Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

10 – A Igreja
a - O estabelecimento da Igreja

O Senhor Jesus Cristo, em Sua conversa com seus discípulos antes de Seus sofrimentos, prometeu a eles enviar o Espírito Santo, o Consolador, que permaneceria com eles para sempre - o Espírito da Verdade que os instruiria e os lembraria de tudo que ele próprio tivesse falado para eles, e os informaria sobre o futuro. Aparecendo depois da Ressurreição a seus discípulos, o Senhor concedeu a eles o poder dado por graças do Espírito Santo com as palavras: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoares os pecados lhes são perdoados: e aqueles a quem os retiverdes lhes são retidos" (Jo. 20, 22-23). E dez dias depois de Sua Ascensão, o Senhor, de acordo com sua promessa, enviou o Espírito Santo sobre os discípulos no dia de Pentecostes na forma de língua de fogo.
A descida no mundo do Espírito Santo foi expressa, antes de tudo, nos extraordinários dons dos Apóstolos na forma de sinais, profecias curativas, o dom da língua; e segundo lugar, em todos os poderes dados por graça que conduziram os fieis de Cristo à perfeição espiritual e à Salvação.
No Espírito Santo, no seu Divino poder, é dado a nós "tudo o que diz respeito à vida e piedade" (2 Ped. 1, 3). "Esses dons dados por graça estão na Santa Igreja que o Senhor fundou na terra". Eles compreendem os meios de nossa santificação e salvação.
Um exame desses meios de salvação é o objecto de uma nova secção de Teologia Dogmática - aquela relativa à Igreja de Cristo.

b - O conceito da Igreja de Cristo na terra

No significado literal da palavra, a Igreja é a "assembleia", em grego «ekklesia», de «ekkaleo», significando "juntar". Com esse significado ela foi usada no Velho Testamento também (o hebreu «kahal»).
No Novo Testamento, esse nome tem um incomparavelmente mais profundo e mais místico significado que é difícil de abarcar em uma curta fórmula verbal. O carácter da Igreja de Cristo é explicado melhor pelas imagens bíblicas às quais a Igreja é assemelhada.
O Novo Testamento é a nova planta de Deus, o jardim de Deus, a vinha de Deus. O Senhor Jesus Cristo por sua vida terrena, por sua morte na Cruz e sua Ressurreição, introduziu na humanidade novos poderes dados por graça, uma nova vida que é capaz de grande frutificação. Esses poderes nós temos na Santa Igreja que é o seu Corpo. A Sagrada Escritura é rica em expressivas imagens da Igreja. Aqui estão as principais delas:
a - A imagem da vinha e os seus ramos: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto... Estai em mim, e eu em vós: como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem... Nisto é meu Pai glorificado, que deis muito fruto e assim sereis meus discípulos" (Jo. 15, 1-8).
b - A imagem do pastor e do rebanho: "Na verdade, na verdade, vos digo que aquele que não entra pela porta do curral das ovelhas, mas sobre por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele porém que entra pela porta é o pastor das ovelhas... em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas... Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará e sairá e achará pastagens... Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas... Eu sou o Bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas, sou conhecido... e dou minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são desse aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor" (Jo. 10, 1-6).
c - Imagens da cabeça e do corpo: "O Pai sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como a cabeça da Igreja, que é seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef. 1, 22-23, e em outros lugares).
d - A imagem de um prédio em construção: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual todo edifício bem ajustado, cresce para o templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificadores para morada de Deus em Espírito" (Ef. 2, 19-22).
e - A imagem de uma casa de família: "...para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a Igreja do Deus Vivo, a coluna e a firmeza da verdade" (1 Tm. 3, 15). "... Cristo, como Filho sobre sua própria casa; a qual somos nós" (Heb. 3, 6).
A mesma coisa igualmente referem-se outras imagens do Evangelho: a rede de pescar, o campo que foi semeado, o vinhedo de Deus. Nos Padres da Igreja encontra-se com frequência uma comparação da Igreja no mundo com um barco no mar.
O Apóstolo Paulo, comparando a vida da Igreja de Cristo com um casamento, ou com o relacionamento entre marido e mulher, conclui seus pensamentos com essas palavras: "Grande é esse mistério: digo-o porém, a respeito de Cristo e da Igreja" (Ef. 5, 32). A vida da Igreja em sua essência é mística; o curso de sua vida não pode ser incluído inteiramente em nenhuma "história." A Igreja é completamente distinta de qualquer tipo que seja de sociedade organizada na terra.

c - O início e o propósito da Igreja

A Igreja de Cristo recebeu a sua existência com a vida para a terra do Filho de Deus, "quando a plenitude do tempo veio" (Gal. 4, 4), e com ele trouxe a salvação para o mundo.
O início de sua existência em sua forma e significados completos, com a plenitude dos dons do Espírito Santo, foi no dia de Pentecostes, depois da ascensão do Senhor. Nesse dia, depois da descida do Espírito Santo, sobre os Apóstolos, em Jerusalém foram baptizados cerca de três mil homens. E adiante, o Senhor adicionou cada dia aqueles a serem salvos, à Igreja. Desse momento em diante, o território da cidade de Jerusalém, a seguir a Palestina, e então todo Império Romano, e até mesmo terras além de suas fronteiras, começaram a ser cobertas com comunidades cristãs ou Igrejas. O nome "Igreja" que pertence a toda comunidade cristã, mesmo a uma única casa ou família, indica a unidade dessa parte com o todo, com o corpo da Igreja de Cristo completa.
Sendo "o corpo de Cristo", a Igreja "vai crescendo em aumento de Deus" (Col. 2, 19). Comparando a Igreja com um prédio que não está completo, e continua: "...todo edifício bem ajustado, cresce para o templo santo no Senhor" (Ef. 2, 21). Esse crescimento não é só no sentido do visível, aumento quantitativo da Igreja na terra; em grau ainda maior, este é um crescimento espiritual, a perfeição dos santos, o preenchimento do mundo celeste-terrestre pela santidade. Através da Igreja é realizada "a dispensação da plenitude dos tempos" pré-ordenada pelo Pai, para que "torne a congregar em Cristo todas as coisas,... tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" (Ef. 1, 10).
No sentido de seu crescimento terrestre, a Igreja desenvolve nas esferas dos ofícios divinos e dos cánones; é tornada mais rica pela literatura patrística; ela cresce nas formas externas que são necessárias para as condições terrestres de existência.
A Igreja é o nosso lar espiritual. Como no seu próprio lar - e ainda mais que isso - os pensamentos e acções de um Cristão estão intimamente ligados com a Igreja. Nela ele deve, enquanto viver na terra, trabalhar a sua salvação, e fazer uso dos meios de santificação dados pela graça para ele. Ela prepara suas crianças para a morada celeste.
Como, pela graça de Deus, o renascimento e o crescimento espiritual ocorre em um homem, em que sequência isso normalmente ocorre, que obstáculos devem ser ultrapassados por ele no caminho da salvação, como ele deve combinar os trabalhos indispensáveis com a ajuda dada por graça de Deus - ramos especiais da teologia e do aprendizado espiritual são devotados a todos esses assuntos. Eles são chamados de Teologia Moral e Teologia Ascética.
A Teologia Dogmática limita o assunto da Igreja a um exame das condições dadas por graça na Igreja para a obtenção do objectivo da salvação em Cristo.

