Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

3 - A Respeito da Malignidade e do Pecado
a - Malignidade e pecado no mundo

Malignidade e Infortúnio. "Mal", em nosso uso ordinário de palavras, é o nome de dois tipos de manifestação. Frequentemente entendemos por esta palavra qualquer coisa em geral que evoca infortúnio e causa sofrimento. Mas num sentido mais directo e preciso, o Mal é o nome para manifestações negativas da ordem moral que procede da direcção maligna da vontade e da violação das Leis de Deus.
É claro que infortúnios no mundo físico - por exemplo, terramotos, tempestades, enchentes, avalanches e assim por diante - são em si nem bons nem maus. No sistema geral do mundo eles são o que as sombras são para as cores brilhantes na arte dos pintores, o que sons grosseiros são para sons suaves em musica, etc... Esse é o modo pelo qual Santos Padres como Santo Agostinho e São Gregório tratam essas manifestações. Não se pode negar que tais manifestações dos elementos são frequentemente a causa de infortúnios e sofrimentos para criaturas sensíveis e para o homem; mas só se pode inclinar em reverência diante da sapiente ordem do mundo, onde o interminável, variado e mutuamente esforço de parte dos cegos poderes elementares e as criaturas orgânicas, produzem colisões entre uns e as outras a todo momento, mas estão em mutuo acordo e são postos em harmonia, tornando-se fonte de constante desenvolvimento e renovação do mundo.

Sofrimento e Pecado. Até um certo ponto, o lado desagradável e sombrio da vida humana faz com que nós valorizamos e sintamos mais os lados jubilosos da vida. Mas a Palavra de Deus conta-nos que sofrimentos físicos difíceis, angústias e aflições não podem ser reconhecidas como manifestações que estão completamente de acordo com a lei e por isso, são normais; ao contrário elas são um desvio normal. Os sofrimentos da raça humana começaram com o aparecimento da moral maligna e são as consequências do pecado, que entraram na nossa vida naquele tempo. Disto as primeiras páginas da Sagrada Escritura testemunham "Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás seus filhos" (palavras dirigidas a Eva depois da queda no pecado); "Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias de tua vida" (palavras ditas a Adão; Gén. 3, 16-17). Os sofrimentos são dados ao homem como meio de castigo, iluminação e corrupção. De acordo com São Basílio, o Grande, sofrimentos e a própria morte "cortam o crescimento do pecado". Numerosos exemplos da consciência da ligação entre sofrimento e pecado nos são dados pelas Palavras de Deus: "Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos" (Sal. 118, 71). A observação cuidadosa mostra que as causas das doenças e sofrimentos, na grande maioria dos casos, são os próprios homens, que criaram condições artificiais e subnormais para a sua existência, introduzindo uma cruel batalha mútua enquanto caçando o seu próprio e egoísta bem-estar físico; e às vezes essas coisas são o resultado de uma certa atitude demoníaca - orgulho, vingança, malícia.
Como a Palavra de Deus instrui-nos, as consequências da moral maligna espalham-se nas pessoas para o mundo animal e para toda criação: "Pois sabemos que toda criação geme e está juntamente com dores de parto até agora", escreve o Apóstolo Paulo, e ainda explica: "Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitar, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rom. 8, 22, 20-21).

A Essência da Moral Maligna. Os Santos Padres indicam que o mal não é algum tipo de essência que tem qualquer existência independente real, como os elementos e poderes do mundo que foram criados por Deus. O mal é só um desvio dos seres vivos da condição original na qual Deus os colocou, para uma condição que é oposta a ela. Por isso não é Deus que é a causa da moral maligna; ao contrário, ela procede com a vontade de Deus. A essência do mal consiste na violação da vontade de Deus, dos comandos de Deus, e da lei moral que está escrita na consciência humana. Essa violação é chamada pecado.

