nenhum deliberado interrogatório ou proclamação por parte da grande Igreja de Constantinopla, pois isso teria sido muito difícil de se fazer sob as condições do domínio turco. São Nicéforo de Chios, que compôs um "Ofício Geral para Qualquer Novo Mártir", explicando a necessidade de tal ofício afirma: "Porquanto a maioria dos novos mártires não tem um ofício para celebrar, e desde que muitas pessoas estão desejosas de tal ofício - um, para honrar seu companheiro de cidade, outro para honrar alguém conhecido dele pessoalmente; outro ainda que o havia ajudado em alguma necessidade, por essa razão eu compus um ofício geral para qualquer novo mártir. Possa ele então, que deseja assim, cante tal ofício para aquele mártir para quem ele tem veneração". O autor de «A History of the Canonization of the Saints in the Russian Church» acredita que mártires em geral que eram honrados sem glorificação oficial eram incluídos no caso acima. Se essa suposição é acurada é difícil de ser determinada.
Como antes, na Igreja Oriental o critério que tinha que ser atendido para a glorificação de ascetas, fossem eles hierarcas ou monásticos, era o dom de realizar milagres. O Patriarca Nectário de Jerusalém (reinou de 1661-1669), dá um lúcido testemunho a respeito disso. Ele escreve: "Três coisas certificam a verdadeira santidade em pessoas: 1) Ortodoxia irrepreensível, 2) perfeição em todas as virtudes, que são coroadas por manter a fé, mesmo com o derramamento de seu sangue, e finalmente, 3) a manifestação por Deus de sinais e maravilhas sobrenaturais". Em acréscimo a isso, o Patriarca Nectário indica que naquele tempo, quando abusos no relato de milagres e virtudes eram ocorrências comuns, frequentemente ainda outros sinais eram requeridos, por exemplo, não corrupção dos corpos ou uma fragrância emanando dos ossos.
No oriente, o direito de glorificar um santo para veneração local pertence aos Metropolitas, o Metropolita vê: para a veneração geral por toda a Igreja de Constantinopla, o Patriarca de Constantinopla com o seu Sínodo dos Bispos da a bênção. Actos, que aparentemente, constituem uma excepção a esse respeito, glorificando os seus próprios ascetas para veneração local na Montanha Santa pela autoridade pessoal das irmandades, ou por mosteiros individuais, ou pela sinodia de «Protato» para a inteira comunidade Atonista. Também, o dom de realizar milagres dificilmente pode ser considerado obrigatório como base para a glorificação, ainda mais que alguém pode levar uma vida ascética, confirmada posteriormente pelo sinal de fragrância emanando dos ossos, como tal base.
Da compilação de documento do Patriarcado de Constantinopla relativos à glorificação de santos, que é um apêndice da segunda edição da «History of the Canonization of the Saints in the Russian Church», pode formar-se uma ideia de como a glorificação foi levada.
No século XIV veio para a Rússia um decreto do Patriarca João XIV (reinou 1333-1347) endereçado a Theognostos, Metropolita de Kiev e toda a Rússia (reinou 1328-1353, residente em Moscovo), datado de Julho de 1339, a respeito da enumeração de seu predecessor, São Pedro, Metropolita de Moscovo (reinou 1308-1326), entre os santos: "...Nós recebemos a carta de Tua Santidade, junto com a notificação e atestado a respeito do hierarca da santa Igreja que foi antes de ti, e que após a morte foi glorificado por Deus e mostrou ser um de Seus verdadeiros favoritos, e que grandes milagres são realizados por ele e que toda doença é curada. E nós nos rejubilamos com isso, e estamos muitíssimo alegres em espírito, e rendemos a Deus adequada glorificação. E como Tua Santidade procurou orientação connosco em como agir com tais santas relíquias, nós respondemos: Tua Santidade própria sabe, pois tu não és ignorante sobre a maneira do ritual e costume da Igreja de Deus proceder em tais casos. Tenho recebido um firme e incontestável atestado a respeito do Santo, que Tua Santidade no presente evento aja de acordo com o Rito da Igreja. Honrem e benzam o favorecido de Deus com hinos e sagradas doxologias, e deixem em testamento isso para os tempos futuros, para a louvação e glória de Deus, Que glorifica aqueles que O glorificam...".