d - A Cabeça da Igreja

O Salvador dando autoridade aos Apóstolos antes da sua Ascensão, contou a eles muito claramente que ele próprio não cessaria de ser o invisível Pastor e Piloto da Igreja: "e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Todos os dias constantes e inseparavelmente; Mt. 28, 20). O Salvador ensinou que ele, como o Bom Pastor, tinha que trazer para dentro também aquelas ovelhas que não eram desse aprisco de modo que tivesse que haver um só rebanho e um só pastor (Jo. 10, 16). "É-me dado todo poder no céu e na terra. Portanto ide, ensinai todas as nações..." (Mt. 28, 18-19). Em todas essas palavras está contida a ideia de que o sumo Pastor da Igreja é o próprio Cristo. Nós temos que estar cientes disso para não esquecer a intima ligação e união interior da Igreja na terra com a Igreja celeste.
O Senhor Jesus Cristo é também o Fundador da Igreja: "... edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela" (Mt. 16, 18).
Cristo é também o Fundamento da Igreja, a sua pedra de esquina: "Porque ninguém pode por outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1 Cor. 3, 11).
Ele também é a Cabeça. Deus Pai "sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constitui como Cabeça da Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef. 1, 22-23). "... a cabeça é Cristo, do qual todo o corpo bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz aumento do corpo, para sua edificação em amor" (Ef. 4, 15-16). Como todos os membros de nosso corpo constituem um completo e vivo organismo que depende de sua cabeça, assim também a Igreja é um organismo espiritual no qual não há lugar onde os poderes de Cristo não ajam. Ela é, a Igreja, "plena de Cristo" (Bispo Teófano, o Recluso).
Cristo é o Bom Pastor, de seu rebanho, a Igreja. Nós temos "o grande Pastor das ovelhas" de acordo com o Apóstolo Paulo (Heb. 13, 20). O Senhor Jesus Cristo é o Sumo Pastor: "servindo de exemplo ao rebanho", o Apóstolo Pedro pede àqueles que foram colocados como Pastores na Igreja, como co-pastor deles (em grego «syn-presbiteros»), "e quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória" (1 Ped. 5, 1-4).
Cristo é o invisível Sumo Bispo da Igreja. O Hieromártir Inácio, portador de Deus, um Padre Apostólico, chama o Senhor de "Bispo Invisível" (grego: «episkopos aoratos»).
Cristo é o eterno Sumo Sacerdote de sua igreja, como o Apóstolo Paulo explica em sua Epístola aos Hebreus. Os Sumos Sacerdotes do Velho Testamento "eram em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer. Mas estes, porque permaneceu eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Heb. 7, 23-25).
Ele é, de acordo com o Apocalipse de São João, o Teólogo: "...o que é verdadeiro, o que tem a chave de David; o que abre, e ninguém fecha; e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3, 7).
A verdade é que o próprio Cristo é a Cabeça da Igreja, tem sempre corrido de maneira viva, e continua a correr através da autoconsciência da Igreja. Em nossas preces diárias também lemos, "Ó Jesus, Bom Pastor das Tuas ovelhas..." (Oração de S. Antióquio nas Orações Antes de Dormir do Livro Ortodoxo de Orações).
Crisóstomo ensina em suas homilias sobre a Epístola aos Efésios o seguinte: "Em Cristo, na carne, Deus colocou uma única cabeça para todo mundo, para anjos e homens; isto é, Ele deu um único princípio para os anjos e para os homens: para um, Cristo de acordo com a carne; e para outro, Deus o Verbo. Assim como se alguém dissesse a respeito de uma casa, que uma parte dela estava estragada e a outra parte estava forte, e dever-se-ia restaurar a casa, isto é, torna-la mais forte, colocando uma nova fundação sob ela; assim também aqui, Ele trouxe todos sob uma única cabeça. Só então a união é possível; só então existirá aquela perfeita ligação, quando tudo, tendo uma certa ligação indispensável com o que está acima, será trazido sob uma única cabeça" (Works of St. Crysostom in Russian, V 11, p- 14).
A Igreja Ortodoxa de Cristo recusa-se a reconhecer ainda outra cabeça da Igreja na forma de um "Vigário de Cristo na terra", um título dado na Igreja Católica Apostólica Romana ao Bispo de Roma. Tal título não corresponde nem à Palavra de Deus nem à universal consciência e Tradição da Igreja; ele corta a Igreja na terra da imediata união com a Igreja-celeste. Um vigário é indicado na ausência do representante; mas Cristo está invisivelmente presente em sua Igreja sempre.
A rejeição pela antiga Igreja na visão do Bispo de Roma como o Cabeça da Igreja e Vigário de Cristo na terra é expressa nos escritos daqueles que foram activos nos Concílios Ecuménicos.
O Segundo Concílio Ecuménico de Bispos, depois de completadas as actividades escreveu uma epístola ao Papa São Dâmaso e a outros Bispos da Igreja Romana, que termina assim: "Quando desse modo o ensinamento da fé está em acordo, e o amor Cristão está estabelecido em nós, nós cessaremos de falar as palavras que foram condenadas pelos Apóstolos: "Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Cefas". E quando nós todos nos manifestarmos como de Cristo, já que Cristo não é dividido em nós, então pela misericórdia de Deus nós preservaremos o corpo de Cristo não dividido, e estaremos corajosamente diante do Trono do Senhor".
A personalidade de liderança no Terceiro Concílio Ecuménico, São Cirilo de Alexandria, em sua "Epístola sobre Símbolos Sagrados", que está incluída nos Actos desse Concílio, escreve: "Os mais santos Padres, ... que então se reuniram em Niceia, compuseram o venerável Símbolo Ecuménico (Credo). Com eles Cristo, ele próprio presidiu, pois Ele disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles" (Mt. 18, 20). Pois como pode existir qualquer dúvida que Cristo presidiu esse Santo e Ecuménico Concílio? Porque lá, uma certa base e uma firme e uma insuperável fundação foi lançada, e mesmo estendida para todo universo, isto é, esta santa e irrevogável confissão. Se é assim, então Cristo que é a Fundação, pode estar ausente se de acordo com as palavras do sapientíssimo Paulo: "Porque ninguém pode por outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1 Cor. 3, 11).
O Bem-aventurado Teodoreto, em uma homilia que também foi colocada nos Actos do Terceiro Concílio Ecuménico, endereçada aos heréticos, os seguidores de Nestório, diz: "Cristo é uma pedra de tropeço e escândalo para os descrentes, mas não põe os fiéis em vergonha; uma preciosa pedra e uma fundação, de acordo com as palavras de Isaías quando ele disse que Cristo é a pedra que os construtores rejeitaram e que tornou-se a pedra de esquina. Cristo é a fundação da Igreja. Cristo é a pedra que foi tirada não com mãos, e foi mudada para uma grande montanha e cobriu o universo, de acordo com a profecia de Daniel; é para Ele, com Ele, e pelo seu poder que nós batalhamos, e por quem nós somos removidos para longe das cidades reinantes, mas não somos excluídos do Reino do Céu; pois nós temos uma cidade no alto, Jerusalém, "da qual o artífice e construtor é Deus" (Heb. 11, 10), como diz o Apóstolo Paulo.
A respeito da pedra sobre a qual o Senhor prometeu ao Apóstolo Pedro fundar sua Igreja, São Juvenal, Patriarca de Jerusalém, em sua Epístola ao clero da Palestina depois do Quarto Concílio da Calcedónia escreve: "quando o chefe e primeiro dos Apóstolos Pedro disse: "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo", o Senhor respondeu: "Bem-aventurado és tu Simão Barjonas, porque tu não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai que está nos céus. Pois eu também te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt. 16, 16-18). Nessa confissão a Igreja de Deus é feita firme, e essa fé, dada a nós pelos santos Apóstolos; a Igreja tem mantido e manterá até o fim do mundo".

