Catecismo Ortodoxo
Parte II
Deus Manifestado no Mundo
7 - A Redenção
a - O dogma da Redenção - O Cordeiro
de Deus
O dogma da salvação em Cristo é o dogma
central do Cristianismo, o coração de nossa Fé Cristã.
O Senhor Jesus Cristo é o Redentor e Salvador da raça humana.
Toda a historia da humanidade precedente à Encarnação
do Filho de Deus, na clara imagem dada tanto no Velho quanto no Novo Testamento, é uma
preparação para a vinda do Salvador. Toda história seguinte
da humanidade, depois da Ressurreição e Ascensão do Senhor,
e a actualização da salvação que foi cumprida:
a recepção e assimilação dela pelos fiéis.
A culminação do grande trabalho de salvação é ligado
com o fim do mundo. A cruz e a ressurreição de Cristo está no
verdadeiro centro da história humana.
Nem descrições, nem enumerações podem descrever
em majestade, fôlego, poder e significado o ministério terreno
de Cristo; não há medida possível para a riqueza do amor
de Cristo, manifestado em sua misericórdia pelos caídos e pelos
pecadores, pelos milagres, pelas curas e finalmente, sua inocente morte sacrificial,
com orações pelos seus crucificadores. Cristo tomou sobre si
os pecados do mundo inteiro; ele recebeu em si próprio a culpa de todos
os homens. Ele é o cordeiro sacrificado pelo mundo. Somos nós
capazes de abarcar em nossos pensamentos e expressar de maneira usual, e com
as concepções e palavras do dia a dia toda economia da nossa
salvação? Nós não temos palavras para os mistérios
celestes.
Nós fiéis, falando das coisas que pertencem a Deus, tocamos num
mistério inefável, a Crucificação, que a mente
não pode compreender, e a Ressurreição que está além
de descrição: pois hoje a morte e o inferno são despojados,
enquanto a humanidade é vestida com incorrupção (Sedalion
depois do segundo katisma, Matinas de Domingo, Tom 3).
No entanto, como vemos nos escritos dos Apóstolos, a verdade da Salvação,
a verdade desse mistério, era para os Apóstolos inteiramente
clara e sem nenhuma dúvida e abarcadora. Sobre ela eles baseavam todas
as suas instruções, por meio dela eles explicavam eventos na
vida da humanidade, eles a colocavam como base da vida da Igreja e o futuro
do mundo todo. Eles constantemente proclamavam a boa nova da Salvação
nas mais variadas expressões, sem explicações detalhadas,
e como uma verdade auto-evidente eles escreviam: "Cristo salvou-nos", "Vós
fostes redimidos da maldição da lei", "Cristo justificou-nos", "Vós
fostes comprados a um preço alto"; Cristo "cobriu nossos pecados";
Ele é o "propiciador por nossos pecados"; por ele nós
fomos "reconciliados com Deus"; ele é "o único
Sumo Sacerdote"; "Ele virou a sentença escrita contra nós
e pregou-a na Cruz". "Ele assumiu a nossa maldição";
nós temos paz com Deus "pela morte de seu Filho", nós
fomos "santificados pelo seu sangue", nós fomos "ressurrectos
junto com Cristo". Em tais expressões, escolhidas ao acaso, os
Apóstolos continham uma verdade que em sua verdadeira essência
ultrapassa a compreensão humana, mas que era clara para os Apóstolos
em seu significado e em sua consequência de um modo simples e acessível
essa verdade penetrou dos lábios dos Apóstolos no coração
dos fiéis, e para que esses todos pudessem conhecer o que é: "a
dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou por Jesus Cristo" (Ef. 3, 9). Vamos, então,
examinar o ensinamento dos Apóstolos.
Na pregação dos Apóstolos, especialmente digno de atenção é o
facto que eles ensinam-nos a distinguir entre a verdade da salvação
da humanidade como um todo, que já foi realizada, e outra verdade -
a necessidade de uma recepção pessoal e assimilação
do dom de salvação da parte de cada fiel, e o facto que essa
salvação depende de cada um por si próprio. "Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, e dom de Deus", escreve o Apóstolo Paulo (Ef. 2,
8); mas ele também ensina, "operai a vossa salvação
com temor e tremor" (Filip. 2, 12).
A salvação do homem consiste na aquisição da vida
eterna em Deus, no Reino do Céu. "Mas nenhum fornicador, ou impuro,
ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de
Cristo e de Deus" (Ef. 5, 5; Apc. 21, 27). Deus é Luz, e não
há trevas nele, e aqueles que entram no Reino de Deus, devem eles próprios
serem filhos da Luz. Por isso, a entrada nesse reino necessariamente requer
pureza de alma, uma vestimenta de "santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor" (Heb. 12, 14).
O Filho de Deus veio ao mundo de modo a:
a - abrir o caminho para o género humano em sua totalidade para a salvação
pessoal de cada um de nós; o que significa;
b - dirigir os corações do homem para a busca e para a sede pelo
Reino de Deus, e "dar auxílio, dar poder nesse caminho da salvação
para a aquisição da pureza e santidade espiritual pessoal".
O item a) foi cumprido inteiramente por Cristo. O item b) depende de nós
próprios, apesar de ser realizado pela actividade da graça de
Cristo no Espírito Santo.
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011