No eulógio do Patriarca Philoteus de Constantinopla (reinou 1354-1355, 1364-1376) para São Gregório Palamas, Arcebispo de Tessalónica, com relação a enumeração do Arcebispo entre o coro dos santos, depois de um relato de dez milagres realizados no túmulo do santos, nós lemos: "Por consequência (isto é, devido ao facto que muitos milagres ocorreram ao tumulo do Arcebispo), os maiores amantes de Deus e preeminentes deles presentes (os cidadãos de Tessalónica) e especialmente deles os padres, tomaram conselhos juntos, colocaram um ícone sagrado de Gregório e estão celebrando um radioso festival para todo o povo no dia de seu repouso, e se apressam e erigir uma Igreja para ele, pois ele é um glorioso discípulo de Cristo. Eles não estão esperando pelas assembleias dos grandes homens, ou por qualquer Concílio Geral para proclamá-lo (um santo), pois tais coisas às vezes são um embaraço, um peso, um obstáculo e um cuidado, e são todas muito humanas, mas eles estão satisfeitos, como é louvável, com uma proclamação do alto, com a irrefutável e luminosa contemplação de suas obras, e com fé". Do discurso do Patriarca Philoteus fica claro que: 1) São Gregório Palamas foi enumerado entre os santos pelos milagres ocorridos em seu túmulo, e 2) sua glorificação foi realizada pelo Metropolita de Tessalónica.
Decretos de origem muito posterior à época citada falam claramente de averiguações especiais pelos Sínodos relativos à glorificação. Assim, num decreto do Patriarca Cirilo I (reinou 1621-1623; 1632-33; 1633-34, 1637-38) a respeito da glorificação de São Gerasino de Cefalonia, seguindo uma explanação dogmática do ensinamento Ortodoxo relativo ao Santo, nós encontramos: "E nós, de um lado, prontos diante de Deus para render, aos divinos homens a honra que lhes convém em recompensa, e de outro lado, cuidando para o bem comum dos fiéis, de acordo com os divinos padres que foram antes de nós, e seguindo a prática universal, da Igreja, resolvemos por sínodo, apontados e comandados pelo Espírito Santo, com a aprovação também dos abençoados Patriarcas de Antioquia e Jerusalém que vive em Constantinopla, dos sacratíssimos Metropolitas, em nossos amados irmãos, os Arcebispos e Bispos, muito honrado no Espírito Santo, do digníssimo e culto clero, que o acima mencionado São Gerasimo seja venerado anualmente com ofício e salmodia sagrados, e seja contado no número dos veneráveis e santos homens, daqui para a frente e por todo o sempre, não só na ilha de Cefalonia, mas por toda a Igreja dos pios, de um fim do mundo até o outro. Mas aquele da primeira e segunda admoestação que ele seja cortado da comunidade dos pios e que ele fique com os gentios e publicanos, de acordo com a palavra do Evangelho". Seguem-se as assinaturas dos três Patriarcas e outros sete hierarcas. Na cópia que leva o selo, a requisição endereçada ao Patriarca pelos habitantes na Ilha de Cefalonia está colocada antes do decreto. Na requisição, o povo requer, pela mediação de um certo Bispo, que um decreto seja emitido pelo Patriarca, autorizando a veneração de Gerásimo, e que ele seja incluído na lista dos veneráveis e santos homens.
Outro decreto do mesmo Patriarca, datado de 1633, relativo a enumeração de São João de Creta e seus noventa e oito companheiros ascetas entre o coro dos santos, contem uma explanação dogmática seguida pela assertiva: "Em um tempo muito antes do nosso, na cidade divinamente construída de Creta, o venerável João morador do deserto e seus companheiros ascetas, noventa e oito em numero brilharam... cujas vidas o Senhor glorificou com milagres... tenho reunido no Espírito Santo todos os hierarcas que se encontrou em Constantinopla, e tendo chamado o prometido para estar connosco todos os dias, nós ordenamos que esses santos sejam glorificados com festivais anuais e salmodia sagrada, e sejam enumerados com o resto dos santos, tanto na Ilha de Creta e em todas as Igreja do mundo inteiro. Estranha e gigantesca tolice seria Deus estar maravilhado em glorifica-los como santos e nós não tivéssemos deleite em honrá-los, ou fossemos mesmo ainda privados dos benefícios daí derivados, especialmente porque nós estamos necessitados de tais intercessores...." Esse decreto termina com a assinatura de vinte e um hierarcas.