e - A ligação íntima entre a Igreja na terra e a Igreja no céu

O Apóstolo instrui aqueles que vieram a acreditar em Cristo e foram juntados à Igreja como segue: "Mas chegastes ao monte de Sião, e a cidade do Deus vivo, Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos, à universal assembleia, e à Igreja dos primogénitos, que estão escritos nos céus, e à Deus, o juiz de todos e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e à Jesus o Mediador duma Nova Aliança..." (Heb. 12, 22-24). Nós não estamos separados de nossos irmãos mortos na fé por um inultrapassável abismo de morte: eles estão perto de nós em Deus, "porque para Ele vivem todos" (Lc. 20, 39).
A Igreja canta essa relação no «Kondakion» na festa da Ascensão do Senhor: "Tendo cumprido o plano providencial a nosso respeito e tendo unido a criatura terrestre aos habitantes dos céus, Tu foste elevado em glória, ó Cristo nosso Deus, não Te afastando, mas permanecendo com aqueles que Te amam e a quem Tu mesmo disseste: Eu estou convosco e ninguém pode algo contra vós".
Por certo, existe uma distinção entre a Igreja de Cristo na terra e a Igreja dos santos nos céus; os membros da Igreja terrena ainda não são membros da Igreja celeste.
Relacionado com isso a "Epístola dos Patriarcas Orientais" (século XVII), em resposta ao ensinamento dos Calvinistas a respeito da uma e invisível Igreja, formula assim o ensinamento Ortodoxo sobre a Igreja: "Nós cremos, como fomos instruídos a crer, naquela que é chamada, e que de facto é, a Igreja Santa, Católica e Apostólica, que engloba todos aqueles, que quem quer que sejam e estejam onde estiverem, acreditam em Cristo, e que estando agora em sua peregrinação terrena, ainda não vieram morar na pátria celeste. Mas nós não confundimos nem minimamente a Igreja em peregrinação com a Igreja que alcançou a pátria celeste, só porque, como alguns heréticos pensam, uma e a outra, ambas existem, e ambas são como se fossem dois rebanhos do único Sumo Sacerdote, Deus, e são santificadas pelo único Espírito Santo. Tal confusão deles é fora de lugar e impossível, visto que uma está batalhando e ainda está a caminho enquanto a outra já está celebrando a sua vitória e atingiu a terra do Pai e recebeu a recompensa, algo que se seguirá também para toda a Igreja Ecuménica".
E na realidade, o mundo terrestre e o celeste são duas formas separadas de existência: lá no céu essa existência é sem corpo, aqui na terra é vida com corpo e morte física; lá, aqueles que atingiram, aqui, aqueles que procuram atingir; aqui, fé, lá, vendo o Senhor face a face; aqui esperança lá plenitude.
No entanto, não se pode representar a existência dessas duas religiões, a celeste e a terrestre, como completamente separadas. Se nós não atingimos tão alto como os santos no céu; os santos sim atingem tão alto como nós. Como alguém que se tendo estudado toda uma ciência tem comando também sobre suas partes elementares, assim como um general que entrou em uma nação tem comando também sobre suas fronteiras; assim também aqueles que alcançaram o céu em seu comando aquilo que eles passaram através de, e eles não cessam de ser participantes na vida da Igreja, militante na terra.
Os santos Apóstolos, partindo desse mundo, dispensaram o corpo terrestre, mas não dispensaram o copo da Igreja. Não só eles foram, mas eles também permanecem sendo as bases da Igreja. A Igreja é construída "sobre o fundamento dos Apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina" (Ef. 2, 20) estando no céu, eles continuam a estar em comunhão com os fieis aqui na terra.
Tal entendimento esteve presente no pensamento patrístico antigo, tanto no oriente quanto no ocidente. Aqui estão as palavras de Crisóstomo:
" De novo, o memorial dos mártires, e de novo um dia festivo e de solenidade espiritual. Eles sofreram, e nós rejubilamos; eles lutaram, e nós saltamos de alegria; sua coroa é a glória de todos, ou melhor, a glória de toda a Igreja. Como pode ser isso? Você diria. Os mártires são as nossas partes e membros. Mas, "de maneira que se um membro padece, todos os membros padecem com ele, e se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele" (1 Cor. 12, 26). A cabeça é coroada e o resto do corpo se rejubila, e recebe o vitorioso nos Jogos Olímpicos, e todo o povo se rejubila, e recebe o vitorioso com grande glória. Se nos Jogos Olímpicos, todo povo rejubila, e recebe o vitorioso com grande glória; se nos Jogos Olímpicos aqueles que não participam em nada dos esforços recebem tal satisfação, muito mais pode assim ser com respeito às batalhas da piedade. Nós somos os pés, e os mártires são as cabeças: "mas a cabeça não pode dizer aos pés: não tenho necessidade de vós" (1 Cor. 12, 21). Os membros são glorificados mas a preeminência de glória não os separa da ligação com as outras partes; porque então eles estão especialmente gloriosos quando não estão separados da ligação com outras partes". "Se eles não se envergonham de serem nossos membros; pois neles está expresso o amor, e amor usualmente junta e liga coisas que estão separadas apesar da sua diferença em dignidade" (São João Crisóstomo, "Elogy for the Holy Martir Romanus").
" Porque as almas dos mortos pios", diz o Bem-aventurado Santo Agostinho, "não partem da Igreja, que é o Reino de Cristo. Isto é porque, no altar do Senhor, o memorial delas é realizado pelo oferecimento do Corpo de Cristo... porque isso deveria ser feito senão porque os fiéis mesmo depois da morte permanecem membros da Igreja?"
O para sempre memorável Pastor russo João de Kronstadt, em seu "Thoughs Concerning The Church" escreve: "reconheçam que todos os santos são nossos irmãos mais velhos na Casa Una do Pai Celestial; eles partiram da terra para o céu e eles estão sempre connosco em Deus, e eles constantemente nos ensinam e nos guiam para a vida eterna por meios dos Ofícios da Igreja, dos mistérios, dos ritos, instruções e decretos da Igreja, que eles compuseram - por exemplo, aqueles relativos a jejuns e festas - eles vivem junto connosco, eles cantam, eles falam, eles instruem, e nos ajudam em várias tentações e tristezas. E chamem-nos como se eles estivessem vivendo convosco sob o mesmo teto; glorifiquem-nos, agradeçam-lhes, conversem com eles como com as pessoas vivas; e vocês acreditarão na Igreja" (São João de Kronstadt, "What Does it Means to Believe in the Church? Thoughts About the Church and the Orthodox Divines Services").
A Igreja em suas orações para os Apóstolos e Hierarcas chama-os de pilares, sobre os quais ainda hoje a Igreja está estabelecida. "Tu és um pilar da Igreja"; "Vós sois pilares da igreja"; "tu és um bom pastor e fervoroso professor, ó hierarca", "Vós sois os olhos da Igreja de Cristo"; "Vós sois as estrelas da Igreja" (de vários Ofícios da Igreja). Em harmonia com a consciência da Igreja, os santos, indo para o céu, compõem o firmamento da Igreja como estrelas magníficas, e eles brilham sobre os fiéis, ó divinos Mestres, guerreiros de Cristo" (do Ofício Comum do Mártires). "Como brilhantes e luminosas estrelas vós mentalmente mostram-se no firmamento da Igreja, e assim iluminam toda criação (do Ofício para os Hieromártires).
Existe uma base para tais apelos aos santos nas próprias palavras de Deus. No Apocalipse de São João, o Teólogo, nós lemos: "A quem vencer, eu o farei coluna no templo de meu Deus..." (Apoc. 3, 12). Assim os santos são colunas da Igreja não só no passado, mas também em todos os tempos.
Nessa ligação da Igreja com os santos, e da mesma forma na liderança da Igreja pelo próprio Senhor, pode ser visto um dos lados místicos da Igreja. "Por tua Cruz, ó Cristo, existe um só rebanho de anjos e homens; e na assembleia céu e terra rejubilam, clamando, Senhor, glória a Ti" (Octoecos, Tom 1, Apóstica de matinas de Quarta-feira).
O novo artigo do Símbolo da Fé indica os quatros atributos básicos da Igreja: "creio na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica". Esses atributos são chamados essenciais, isso é, sem os quais a Igreja não é a Igreja.

