Catecismo Ortodoxo
Parte II
Deus Manifestado no Mundo
9 - A Ressurreição
de Cristo
a - Os frutos salvíficos da Ressurreição
de Cristo
A Ressurreição de Cristo é a base e a
coroação de nossa Fé Cristã Ortodoxa. A Ressurreição
de Cristo é a primeira, mais importante, grande verdade com a proclamação
da qual os Apóstolos começam sua pregação do Evangelho
após a descida do Espírito Santo. Assim como pela morte de Cristo
na Cruz nossa redenção foi realizada, pela sua Ressurreição
a vida eterna nos foi dada. Portanto, a Ressurreição de Cristo é objecto
do constante triunfo da Igreja Cristã. "Hoje toda criação
exulta de alegria, pois Cristo ressuscitou!" (Cánon da Páscoa).
Os frutos salvíficos da Ressurreição de Cristo são:
a) a vitória sobre o inferno e a morte;
b) a bênção dos Santos no céu e o começo
da existência da Igreja Celestial;
c) o envio do Espírito Santo e a criação da Igreja de
Cristo na terra.
b - A vitória sobre o inferno e a morte
A existência humana depois da perda do paraíso
tem duas formas: a) a terrena, vida corporal; e b) a vida após a morte.
A vida terrena termina com a morte do corpo. A alma preserva sua existência
depois da morte corporal, mas sua condição depois da morte, de
acordo com a palavra de Deus e o ensinamento dos Padres da Igreja, é diversa.
Até a vinda para a terra do Filho de Deus, e até à sua
Ressurreição dos mortos, as almas dos mortos estavam em uma condição
de rejeição, estando afastadas de Deus, nas trevas, no inferno,
no submundo (o "Sheol" em hebreu). Estar no inferno era como a morte
espiritual, como é expresso nas palavras do Salmo do Velho Testamento: "Porque
na morte não há lembranças de ti: no sepulcro quem te
louvará?" (Sal. 6, 5). No inferno estavam aprisionadas também
as almas dos justos do Velho Testamento. Esses justos viveram na terra com
fé na vida do Salvador, como o Apóstolo Paulo explica no capítulo
onze de sua Epístola aos Hebreus, e após a morte eles consumiam-se
na expectativa da sua redenção e libertação. Assim
continuou até a Ressurreição de Cristo, até a vinda
do Novo Testamento: "E todos estes, tendo tido testemunho pela fé,
não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor
a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados" (Heb.
11, 39-40). Nossa libertação foi também a libertação
deles.
Cristo, depois de sua morte na Cruz, desceu em sua alma e em sua Divindade
para o inferno, ao mesmo tempo que seu corpo permanecia no sepulcro. Ele pregou
a salvação para os cativos do inferno e trouxe para cima de lá todos
os justos do inferno, nós lemos na Epístola de São Pedro: "Porque
também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos,
para levar-nos a Deus, mortificado, na verdade na carne, mas vivificado pelo
Espírito no qual foi também e pregou aos espíritos em
prisão" (1 Ped. 3, 18-19). E no mesmo lugar nós lemos adiante: "Porque
por isto foi pregado o Evangelho também aos mortos para que na verdade
fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito" (1
Ped. 4, 6). São Paulo fala a mesma coisa: citando o verso do Salmo, "Subindo-lhe
ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens", o Apóstolo
continua: "ora, isto - ele subiu - que é, senão que também
antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também
o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas" (Ef.
4, 8-10).
Para usar as palavras de São João Crisóstomo: "o
inferno foi tornado cativo pelo Senhor que desceu nele. Ele foi deixado abandonado,
foi posto à morte, foi derrubado, foi atado" (Homília da
Páscoa).
Com a destruição dos ferrolhos do inferno, isto é, da
impossibilidade de escapar do inferno, o poder da morte, também foi
aniquilado. Primeiro de tudo, a morte para os justos tornou-se só uma
transição do mundo abaixo para o mundo acima, para uma vida melhor,
a vida na luz do Reino de Deus; segundo, a própria morte corporal tornou-se
só um fenómeno temporário, pois pela Ressurreição
de Cristo o caminho para a Ressurreição geral foi aberto para
nós.
"
Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos
que dormem" (1 Cor. 15, 20). A Ressurreição de Cristo é a
caução de nossa ressurreição: "Porque, assim
como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados
em Cristo; mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os
que são de Cristo, na sua vinda" (1 Cor. 15, 22-23). Depois disso,
a morte será completamente aniquilada. "Ora, o último inimigo
que há de ser aniquilado é a morte" (1 Cor. 15, 26).