O acto de enumerar entre os santos, na sua maior parte, é combinado com a abertura das relíquias dos justos que estão sendo glorificados. Nesses caso deve-se distinguir três actos específicos. O exame das relíquias pode ser contado com uma das acções que precede o ato de glorificação, junto com a verificação dos relatos de seus milagres. Segue-se então a decisão sinodal a respeito da glorificação. Em nossos dias, a solene remoção das relíquias e usualmente uma das primeiras acções sagradas na realização do acto de glorificação que terá lugar. Com a remoção das relíquias e com a colocação delas num relicário posto num lugar especialmente preparado na Igreja, a comemoração orante em honra do novo glorificado favorito de Deus começa. No entanto, a presença das relíquias e sua abertura não são absolutamente essenciais para a glorificação. As relíquias de muitos santos não foram preservadas. Com respeito às relíquias de um considerável número de santos antigos, algumas delas se constituem de corpos inteiros - ossos com carne; outros - ossos destituído de carne.

d - Prática Russa

A remoção dos corpos do solo começou nos primeiros tempos da Igreja. Como é sabido por documentos do segundo século, os Cristãos reuniam cedo nos túmulos dos mártires nos dias de seus repousos para celebrar esses dias com solenidade. São Basílio, o Grande, e São Gregório, o Teólogo, mencionam a exumação de relíquias dos santos. Em sua vida de Santo Antão, Santo António relata a extraordinária reverência dos Cristãos do Egipto pelos remanescentes dos mártires. É bem conhecido que o Imperador Constâncio (reinou de 337-61), filho de Constantino, o Grande, pôs em relicários as relíquias dos Apóstolos André, Lucas e Timóteo na Igreja dos Santos Apóstolos, nos anos 356 e 357.
Na questão da glorificação dos Santos, a Igreja Russa seguiu a crença e prática das Igrejas do Oriente. As regras gerais a respeito formam e continuam sendo as seguintes: a base para a enumeração de um favorito de Deus que partiu, entre o coro dos anjos era o dom de realizar milagres; seja durante a sua vida, como na maioria dos casos, ou depois da morte. Na Igreja Antiga, como foi afirmado, serviços exaltados para a Igreja ou o fim por martírio eram em si a tal base. Na Igreja Russa ocasiões similares e de glorificação eclesiástica, a parte de realização de milagres existiram mas eram excepções.
O que se segue difere de acordo com o grau da extensão territorial da veneração:
1 - santos locais num sentido mais estreito, cuja celebração começou no próprio local de seu sepultamento, fosse num mosteiro ou numa Igreja paroquial (dos quais há inúmeros exemplos);
2 - santos locais em um sentido mais amplo, isto é, aqueles cuja veneração fosse virtualmente limitada aos contornos da diocese e finalmente;
3 - santos gerais ou universais da Igreja, cuja primeira e segunda categoria pertence ao Dispo Diocesano, aparentemente com o assentimento do Metropolita ou Patriarca; o direito da glorificação geral pertence à cabeça da Igreja Russa.
A execução da glorificação dos Santos consistia em receber relatos dos milagres e a correspondente verificação desses testemunhos. A essência na glorificação dos santos está em se iniciar uma celebração anual da memória de um santo, no dia de seu repouso ou no dia da abertura de suas relíquias, ou ambos. Para a celebração da memória de um santo é requerido um ofício para ele, assim como uma "vida" escrita. As autoridades eclesiásticas viam se os ofícios e leitura do Prólogo (Sinaxarion) do santo foram compostas "de acordo com o padrão", isto é, se estavam conformes com uma forma e eram satisfatórias do ponto de vista estilístico literário.
A veneração de um santo glorificado novo começa com um ofício especial, solene, divino na Igreja na qual os restos corporais do santo de Deus estavam localizados.