f - Atributos da Igreja - Sua unidade

No texto grego a palavra "em Una", é expressa como um numeral (em mian). Assim o Símbolo da Fé confessa que a Igreja é uma: a - é uma como vista de dentro de si própria, não dividida; b - é uma como vista de fora, não tendo nenhuma outra a seu lado. A sua unidade consiste não em por junto que é diferente por natureza, mas numa concordância interna e unanimidade. "Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos e por todos em todos" (Ef. 4, 4-6).
Descrevendo a Igreja em parábolas, o Salvador fala de um só rebanho, um só aprisco, uma videira, e uma pedra de fundação da Igreja. Ele deu um só ensinamento, um único Baptismo, e uma única comunhão. A unidade dos fiéis em Cristo contem o sujeito de sua Oração de Sumo Sacerdote antes de seus sofrimentos na Cruz; o Senhor orou: "Para que todos sejam um..." (Jo. 17, 21).
A Igreja na terra tem um lado visível e um lado invisível. O lado invisível é: que sua Cabeça é Cristo; que ela é animada pelo Espírito Santo; que ela é realizada a mística da vida interior em santidade dos mais perfeitos de seus membros. No entanto, a Igreja, pela natureza de seus membros, é visível; desde que ela é composta de homens em seus corpos; ela tem uma hierarquia visível; ela executa orações e acções sagradas visivelmente; ela confessa abertamente, por meio de palavras, a fé de Cristo.
A Igreja não perde sua unidade porque lado a lado com ela existem sociedades cristãs que não pertencem a ela. Essas sociedades não estão na Igreja, elas estão fora dela.
A unidade da Igreja não é violada por conta de divisões temporárias de natureza não dogmática. Diferença entre as Igrejas aparecem frequentemente vindas de informações insuficientes ou incorrectas. Também, às vezes, uma quebra temporária de comunhão é causada por erros pessoais de hierarcas individuais que estão na cabeça de uma ou outra Igreja local; ou é causada pela violação por eles de cánones da Igreja, ou pela violação da submissão de um grupo eclesiástico territorial a outro de acordo com antigas tradições estabelecidas. Além disso, ávida mostra a possibilidade de perturbações dentro de uma Igreja local até a manifestação exterior e trunfo dos defensores da autêntica verdade ortodoxa. Finalmente, a ligação entre Igrejas pode às vezes ser violada por longos períodos por condições políticas, como frequentemente tem acontecido na história (Dois exemplos da recente história da Igreja podem servir para ilustrar o carácter dessas divisões temporárias. No começo do século XIX, quando a Grécia proclamou a sua independência do Sultanato Turco, as partes da Igreja Grega na própria Grécia e a Igreja Grega na Turquia tornaram-se divididas exteriormente. Quando o Patriarcado de Constantinopla, que ainda estava sob autoridade turca, foi forçado a excomungar os "rebeldes" na Grécia, os Ortodoxos na Grécia recusaram-se aceitar esse ato por ter sido feito sob coerção política, mas eles não deixaram de olhar o Patriarca como um membro da Igreja Ortodoxa que eles, nem tiveram dúvidas sobre se os actos sacramentais não políticos eram doadores de graça. Essa divisão conduziu à formação hoje de duas Igrejas locais separadas (em completa comunhão uma com a outra): a da Grécia e a de Constantinopla.
Nó século XX, na Igreja Ortodoxa Russa, foi formada em 1927 pelo Metropolita Sérgio (Patriarcado de Moscovo) uma administração da Igreja baseada na submissão aos ditames dos governantes ateístas. Partes da Igreja na Rússia (a Igreja da Catacumba ou Verdadeira Igreja Ortodoxa) e fora da Rússia (a Igreja Russa fora da Rússia) recusam-se até hoje a ter comunhão com essa administração por sua dominação política pelos comunistas; mas os Bispos da Igreja fora da Rússia (a respeito da Igreja da Catacumba é mais difícil fazer-se uma afirmação geral) não negam a graça dos Mistérios do Patriarcado de Moscovo e ainda se sentem um com o clero e fiéis do Patriarcado que tentam não colaborar com os objectivos comunistas. Quando o comunismo cair totalmente na Rússia, esses corpos da Igreja poderão mais uma vez ter comunhão ou até mesmo se juntarem, deixando para um futuro Concílio livre todo o julgamento relativo ao período "Sergianista") Em tais casos, a divisão toca somente em relações exteriores, mas não toca ou viola a unidade espiritual interior.
A verdade da Igreja Una é definida pela Ortodoxia de seus membros, e não pela sua quantidade em um ou outro momento; São Gregório, o Teólogo, escreveu a respeito à Igreja Ortodoxa de Constantinopla antes do Segundo Concílio Ecuménico o seguinte: "Esse campo foi uma vez pequeno e pobre... Não foi nem mesmo um campo. Talvez ele não fosse digno de celeiros, armazéns e foices. Nele não havia montes de feno nem ajuntamento de nada, mas talvez só erva pequena e não amadurecida que cresce no telhado com a qual "o segador não enche a sua mão", e que não chamam para si a bênção daqueles que passam (Sal. 129, 6 - 8). Tal era o nosso campo, a nossa colheita! No entanto ela é grande, gorda e abundante diante daquele que vê o que está escondido... ainda, não é conhecida entre o povo, não está reunida num lugar, mas é juntada pouco a pouco "como as frutas de verão, como os rabiscos da vindima; não há cachos de uva para comer" (Miqueias 7, 1). Assim era nossa pobreza e tristeza" (Sermão de despedida de São Gregório, o Teólogo, aos padres do Segundo Concílio Ecuménico).
" E aonde estão aqueles", diz São Gregório noutra homilia, "que nos recriminam por nossa pobreza e estão orgulhosos de sua riqueza? Eles consideram um grande número de pessoas ser um sinal da Igreja e desprezam o pequeno rebanho. Eles medem a divindade (o santo tem em mente aqui os arianos, que ensinavam que o Filho de Deus era menos que o Pai) pesando pessoas. Eles dão um grande valor a grãos de areias (isso é, às massas) e desvalorizam os luminares. Eles guardam em seus tesouros pedras comuns, e desdenham pérolas" (São Gregório, o Teólogo, Homilia 3, contra os Arianos). Nas orações da Igreja estão contidas petições pela cessação de possíveis desentendimentos entre as Igrejas: "Faz com que acabem os cismas nas Igrejas... apressa-te a por termo às revoltas das heresias pelo poder do Teu Espírito Santo" (Oração Eucarística na Liturgia de São Basílio, o Grande). "Nós Te glorificamos... Tu Uno na Trindade, e imploramos pelo perdão de pecados, paz no mundo, e concórdia na Igreja... concebe paz e unidade à tua Igreja, é tu que amas a humanidade " (Cánon das Noturnas de Domingo, Tom 8, cântico 9).