A Origem do Mal. Mas de onde então surgiu a moral maligna? Deus criou o mundo puro, perfeito, livre do mal. O mal entrou no mundo como uma consequência da queda, que ocorreu, de acordo com a Palavra de Deus, originalmente no mundo dos espíritos sem carne, e então na raça humana, e que foi reflectido em toda natureza viva.

b - A queda do mundo Angélico: os espíritos Malignos

De acordo com o testemunho da Palavra de Deus, a origem do pecado vem do diabo: "Quem comete pecado é do diabo - porque o diabo peca desde o princípio" (1 Jo. 3, 9). A palavra "diabo" significa "caluniador"! Trazendo junto a evidência da Sagrada Escritura, nós vemos que o diabo é um dos espíritos racionais ou anjos que se desviaram para o caminho do mal. Possuindo, como todas as criaturas racionais a liberdade que lhe foi dada para tornar-se perfeito no bem, ele "não se firmou na verdade" e caiu para longe de Deus. O Salvador disse dele: "ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo. 8, 44). Ele carregou outros anjos com ele na queda. Nas epístolas do Apóstolo Judas e do Apóstolo Pedro, nós lemos sobre os anjos: "E os anjos que não guardavam o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação" (Jud. 1, 6; 2 Ped. 2, 4).
Qual foi a causa da queda no mundo angélico? Da mesma Revelação Divina nós podemos concluir que a razão foi o orgulho: "o começo do pecado é o orgulho" diz o filho de Sirach (Sir. 10, 13). O Apóstolo Paulo, prevenindo o Apóstolo Timóteo contra o fazer Bispos entre aqueles convertidos recentemente, acrescenta: "... para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo" (1 Tim. 3, 6).
Os espíritos malignos são mencionados só em algumas passagens na revelação do Velho Testamento. Nós lemos da "serpente", a tentação da primeira pessoa no terceiro capítulo do Livro do Génesis. As actividades de "Satan" na vida do justo Job são relatadas no primeiro capítulo do Livro de Job. No Primeiro Livro de Reis é dito a respeito de Saúl que um espírito maligno o perturbou depois que o Espírito do Senhor, partiu dele (1 Re. 15, 14 = 1 Sal. em KJ). No primeiro Paralipômenos (Crónicas), cap. 21, nós lêmos que quando veio um pensamento a David para fazer um censo do povo, foi porque "Satanás se levantou contra Israel, e incitou David a numerar Israel". No Livro do Profeta Zacarias é dito, a respeito do sumo sacerdote Joshua, que Joshua resistiu "ao diabo" ("Satan" em KJ; Zacha 3, 1). No Livro da Sabedoria de Salomão é dito que "pela inveja do diabo a morte entrou no mundo" (Sab. 2, 24). Da mesma forma em Deuteronómio 32, 17 é dito que: "Eles sacrificaram aos diabos, não a Deus"; e no Salmo 105, 36: "E sacrificaram... aos demónios".
Uma incomparável e mais completa representação da actividade de Satan e seus anjos está contida na Revelação do Novo Testamento. Por ele sabemos que Satan e os espíritos malignos estão constantemente atraindo mais pessoas para o mal. Satan ousou tentar o próprio Senhor Jesus Cristo no deserto. Os espíritos malignos investem contra a alma e mesmo contra o corpo dos homens; disso há o testemunho de vários eventos nos Evangelhos e nos ensinamentos do Salvador. A respeito da habitação dos espíritos malignos nos homens. Nós conhecemos os numerosos casos de cura pelo Salvador de possuídos pelos demónios. Espíritos malignos olham para os descuidos do homem para atraí-lo para o mal: "E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa de onde sai. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando habitam ali, e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros" (Mt. 12, 43-45). A respeito da cura da mulher curvada, o Salvador disse para o príncipe da sinagoga: "E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?" (Lc. 13, 16).
A Sagrada Escritura chama aos espíritos malignos, "espíritos imundos", “espíritos do mal”, "diabos", "demónios", "anjos do diabo", e "anjos de Satan". Seu chefe, o diabo, também é chamado de "tentador", "Satan", "Belzebu", "Belial", "o príncipe dos demónios", é outros nomes como "Lúcifer" (a estrela da manhã).
Tomando a forma de serpente, do diabo foi o tentador e a causa da queda no pecado das primeiras pessoas, como é relatado no terceiro capitulo do livro da Génesis. No Apocalipse ele é chamado de "o grande dragão, a velha serpente" (Apc. 12, 9).
O diabo e seus anjos são privados de permanecer nas celestes moradias de luz. "Eu via Satanás, como raio, cair do céu (disse aos discípulos)" (Lc. 10, 18). Sendo jogados para baixo do mundo acima, o diabo e os seus servos agem no mundo abaixo do céu, entre os homens da terra, e tomaram a sua possessão, como se fosse deles, o inferno e o mundo do inferior. Os Apóstolo chamam-lhes de "principados, potestades, príncipes das trevas desse século" (Ef. 6, 12).

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011