Desde tempos antigos até o presente, a glorificação dos santos tem sido conduzida da mesma maneira na Igreja Russa; por essa razão não houve período em sua historia que possa ter dependido de uma mudança de condição ou do método pelo qual a glorificação foi feita. Independente de uma glorificação oficial, e em outros casos antes da glorificação, existiu ainda uma "veneração" de ascetas virtuosos que partiram. Em muitos casos foi erigida uma capela sobre o túmulo do que partiu, e dentro dela era colocada uma prancha de túmulo ou um relicário (se o que partiu era enterrado dentro da Igreja, o relicário era colocado sobre o local do sepultamento; usualmente isso era um sarcófago vazio que não continha corpo, já que o corpo estava abaixo do solo). Paniquidas eram cantadas no túmulo e, às vezes até "molebens" para o que partiu. Essa caprichosa declaração de tal pessoa como um "santo" pelo canto de "molebens" foi proibida pelas autoridades eclesiásticas como ilícitas. Existiram casos de na vida da Igreja Russa que ofícios foram compostos para santos ainda não glorificados por uma decisão sinodal especial; esses casos passaram para uso privado. Assim no século XVI, Photius um monge do Mosteiro de Volokomansk, compôs um ofício para o que partiu José de Volotsk e submeteu-o ao Metropolita Macário de Moscovo (reinou 1543-64). "O grande luminar e professor do mundo todo, Sua Eminência Metropolitana Macário", a supra inscrição do ofício afirma, "tendo recebido esse ofício, abençoou o monge Photius para usá-lo em suas orações em sua cela até a celebração de uma exposição sinodal". Ocasiões similares de bênçãos pelas altas autoridades eclesiásticas de iniciativas pessoais na composição de ofícios para ascetas ainda não glorificados por um decreto sinodal não eram muitos frequentes. Em uma das «sborniki» (antologias) de São Cirilo do Mosteiro de White Lake é encontrada um artigo "Sobre a Vanglória de Jovens Monges Compõe Novos Cánones e Vidas de Santos". O autor anónimo desse artigo se opõe a monges que, "buscando glória terrena e querendo atrair a atenção daqueles em autoridade, compõe novos cánones, escrevem vidas dos que repousaram e que Deus ainda não glorificou!" Em sua conclusão, o autor admoesta compiladores de cánones e vidas dizendo: "Ó infantis, não componham novos cánones e vidas para serem cantados por indivíduos em casa ou em celas monásticas, sem a bênção da Igreja".
Em essência não há distinção entre santos celebrados pela Igreja toda e santos locais. Santos das duas classes são glorificados por uma resolução de autoridade hierárquica. Os fiéis viram-se para ambos com seu rogo em oração por assistência. A Igreja chama ambos de "santos". Na Igreja Russa, como entre as Igrejas Ortodoxas do Oriente, santos locais em muitos casos passam para a categoria de santos na Igreja Universal. Uma das marcas distinguindo santos universalmente venerados de santos locais é que é verdade que, até a metade do século XVI, não existiam em geral nome de santos russos nas listagens oficiais, mas depois do século XVI eles começaram a aparecer. No «Book of Epistles» (apostólo) impresso em Moscovo no final do século XVI, há sete santos russos encontrados: São Sérgio de Radonezh, São Pedro, Metropolita de Moscovo, Santo Aléxis, Metropolita de Moscovo, São Leôncio, Bispo de Rostov, São Cirilo de Byelozersk, o Grande Príncipe Vladimir, e os Santos Portadores da Paixão Boris e Gleb. Mas começando com o primeiro «Liturgicon» (Sluzhebinik), impresso em 1602, uma lista dos santos geralmente celebrados foi introduzida nas listas mensais no «Typiconi» e nas listas dos santos em outros livros litúrgicos. Durante o período sinodal, nas resoluções do santo sínodo relativo a glorificações eclesiásticas gerais, a seguinte indicação é encontrada em muitas ocasiões "...nos livros impressos na Igreja é requerida permissão para inserir nomes nas listas com o resto".
Na Igreja Russa, os primeiros a serem enumerados entre o coro dos santos foram os príncipes Boris e Gleb (nomeados de Roman e David nos seus baptismos); daí então seguiu São Teodósio do Lavra, das Grutas de Kiev; então, talvez São Nicetas, Bispo de Novgorod, e a grande Princesa Olga. Ao todo, até o século XVIII, haviam cerca de setenta nomes de santos glorificados russos, dos quais vinte e dois eram celebrados por toda a Igreja Russa. Os Concílios de 1547 e 1549, convocados sob a presidência do Metropolita Macário institui a celebração de vários santos novos, e elevou o grau de outros acrescentando trinta e nove nomes aos vinte e dois que já estavam recebendo veneração geral, elevando o numero para sessenta e nove. Entre esses dois Concílios e o estabelecimento do Santo Sínodo, tanto quanto cento e cinquenta novas glorificações tiveram lugar na Rússia Moscovita, dos quais as datas exactas de cerca de um terço deles são conhecidas; das demais referências indirectas, tais como a construção de Igrejas e altares laterais dedicados a eles, e alguma menção de passagem na literatura do período, nos proveram com alguma evidência de alguma sanção oficial da veneração deles.