O tropário da Santa Páscoa proclama para nós com especial
alegria a vitória sobre o inferno e a morte: "Cristo ressuscitou
dos mortos, e pela morte Ele venceu a morte, aos que estavam no túmulo
Cristo deu a vida". "Cristo subiu acima de todos os céus,
para cumprir todas as coisas" (Ef. 4, 10).
c - O Reino de Cristo e a Igreja triunfante
Antes de sua partida para o Pai, o Senhor Jesus Cristo disse
aos Apóstolos: "Na casa de meu Pai há muitas moradas, se
não fosse assim eu no-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E, se eu
for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para
que onde Eu estiver estejais vós também" (Jo. 14, 2-3).
O Salvador orou para o Pai: "Pai, aqueles que me deste quero que, onde
Eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória
que Me deste" (Jo. 17, 24). E os Apóstolos expressam o desejo de
partir e estar com Cristo (Filip. 1, 23), sabendo que eles têm "uma
casa não feita por mãos, eterna, nos céus" (2 Cor.
5, 1).
Uma descrição da vida dos Santos no céu é dada
no Apocalipse. São João, o Teólogo, viu em volta do trono
de Deus nos céus "vinte e quatro tronos" e neles anciãos
vestidos de vestido brancos, com coroas de ouro sobre suas cabeças (Apoc.
4, 4). Ele viu debaixo do altar celeste "as almas dos que foram mortos
por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram" (Apoc.
6, 9); e ainda de novo ele viu "uma multidão... de todas as nações,
e tribos, e povos, e línguas" que estavam diante do Trono e diante
do Cordeiro e clamavam com grande voz: "Salvação ao nosso
Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro" (Apoc. 7, 9-10).
As mansões luminosas da Morada Celeste a Sagrada Escritura chama de "a
cidade do Deus vivo", "Monte Sião", "Jerusalém
celeste", a Igreja do primeiro nascido escrito no céu".
Assim o grande Reino de Cristo foi aberto no céu. Nele entraram as almas
de todas as pessoas justas e pias do Velho Testamento, aqueles a quem o Apóstolo
disse: "E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não
alcançaram a promessa" (até a vinda para a terra do Filho
de Deus e a salvação geral), que eles sem nós não
poderiam ser feitos, perfeitos, isto é, alcançar o júbilo
e a bênção da Igreja Celeste de Cristo (Heb. 11, 39-40).
Neste Reino no Novo Testamento entraram os primeiros que acreditaram em Cristo,
os Apóstolos, primeiros mártires, confessores; e assim até o
fim do mundo a Morada Celeste será preenchida - a Jerusalém no
alto, o Celeiro de Deus - até que virá o seu perfeito completamento.
São Simeão, o Novo Teólogo ensina o seguinte: "Era
adequado que lá nascessem todos aqueles pré-conhecidos por Deus,
e que o mundo que está acima desse mundo, a Igreja do primeiro-nascido,
a Jerusalém celeste, fosse preenchida; e então o Corpo de Cristo
completo será prefeito, recebendo nele todos aqueles pré-ordenados
por Deus para serem conformes a imagem de Seu Filho - esses são os filhos
da luz e do dia. Esses são todos aqueles pré-ordenados e pré-escritos,
e incluídos no numero dos salvos, e aqueles que são para serem
juntados e unidos ao Corpo de Cristo; e então não existirá mais
a falta nele de um único membro. Assim é em verdade, como o Apóstolo
Paulo revela quando ele diz: "Até que todos cheguemos a unidade
da fé... a varão perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo" (Ef. 4, 13). Quando eles forem juntados e vierem a formar com
completo Corpo de Cristo, então também o mundo superior, a Jerusalém
celeste, que é a Igreja do primeiro nascido, estará preenchida,
e o corpo da rainha de Deus, a Igreja, que é o Corpo de Cristo Deus,
será revelada como inteiramente preenchida e perfeita" (homilia
45).
De acordo com o ensinamento da Sagrada Escritura, a bênção
das almas dos justos no céu consiste: a) no repouso ou descanso dos
trabalhos; b) não participação em tristezas e sofrimentos
(Apoc. 14, 13; 7, 16); c) estar juntos com e consequentemente estando na mais
intima comunhão com os antepassados e outros santos; d) comunhão
mútua entre eles próprios e com milhares de anjos; e) estar diante
do Trono do Cordeiro, glorificando-o e servindo-o; f) comunhão e reinar
junto com Cristo; g) a jubilosa contemplação face a face de Deus
Todo-Poderoso.
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011