g - Atributos da Igreja - Sua santidade

O Senhor Jesus Cristo cumpriu o trabalho de seu ministério e morte na terra na Cruz; Cristo "amou a Igreja... para a apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef. 5, 25-27). A Igreja é santa através de sua Cabeça, o Senhor Jesus Cristo. É santa, também, através da presença nela do Espírito Santo e seus dons dados por graça, comunicados nos Mistérios e outros ritos sagrados da Igreja. Ela é santa também através de sua ligação com a Igreja celeste.
O verdadeiro corpo da Igreja é santo: "E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são" (Rom. 11, 16). Na verdadeira Igreja sempre houve e sempre há pessoas da mais elevada pureza espiritual e com dons especiais de graça - mártires, virgens, ascetas, santos monges e monjas, hierarcas, justos, benditos. A Igreja tem um não contado coro de pessoas partidas de todos os tempos. Ela tem manifestações dos extraordinários dons do Espírito Santo, tanto visíveis quanto escondidos dos olhos do mundo.
A Igreja é santa pelo seu chamado, ou seu propósito. Ela é santa também por seus frutos: "...tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rom. 6, 22), como o Apóstolo Paulo nos instrui.
A Igreja é santa também através de seu puro e infalível ensinamento da fé: a Igreja do Deus vivo e, de acordo com a palavra de Deus, "a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim. 3, 15). Os Patriarcas das Igrejas Orientais, considerando a infalibilidade da Igreja no seu ensinamento, expressam-se assim: "dizendo que o ensinamento da Igreja é infalível, nós não afirmamos nada mais que isso, que é imutável, que é o mesmo que foi dado a ela no inicio como o ensinamento de Deus" (Encíclica dos Patriarcas Orientais, 1848, parágrafo 12).
A santidade da Igreja não é obscurecida pela intrusão do mundo na Igreja, ou pela pecabilidade dos homens, tudo o que é pecaminoso ou mundano e que se introduz na esfera da Igreja permanece estranho a ela e é destinado a ser peneirado para fora e destruído, como erva daninha na época de plantio. A opinião que a Igreja consiste só de pessoas justas e santas sem pecado não coincide com o ensinamento directo de Cristo e seus Apóstolos. O Salvador compara a sua Igreja com um campo onde o trigo cresce juntamente com o joio, e outra vez, com uma rede que tira dá água dons e maus peixes. Na Igreja há bons e maus servos (Mt. 18, 23-35), virgens sábias e loucas (Mt. 25, 1-13). "Nós acreditamos", estabelece a Encíclica dos Patriarcas Orientais, "que os membros da Igreja Católica são todos os fieis, e somente os fieis, isto é, aqueles que sem duvida confessam a fé pura no Salvador Cristo (a fé que nós recebemos do próprio Cristo, dos Apóstolos e dos santos Concílios Ecuménicos), ainda que alguns fiéis possam submeter-se a vários pecados. A Igreja julga-os, chama-os ao arrependimento, e os conduz aos caminhos dos mandamentos salvíficos. É por isso apesar do facto que eles são sujeitos aos pecados, eles permanecem e são reconhecidos como membros da Igreja Católica enquanto não se tornarem apóstatas e enquanto mantiverem a fé Católica-Ortodoxa".
Mas há uma fronteira, que se os pecadores ultrapassarem, eles, como membros mortos, são cortados do corpo da Igreja, seja por um acto visível da autoridade da Igreja ou por acto invisível do julgamento de Deus. Assim, aqueles que não pertencem à Igreja e que são ateístas ou apóstatas da fé Cristã, aqueles que são pecadores caracterizados por uma teimosia consciente e falta de arrependimento pelos seus pecados, como é dito no Catecismo (artigo nono). Também entre aqueles que não pertencem a Igreja há heréticos que corromperam os nossos dogmas fundamentais da fé; cismáticos que por vontade própria se separaram da Igreja (o Cánon 33 do Concílio de Laodicéia proíbe a oração com cismáticos). São Basílio, o Grande explica: "os antigos distinguiam entre heresia, cisma e assembleias arbitrárias. Eles chamavam heréticos aqueles que se tinham cortado completamente para fora e se tinham tornado estranhos na fé em si; chamavam-se cismáticos àqueles que se haviam separado por iniciativa própria por opiniões a respeito de certos assuntos eclesiásticos e em questões que permitiam tratamento e cura; chamavam de assembleias ordinárias àquelas reuniões compostas de padres ou Bispos desobedientes e povo não instruído".
A Tradição da Igreja é irreconciliável com falsos ensinamentos e heresias. Por isso a Igreja guarda estritamente a pureza da verdade e ela mesma exclui os heréticos de seu meio.