Os nomes dos santos do sudeste da Rússia deveriam ser colocados numa categoria própria, encabeçados da lavra das Grutas de Kiev. Circunstâncias históricas, particularmente a subjugação dos poderes estrangeiros (Lituânia e Polónia), resultando em muito poucas glorificações naquela região. Um ofício geral para os santos das Grutas de Kiev foi comissionado pelo Metropolita Pedro Moghila (1633-46), a quem foi apresentado em 1643. Antes disso, mas ainda sob Pedro Moghila, o «Pantericon of the Caves» foi compilado, assim como relatos ocorridos no Lavra e em suas grutas durante os quarenta e quatro anos precedentes à compilação do livro.
Da vida de São Job de Pochaev, escrita por seu discípulo e assistente no governo do Mosteiro de Pochaev, nós sabemos como a glorificação do venerável, ocorreu cuja memória é especialmente reverenciada na diáspora russa. A abertura de suas relíquias foi realizada sete anos depois do repouso do santo, pelo Metropolita Dionísio (Balaban) de Kiev (reinou 1657-63). A causa imediata disso foi uma aparição ocorrida três vezes do venerável Job para o Metropolita enquanto ele estava dormindo, informando a ele que estava agradando a Deus que suas relíquias fossem abertas. Após a terceira aparição, o Metropolita (que aparentemente conheceu São Job e o Mosteiro de Pochaeu durante seu período de Bispo de Lutsk) "assim entendeu que esse assunto estava de acordo com a providência de Deus e, não demorando, apressou-se para o Mosteiro de Pochaeu, levando consigo Kyr Theopano (krekhovestsy), Arquimandrita do Mosteiro de Obruchsky, que acontecia de estar com o Metropolita naquela hora. Chegando no Mosteiro, com todo o seu clero, ele inquiriu seriamente a respeito da vida pura e honorável de São Job em detalhe. Convencendo-se que isso era um bom trabalho e agradava a Deus, ele sem perda de tempo, ele ordenou, com o consentimento dos irmãos, que o túmulo do santo fosse aberto. Lá dentro, em estado de incorruptibilidade, como se tivesse acabado de ser sepultado, eles descobriram as relíquias do venerável, que estavam cheias de inconcebível fragrância doce. Na companhia de uma multidão de pessoas, eles carregaram a relíquia com adequada honra para a grande Igreja da Trindade Vivificante, e lá, no «nartex», posicionaram o relicário no ano do Senhor de 1659, no dia vinte e nove de Agosto. Então uma vasta multidão de pessoas aflitas com diversas dores receberam cura, pois São Job foi nessa vida adornado com toda virtude, e então, depois da morte, não cessou de fazer o bem para aqueles que se aproximassem dele com fé" (conforme o Oficio do Venerável Job e sua Vida, Jordanville, NY).
Depois da unificação das Rússias Moscovita e Kievana, os santos da Rússia deveriam então serem referidos como "santos de toda a Rússia" - os do norte e do leste da Rússia. Essa era de facto a prática, apesar de não antes de 1762, um decreto ter sido publicado pelo Santo Sínodo permitindo a inserção dos nomes dos santos Kievanos nas listas mensais gerais de Moscovo, e permitindo que seus ofícios fossem impressos em «Menaion». Esse decreto foi repetido duas vezes depois.
No Período Sinodal, os seguintes santos foram glorificados para veneração de toda a Igreja (eles estão apresentados em ordem cronológica, de acordo com as datas de suas glorificações): São Demetrio, Metropolita de Rostov; Santo Inocêncio, primeiro Bispo de Irkutsk, São Metrofano, Primeiro Bispo de Voronzh; São Rhikon de Zadonsk, Bispo de Voronezh; São Teodósio, Arcebispo de Chernigv; São Serafim de Sarov; São Joasaf, Bispo de Belgorod; São Hermogeno, Patriarca de Moscovo; São Pitirim, Bispo de Tampov; São João, Metropolita de Tobolsk; São José, Bispo de Astrakahm.