h - Atributos da Igreja - Sua catolicidade

No texto grego do Símbolo da Fé de Nicéia-Constantinopla (o Credo), a Igreja é chamada de "católica" (na tradução eslavônica, sobornaya). Qual é o significado dessa palavra grega?
A palavra «catholikos» em grego antigo, na literatura pré-Cristã é encontrada muito raramente. No entanto, a Igreja Cristã desde a antiguidade escolheu essa palavra para significar um dos principais atributos da Igreja, nomeadamente, para expressar seu carácter universal. Ainda que ela tivesse a disposição palavras como cosmos (o mundo), ou «oikoumene» (a terra habitada), evidentemente essas palavras eram insuficientes para expressar um certo conceito novo que está presente só na consciência Cristã. Nos antigos Símbolos de fé, aonde a palavra "Igreja" aparece, é sem falha com a definição "católica". Assim, no Símbolo da Fé de Jerusalém nós lemos: "e em uma, santa, católica Igreja". No símbolo de Roma: "Na santa, católica Igreja, a comunhão dos santos"; etc. Na literatura cristã antiga, esse termo é encontrado muitas vezes em São Inácio, o Portador de Deus, um padre apostólico, por exemplo quando ele diz: "Onde Jesus Cristo está, lá está a Igreja Católica". Esse termo é encontrado constantemente nos Actos de todos os Concílios Ecuménicos. Na tradução directa da palavra, ela significa o mais alto grau de abrangência, totalidade, plenitude (sendo derivada de «cathola», significando "inteiramente o todo").
Lado a lado com esse termo, também era usada com o significado de "universal", a palavra «oikoumenicos». Esses dois termos não eram misturados. Os Concílios Ecuménicos receberam o título de «oikomenicos synodos de oikoumenicos» significando toda terra habitada - na verdade, a terra que pertencia à civilização greco-romana.
A Igreja é católica. Isso corresponde às palavras apostólicas, "... a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef. 1, 23). Esse conceito indica que toda a raça humana é chamada para a salvação e portanto rodos os homens são comprometidos a serem membros da Igreja de Cristo, apesar de nem todos pertencerem a ela de facto.
O grande Catecismo Ortodoxo, respondendo a pergunta, "porque a Igreja é chamada católica, ou seja, universal?" responde: "porque ela não é limitada a qualquer lugar, nem tempo, nem povo, mas contém fieis verdadeiros de todos os lugares, tempos e povos" (Eastern Orthodox Books Ed, p 50).
A Igreja não é limitada por lugar. Ela abrange em si todas as pessoas que acreditam na maneira Ortodoxa, morem aonde quer que seja na terra. De outro lado é essencial ter-se em mente que a Igreja era católica mesmo quando ela era composta de um número limitado de comunidades, e também quando no dia de Pentecostes, seus limites não se estendiam além do salão superior de Sião e Jerusalém.
A Igreja não é limitada pelo tempo: ela foi pré-ordenada a trazer pessoas para a fé "até o final do mundo...."; "...e eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt. 28, 20). O Espírito, o Consolador, "Ficará convosco para sempre" (Jo. 14, 16). O Mistério da Eucaristia será cumprido até que o Senhor venha outra vez para a terra (1 Cor. 11, 26).
A Igreja não é limitada por nenhuma condição de ordem civil, nem por uma língua ou povo definido.

i - Igreja Apostólica

A Igreja é chamada "Apostólica" porque os Apóstolos fizeram o início histórico dela. Eles espalharam Cristianismo até aos confins da terra e quase todos eles selaram a sua pregação com uma morte por martírio. As sementes do Cristianismo foram semeadas no mundo pelas palavras deles e regadas com o seu sangue. A chama inextinguível da fé no mundo eles acenderam pelo poder a sua fé pessoal.
Os Apóstolos preservaram e transmitiram para a Igreja o ensinamento da fé e da vida Cristã na forma que eles haviam recebido do seu Mestre e Senhor. Dando em si próprios o exemplo de cumprimento dos comandos do Evangelho eles entregaram aos fieis o ensinamento de Cristo pela palavra da boca baseada na Sagrada Escritura para que ele fosse preservado, confessado e vivido.
Os Apóstolos estabeleceram na Igreja a graça da sucessão episcopal, e através dela a sucessão de graça para todo o ministério da hierarquia da Igreja. Eles colocaram o início da realização dos santos Mistérios do Corpo e Sangue de Cristo, no Baptismo e Ordenação.
Os Apóstolos estabeleceram o inicio da estrutura canónica da vida da Igreja, estando preocupados que tudo deveria ser feito decentemente e em ordem; um exemplo disso é dado no capítulo catorze da Primeira Epistola aos Coríntios, que contém instruções para a as assembleias onde os Ofícios da Igreja são celebrados.
Tudo o que dissemos refere-se ao aspecto histórico. Mas além disso existe outro aspecto, o interior que dá a Igreja uma qualidade apostólica. Os Apóstolos não estiveram historicamente na Igreja de Cristo; eles permaneceram nela e estão nela agora. Eles estiveram na Igreja terrestre, e estão agora na Igreja celeste, continuando a estar em comunhão com os fiéis na terra. Sendo o núcleo histórico da Igreja, continuam a ser, estando espiritualmente vivos, apesar de invisíveis, o núcleo da Igreja, agora e sempre, na constante existência dela. O Apóstolo João, o Teólogo, escreve: "... e nós anunciamos, para que também tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo. 1, 3). Essas palavras tem para nós a mesma força que elas tiveram para os contemporâneos dos Apóstolos; elas contêm uma exortação para nós estarmos em comunhão com a ordem dos Apóstolos, pois a proximidade dos Apóstolos com a Santíssima Trindade é maior que a nossa.
Assim, tanto por razões de carácter histórico quanto por razões de carácter interior, os Apóstolos constituem a base, fundação da Igreja. Por essa razão é dito na Igreja: ela é "Edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina" (Ef. 2, 20). A nomeação da Igreja como "Apostólica" indica que ela é estabelecida não sobre só um Apóstolo (como a Igreja Romana mais tarde veio a pensar), mas sobre todos os doze; de outra forma ela teria que ter o nome de Pedro, ou João, ou de algum outro. A Igreja como ela estava adiante do tempo nos preveniu contra pensar de acordo com um princípio "carnal" (1 Cor. 3, 4): "Eu sou de Paulo, e outro, eu sou de Apolo". No Apocalipse, a respeito da cidade que descia do céu é dito: "E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro" (Apoc. 21, 14).
Os atributos da Igreja indicados no Símbolo da Fé: "una, santa, católica, apostólica", referindo-se à Igreja militante. No entanto, eles recebem o seu significado completo com a consciência da unicidade dessa Igreja com a Igreja celeste do único Corpo de Cristo: a Igreja é una, com uma unidade que é tanto celeste, quanto terrestre; e é santa com uma santidade celeste-terrestre; e é católica apostólica pela sua ligação inquebrantável com os Apóstolos e todos os santos.
O ensinamento Ortodoxo da Igreja, que é nele próprio muito claro e repousa sobre a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição, tem que ser contrastado com outro conceito que está largamente espalhado no mundo protestante contemporâneo e que tem penetrado até em círculos Ortodoxos. De acordo com esse diferente conceito, todas as várias organizações Cristãs existentes, as assim chamadas "confissões" e "seitas" ainda que estejam separadas uma das outras, ainda assim compõe uma única "Igreja Invisível", desde que cada uma delas confessa Cristo como Filho de Deus e aceita o seu Evangelho.
A disseminação de tal visão é ajudada pelo facto que lado a lado com a Igreja Ortodoxa existe fora dela um número de Cristãos que excedem em muitas vezes o número de membros da Igreja Ortodoxa. Com frequência nós podemos observar nesse mundo Cristão fora da Igreja um fervor religioso e uma fé, uma vida moral digna, uma convicção - na direcção do fanatismo - um comportamento correcto, uma organização e uma ampla actividade caritativa. Qual é a relação de todos eles com a Igreja de Cristo?
Com certeza, não existe razão para olharmos essas confissões e seitas como no mesmo nível que as religiões não-Cristãs. Não se pode negar que a leitura da Palavra de Deus tem uma influência benéfica em qualquer um que nela procurar instrução e reforço da fé, e que reflexão devota sobre Deus o Criador e sobre o Provedor e Salvador, tem um poder elevado também entre os Protestantes. Nós não podemos dizer que as orações deles são totalmente infrutíferas se elas vem de um coração puro, pois "em qualquer nação aquele que teme o Senhor, é agradável a Ele" (Act. 10, 35 paráfrase). O Deus Omnipresente e Bom Provedor está sobre eles, e eles não estão privados da misericórdia de Deus. Eles ajudam a restringir a aproximação moral, vícios e crimes; e eles opõem-se ao espalhamento do ateísmo.
Mas tudo isso não nos dá base para considera-los como pertencendo à Igreja. Já o facto que uma parte desse amplo mundo Cristão fora da Igreja, particularmente o Protestantismo todo, nega a ligação com a Igreja Celeste, isto é, a veneração em oração da Mãe de Deus e dos santos, e da mesma forma orações feitas pelos mortos, indica que eles destruíram a ligação com o Uno Corpo de Cristo que une em si o celeste e o terrestre. Além disso, é um facto que essas confissões não-Ortodoxas "romperam" de uma ou outra forma, directa ou indirectamente, com a Igreja Ortodoxa, com a Igreja em sua forma histórica; eles mesmos cortaram a ligação, eles "partiram" dela. Nem nós nem eles temos o direito de fechar os olhos para esse facto. O ensinamento dos Não-Ortodoxos contêm heresias que foram decididamente rejeitadas e condenadas pela Igreja em seus Concílios Ecuménicos. Nesses numerosos ramos do Cristianismo não há unidade, nem interior, nem exterior - seja com a Igreja Ortodoxa ou entre eles mesmos. A unificação supra-confessional (o "movimento ecumenista") que se está observando agora não entra nas profundezas da vida dessas confissões mas tem um carácter exterior. O termo "invisível" pode referir-se somente à Igreja celeste. A Igreja na terra, ainda que tenha seu lado invisível, como um barco que tem uma parte escondida na água e é invisível aos olhos, ainda permanece visível, porque ela consiste de pessoas e tem formas visíveis de organização e de actividades sagradas.
Por conseguinte é muito natural afirmar que essas organizações religiosas são sociedades que estão "perto", ou "proximidade", "encostada", ou talvez até mesmo "contígua" a Igreja, mas às vezes "contra" ela; mas elas estão todas "fora" da Una Igreja de Cristo. Algumas vezes cortaram-se da Igreja, outras foram para longe. Algumas ao ir embora, ao mesmo tempo mantiveram ligações de sangue com a Igreja. Outras perderam todo parentesco, e nelas o verdadeiro espírito e as bases do Cristianismo foram distorcidas. Nenhuma delas encontra-se sob a actividade da graça que está presente na Igreja, e especialmente a graça que é dada nos mistérios da Igreja. Elas não são nutridas por aquela mesa mística que conduz ao longo dos passos da perfeição moral.
A tendência na sociedade cultural contemporânea de colocar todas as confissões no mesmo nível não é limitada ao Cristianismo; nesse mesmo nível igual para todos são colocadas também as religiões não-Cristãs, baseado no facto que todas "conduzem a Deus", e além tomadas todas juntas, elas superam largamente o mundo Cristão em número de membros.
Todas essas visões "unitilizadoras" e "equalizadoras" indicam um esquecimento do princípio de que podem existir muitos ensinamentos e opiniões, mas existe uma só verdade. E a união Cristã autêntica - unidade na Igreja - só pode ser baseada na unidade de mente e não em diferenças de mente. A Igreja é "a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim. 3, 15).

j - A hierarquia da Igreja

Todos os membros da Igreja de Cristo forma um único rebanho de Deus. Todos são iguais perante o julgamento de Deus. Porém, assim como as partes do corpo tem diferentes funções, na vida do organismo, e assim como numa casa cada parte tem um uso próprio, assim também na Igreja existem vários cargos. O cargo mais elevado na Igreja como uma organização é gerado pela hierarquia, que é distinta dos membros comuns.
A hierarquia foi estabelecida pelo Senhor Jesus Cristo. Ele "... deu uns para Apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo. Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Ef. 4, 11-13).
Ninguém na Igreja pode tomar sobre si próprio o ministério hierárquico, mas só aquele que é chamado e legalmente colocado através do Ministério da Ordenação. "E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Aarão" (Heb. 5, 4). Não importa quão elevada seja a vida moral que um homem leve, ele não pode preencher o ministério hierárquico sem uma consagração especial. Não é possível, portanto, traçar um paralelo entre o grau moral de um homem e o grau de seu nível na hierarquia. Aqui uma perfeita correspondência é desejável mas nem sempre é obtida.

l - Apóstolos

O Senhor Jesus Cristo durante o seu ministério terrestre escolheu dentre os seus seguidores doze discípulos - os Apóstolos (aqueles "enviados para longe") - dando-lhes dons espirituais especiais e uma autoridade especial. Aparecendo a eles depois da sua Ressurreição, ele disse-lhes: "...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, os pecados lhe serão perdoados: e aqueles a quem os retiverdes lhes serão retidos" (Jo. 20, 21-23). Essas palavras significam que é essencial ser enviado do alto de modo a preencher o ministério Apostólico, assim como o ministério pastoral que se segue depois. O escopo desses ministérios é expresso nas palavras finais do Senhor para os seus discípulos antes da sua Ascensão: "Portanto ide, ensinai todas as nações baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado e eis que eu estou com vocês todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém" (Mt. 28, 19-20). Nessas palavras finais o Salvador indica o triplo ministério dos Apóstolos em sua missão: 1 - ensinar, 2 - executar funções sagradas (baptizar), e 3 - governar ("ensinando-os a guardar toda as coisas"). E nas palavras "eu estou convosco, até a consumação dos séculos" ele abençoa o trabalho pastoral dos sucessores por todos os tempos até o final dos séculos, até que a existência da Igreja terrestre tenha chegado ao fim. As palavras do Senhor citadas anteriormente "Recebei o Espírito Santo" (Jo. 20, 21), testemunham que essa autoridade de pastoreio é inseparavelmente unida com dons especiais na graça do Espírito Santo. Os três ministérios hierárquicos estão unidos num único conceito de pastores, de acordo com a expressão do Senhor: "Apascenta as minhas ovelhas... apascenta as minhas ovelhas" (Jo. 21, 16-17), e dos Apóstolos: "Apascentai o rebanho de Deus" (1 Ped. 5, 2).
Os Apóstolos estiveram sempre citando a ideia da instituição Divina da hierarquia. Foi por um rito especial que o Apóstolo Matias foi juntado à ordem dos doze no lugar de Judas que havia caído fora (Act. 1). Esse rito foi a escolha de pessoas dignas, seguida por orações e por lançamentos de sortes. Os Apóstolos escolheram sucessores para si próprios através da ordenação. Esses sucessores foram os bispos.

m - Bispos

O Apóstolo Paulo escreve a Timóteo: "não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Tim. 4, 14). E em outro lugar o Apóstolo escreve para ele: "Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos" (2 Tim. 1, 6). A Timóteo e Tito, Bispos de Éfeso e Creta, é dado o poder de ordenar Padres: "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei" (Tit. 1, 5). Da mesma forma lhes foi dado o direito de dar méritos aos Presbíteros: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina. Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: digno é o obreiro de seu salário" (1 Tim. 5, 17-18). Da mesma forma eles têm o direito de examinar acusações contra os Presbíteros: "Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas" (1 Tim. 5, 19).
Assim os Apóstolos - aqueles que precisamente eram chamados para o mais alto ministério na Igreja pelo próprio Senhor - colocaram Bispos como seus sucessores imediatos, e continuadores, e Presbíteros como seus próprios auxiliares e como auxiliadores dos Bispos, como as "mãos" dos Bispos, deixando a questão de ordenação dos Presbíteros com os Bispos.