Existiram também glorificações locais de santos durante o período sinodal. Mas mesmo para essa era não existem listas acuradas ou os fatos confiáveis a respeito de circunstancias e datas da glorificação deles, já que as decisões para glorificações locais foram feitas sem proclamação formal, nos registros dos decretos dos Santos Sínodos, pois até o aparecimento das publicações oficiais do Sínodo - The Church Register e o Diocesan Register - esses não eram de todo publicado.

e - Necessidade de Alta Autoridade

Na Igreja Russa, como no Oriente Ortodoxo, quanto maior a área proposta para a veneração, maior a autoridade eclesiástica necessária para confirmá-la.
Quando em 1715, o Padre e os paroquianos da Igreja da Ressurreição em Totma (Província de Vologda) procuravam o Arcebispo de Veliky Ustiug com o pedido de, em vista dos muitos milagres que tinham ocorrido no túmulo de Maximus, um Padre e "louco em Cristo" da cidade, que havia repousado em 1650, o Arcebispo abençoou a construção de uma Igreja dedicada a Santa Parasceva sobre o seu túmulo "como era costume para os santos de Deus, e também construir sobre suas relíquias um sarcófago e um santo ícone para cobri-lo". Em resposta a esse pedido, o Arcebispo decretou "que um monumento fosse construído naquela Igreja e que «molebens» fossem cantados para São Máximo de maneira santa, como para os outros favoritos de Deus". Assim, pode-se concluir que o Arcebispo abençoou a veneração local baseado em sua autoridade pessoal.
Como exemplos de como a execução Sinodal de assunto pertinentes aos justos que partiram aconteciam, citaremos vários extractos de actos relacionados à glorificação de santos "de toda a Rússia".
Observando a instituição da celebração geral eclesiástica da memória de São José de Volotsk, o seguinte relatório é encontrado em uma das antologias de Volokolansk: "Por ordem do justo-fiel e amante de Cristo o Soberano Autocrata, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich de Toda a Rússia, e com a benção de seu pai, Sua Santidade Job, primeiro Patriarca de Moscovo e de toda Rússia, o tropário, «kondakion», «estiquérios» e cánon, e todo o ofício para a Liturgia para nosso venerável pai e abade José de Volotsk, foram corrigidos pelo abade Josafa em 01 de Junho, 7099 (isto é, 1591). E o Soberano Autocrata, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich de Toda Rússia, e Sua Santidade Job, Patriarca de Moscovo e Toda Rússia e o Concílio todo, em assembleia geral testemunharam o canto do tropário, «kondanion», os «estiquerios», o cánon, e o ofício da Liturgia para o venerável José. Baseados na opinião de todo o Concilio, o Tsar e o Patriarca ordenaram que o oficio fosse cantado e celebrado em todos os lugares no dia 04 de Setembro, o dia do repouso do nosso venerável Pai José, o Taumaturgo, que é o dia da comemoração dos santos e justos ancestrais de Deus, Joaquim e Ana. O Soberano, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich ordenou que «menaion» impresso e em todos «menaia» no mesmo dia o «kondakion», «estiquério», cánon e todo o oficio para o venerável José fosse impresso, junto com a festa da Natividade da Santíssima «Theotokos» e aquela dos Ancestrais de Deus, assim instituindo e confirmando que essa festa fosse celebrada dessa maneira, imutável, em todos os lugares, para sempre. Amén.". A veneração de São José foi instituída três vezes - duas localmente e uma generalizada. Suas relíquias não foram abertas e permanecem até o dia presente em baixo de uma lápide.
Por um decreto do Patriarca Job (reinou 1586-1605) datado de 1600 e localizado no Mosteiuro Korniliev na Província de Vologna, fica-se sabendo como o estabelecimento da veneração geral de São Cornélio de Komel aconteceu. O abade José do Mosteiro de Korniliev relatou ao Patriarca que uma capela lateral havia sido construída no Mosteiro em honra de São Cornélio, que ele não havia sido consagrado ainda, e que "por muitos anos eles haviam pedido cura para São Cornélio e tinha recebido, e os cegos, os coxos e aqueles que estavam aflitos com muitas dores foram curados". Com isso, o Abade José submeteu ao Patriarca em Concílio os estiquéros, canones, e vida de São Cornélio. O Patriarca, Bispos, e todos os outros que atendiam o Concílio questionaram o Arcebispo Jonah de Vologda a respeito dos milagres de São Cornélio e receberam dele a resposta que de facto "no relicário de São Cornélio o Taumaturgo, muitos milagres inefáveis tiveram lugar, e é bem sabido que os milagres realizados por ele não são falsos". Mais tarde, eles todos prestaram atenção no «estiquério», cánon e vida de São Cornélio e acharam que a vida escrita estava "de acordo com a imagem e semelhança". Depois disso, o Patriarca e o Concílio relataram o assunto ao Tsar Boris Feodorovich Godunov (reinou 1548-1605), e o soberano, tendo conferido com o Patriarca e com o Concílio, ordenou que as "Vésperas fossem celebradas e a Vigília de Toda Noite e a Liturgia de Deus fossem servidas na Igreja Católica Apostólica da Puríssima Mãe de Deus, dedicada à sua Dormição na cidade capital de Moscovo, no dia da comemoração do Santo Mártir Patrício, Bispo de Prusa, em 19 de Maio, e nas catedrais das províncias metropolitanas, nas sés arquiepiscopais e episcopais de toda a Grande Rússia, como era feito para o resto dos santos; e nos mosteiros de São Cornélio, e na Igreja Catedral de Sofia a Sabedoria de Deus em Vologda, e nos subúrbios, e nas santas Igrejas de Deus e nos distritos distantes e nas cidades circundantes e todo o território submetido ao Arcebispo de Vologda, é ordenado celebrar a memória de Cornélio o Taumaturgo em 19 de Maio".
Vemos nesses extractos que a instituição da glorificação de santos era tratada com grande atenção e zelo. Mais de uma vez as autoridades eclesiásticas negaram pedidos para glorificação dos reverenciados que partiram se elas não viam provas incontestáveis e firmes nas quais pudessem basear tal glorificação.
As palavras dos decretos sinodais a respeito de glorificação dos santos mostra-nos claramente o entendimento Ortodoxo dessas acções como uma confissão conciliar universal de parte da Igreja de uma firme crença ou certeza que Deus glorificou Seu favorito nos céus, e que por isso nós devemos glorifica-Lo também, com júbilo, na terra. Esse pensamento é expresso nos actos do período sinodal, e foi notado exacta e completamente.
No relato oficial da glorificação do Santo Hierarca Metrofanes de Voronnezh, nós lemos: "Quando pela investigação que foi conduzida, um verdadeiro ato de Deus, maravilhoso em Seus Santos, torna-se suficientemente aparente para o Santo Sínodo. Sobre a incorruptibilidade do corpo do Santo Hierarca Metrofanes e as curas que tiveram lugar por suas relíquias, o Santo Sino não mais atrasou em solenemente revelar para Igreja esse dom de Deus, isto é, com a bênção hierárquica ele permitiu o que até aquele tempo tinha sido um ato de zelo pessoal, o chamado pela intercessão de Nosso Pai entre os santos Metrofanes em suas orações para Deus, e a colocação de suas relíquias realizadas de maravilhas e curativas como uma vela, não em baixo de um arbusto, mas num candelabro, para que todos fossem iluminados. A celebração eclesiástica anual desse Santo Hierarca foi fixada na data de seu repouso - 23 de Novembro".
O decreto de glorificação de São Thikon de Zadonsk diz: "A memória de Sua Graça Thikon, Bispo de Voronezh... tem sido honrada com reverencia entre o povo Ortodoxo russo que se dirigiu ao Mosteiro de Zaronsk para o túmulo do Hierarca de grandes distancias em uma grande multidão, orando pelo repouso da alma desse hierarca e esperando por sua orante intercessão diante de Deus. Memória das elevadas virtudes Cristãs com que ele brilhou na sua vida terrestre, novas da evangélica sabedoria que ficaram em seus escritos, divinamente iluminados, e as miraculosas curas de diversos males realizados no seu túmulo trouxeram muitos fiéis para a veneração do Santo Hierarca. Em tudo isso uma pia esperança que esse Hierarca que tem sido glorificado por Deus seja enumerado entre o coro dos santos. Mesmo no fim do último século XVIII tal esperança foi expressa em petições submetidas para Sua Alteza Imperial e para o Santíssimo Sínodo". Arcebispo Antonio de Voronezh, no próprio dia de seu (Tikhon) repouso, escreveu uma carta ao Imperador Nicolas a respeito do universal fervoroso desejo de inúmeros peregrinos "que esse grande luminar da fé e boas obras que agora jaz embaixo de um arbusto, seja colocado diante dos olhos de todos". O Sínodo, em seu relato ao soberano, anunciou sua decisão, começando com as seguintes palavras: "Reconhecendo o Bispo Thikon de Voronezh como entre o coro dos santos que foram glorificados pela graça de Deus pela fragrância da santidade e seu incorrupto corpo como santas relíquias".
A resolução a respeito da glorificação de São Serafim de Sarov é expressa de maneira similar: "Reconhecendo o pio Staretz Serafim que repousou na Hermitage de Sarov, como estando no coro dos santos glorificados pela graça de Deus".
Como é bem sabido, e ainda lembrado por algumas pessoas, nas últimas décadas antes da queda da Rússia, a glorificação dos santos da Igreja Russa, tais como São Teodósio de Chernigov, São Serafim de Sarov e outros casos posteriores, foram grandes festividades religiosas nacionais, no centro das quais estavam as aberturas das relíquias desses santos de Deus. Geralmente, as glorificações de Santos Russos no século dezoito ao século vinte foram marcadas pela abertura de suas santas relíquias. Isso mostra que esses actos estavam intimamente ligados, apesar de que, como já foi dito, a abertura das relíquias não era uma condição absolutamente essencial e nem sempre seguiu-se imediatamente depois do acto de glorificação.

f - Conclusão

De tudo que foi dito, podemos tirar muitas conclusões. Essencialmente, de acordo com o entendimento da Igreja e de acordo com os princípios de glorificação dos Santos, esta foi sempre a mesma na Igreja Ortodoxa. Nessas questões, as Igrejas Ortodoxas Orientais do segundo milénio seguiram a Tradição da Igreja do primeiro milénio e do período mais antigo. A Igreja Russa depois da era de Pedro, o Grande, permaneceu fiel aos costumes da era pré-Petrina. A glorificação dos Santos consistia e consiste em uma generalizada afirmação de fé pela Igreja que Deus uniu os que partiram à assembleia de seus Santos. Essa fé é baseada nos factos que uma morte por martírio, ou depois de uma vida justa que foi aparente para toda a Igreja, ou pela glorificação do santo de Deus pelas realizações miraculosas em sua vida ou no seu túmulo. A glorificação é usualmente uma expressão da voz do povo da Igreja, para quem as mais altas autoridades eclesiástica, depois da devida verificação, da palavra final dada pelo sínodo, estabelecendo, reconhecendo, confirmando e dando a sanção da Igreja. A glorificação dos santos está entre as actividades mais importantes da Igreja. Em sua base, em seu aspecto elementar, a glorificação consiste no virar as orações de "para o morto" para pedidos pela intercessão do santo diante de Deus, e em sua glorificação por ofícios para o «menaion geral» ou com ofícios especialmente compostos. A glorificação de um santo e abertura de suas relíquias não constitui um único, inseparável ato, apesar de muitas vezes serem realizados justos. A Igreja Ortodoxa não mantém que seja essenciais que um período fixo de tempo passe entre o repouso de um homem justo e sua enumeração entre o coro de santos, como é aceite na confissão católica romana, que institui um período de várias décadas (usualmente cinquenta anos da data da morte para a "beatificação", um processo que grosseiramente corresponde à veneração local, e oitenta para a canonização).
Nos milagres realizados através de orações ou nos túmulos dos justos de Deus, a Igreja Ortodoxa vê a vontade de Deus na glorificação desses lutadores. Quando esses sinais não existem, a Igreja não vê a vontade de Deus em sua solene glorificação, como uma das resoluções do Patriarca Adriano de Moscovo (reinou 1690-1700) expressa com relação a uma certa requisição para a glorificação: "Se o Senhor Nosso Deus, o Criador de tudo, glorifica qualquer um nessa vida, e depois de sua morte, declara isso para seu povo através de muitos milagres, então os milagres dessa pessoa tornam-se claramente conhecidos, pois muitos santos taumaturgos foram, encontrados na Santa Igreja, cujas memórias a Igreja sempre canta e mantém as suas relíquias. Eles não são conhecidos, quando Deus Todo Poderoso não se agradou em glorificar com sinais e milagres, ainda que a pessoa tenha vivido como justo, de uma santa maneira, e não são como aqueles que a Igreja glorifica. O nome de muitos não é lembrado, e o mundo todo não pode conter os livros com os nomes que poderiam ser escritos".

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011