n - Presbíteros (padres)

Presbíteros (literalmente "anciões") foram nos tempos apostólicos e em todo tempo subsequente - e são hoje em dia - o segundo grau da hierarquia sagrada. Os apóstolos Paulo e Barnabé, como relata o livro dos Actos, passando por Listra, Antioquia e Icónio, ordenaram Presbíteros em cada Igreja (Act. 14, 23). Para a solução da questão acerca da circuncisão, foi enviada uma embaixada a Jerusalém, para os Apóstolos e os Presbíteros em Jerusalém (Act. 15, 2). No Concílio dos Apóstolos, os Presbíteros ocuparam um lugar junto com os Apóstolos (Act. 15, 6).
Depois, o Apóstolo Tiago instrui: "Está alguém entre vós doente? Chame os Presbíteros da Igreja e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor" (Tig. 5, 14). Da instrução do Apóstolo Tiago nós vemos que: 1 - os Presbíteros executavam os ritos sagrados da Igreja, e 2 - na Igreja do início podia haver vários Presbíteros em cada comunidade, enquanto só um Bispo era indicado para uma cidade e a região em torno dela.
No capítulo vinte e um do livro dos Actos, é relatado que quando o Apóstolo Paulo voltou a Jerusalém depois da terceira viagem Apostólica e visitou Tiago, todos os Presbíteros vieram, significando que eles fizeram uma reunião especial da Igreja. Eles repetiram aos ouvidos de Paulo o decreto do Concílio Apostólico a respeito da não-circuncisão dos pagãos; mas eles pediram a Paulo que executasse o rito de sua própria purificação, para evitar a recriminação de que ele tinha renunciado ao nome de Judeu.
Nos escritos Apostólicos os dois nomes de "Bispo" e "Presbítero" não estão sempre distinguidos. Assim, de acordo com o livro dos Actos o Apóstolo Paulo chamou em Mileto, os "presbíteros da Igreja" de Éfeso (Act. 20, 17) e instruindo-os ele disse: "Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui Bispos, para apascentar a Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue" (Act. 20, 28). No entanto, dessas expressões e de outras similares não se pode concluir que na época dos Apóstolos os dois graus - Bispo e Presbítero - estavam juntados em um. Isso só mostra que no primeiro século a terminologia da Igreja não estava tão padronizada como tornou-se depois, e a palavra "Bispo" era usada em dois sentidos: às vezes no significado especial de grau mais elevado da hierarquia, e às vezes no significado usual e geral de "inspector" ou “supervisor”, de acordo com o uso grego daquele tempo. Na terminologia diária na Rússia também, por exemplo, a palavra "inspeccionar" está longe de significar que alguém tem necessariamente o grau de inspector (Um "inspector" é o oficial encarregado de supervisionar a boa ordem geral em seminários Ortodoxos).

o - Diáconos

O terceiro grau hierárquico na Igreja é o dos Diáconos. Diácono, sete em número foram escolhidos pela comunidade de Jerusalém e ordenados pelos Apóstolos, como lemos no sexto capítulo do livro dos Actos. Sua primeira função era ajudar os Apóstolos numa actividade prática secundária: eles eram encarregados de "servir às mesas" - dar comida, e estar preocupados com as viúvas. Esses sete homens foram mais tarde chamados de Diáconos, apesar de no sexto capítulo do livro de Actos, esse nome não ser ainda usado.
De epístolas pastorais fica aparente que os Diáconos eram apontados pelos Bispos (1 Tim. 3, 8-13). De acordo com o livro dos Actos, para o ministério de Diácono eram escolhidas as pessoas "enchidas com o Espírito Santo e sabedoria". Eles tomavam parte na pregação, como fé, Santo Estêvão, que selou sua pregação de Cristo com seu martírio de sangue; e como São Felipe que realizou o baptismo do eunuco (Act. 8, 5.38). Na Epístola aos Felipenses, o Apóstolo Paulo manda saudações aos "Bispos e Diáconos" (1, 1), como portadores da graça do ministério hierárquico, auxiliares dos Bispos.
São Justino, o Mártir escreve: "Os chamados Diáconos entre nós dão a cada um dos que estão presentes comunhão do pão sobre o qual foi realizado o agradecimento (Eucaristia) e do vinho e da água, e eles levam o pão, vinho e água para aqueles que estão ausentes". Isso significa que eles distribuíam e levavam para fiéis não só comida, mas também os dos Eucarísticos. O seu ministério, portanto, era limitado na Igreja antiga, como é agora, aos Divinos ofícios e ao dar a graça.
No Concílio de Neo-Cesaréia em 314, foi necessário que o número de Diáconos numa comunidade, mesmo numa cidade grande, não devia exceder sete, citando a passagem do livro dos Actos. Na literatura da Igreja antiga, às vezes Bispos e Diáconos são citados sem menção de Presbíteros, aparentemente em vista do facto que os próprios Bispos eram os representantes das comunidades nas cidades, enquanto aos presbíteros era dado o ministério das comunidades fora das cidades.

p - Os três degraus da hierarquia

Então a hierarquia da Igreja é composta de três degraus. Nenhum dos três graus pode ser tomado somente pelo desejo pessoal de alguém; eles são dados pela Igreja, e a indicação para eles é executada pela bênção de Deus através da ordenação de um Bispo, e a transmissão da Sucessão Apostólica.
Todo os três graus de sacerdócio são indispensáveis para a Igreja. Mesmo que uma pequena comunidade tenha como representantes da hierarquia somente um ou dois dos graus (um Padre, um Padre e um Diácono, dois Padres, etc), ainda, na Igreja como um todo, e mesmo na Igreja local, é essencial que exista a totalidade da hierarquia. O Padre Apostólico, Santo Inácio, expressa em suas epístolas o testemunho da preocupação da Igreja antiga com isso. Ele escreve: "É essencial, como de facto vós estais agindo, não se fazer nada sem o Bispo. Da mesma forma, obedecei aos Presbíteros como Apóstolos de Jesus Cristo - nossa esperança, em quem Deus concede que vivamos. E todos deveriam cooperar de todas as maneiras com os Diáconos que servem os ministros dos Mistérios de Jesus Cristo, pois eles não são ministros de comida e bebida, mas servos da Igreja de Deus". "Todos vós deveríeis reverenciar os Diáconos, como um mandamento de Jesus Cristo, o Filho do Deus Pai, e os Presbíteros como a assembleia de Deus, como o coro dos Apóstolos. Sem eles não há Igreja" (Inácio, o Portador de Deus, «Epistle to the Trallians», par. 2; To The Smyrneans, par. 8). Na expressão de Tertuliano, "sem Bispos não há Igreja" (Tertuliano, "Against Marcian", part 4, chap 5).
Entre os Bispos há alguns que são líderes por sua posição, mas não por sua dignidade hierárquica, dada por graça. Assim era também entre os Apóstolos. Apesar de entre os Apóstolos existirem aqueles que eram especialmente venerados e renomados, reverenciados como colunas (Gal. 2, 2.9), ainda assim todos eram essencialmente iguais, no seu grau apostólico. "Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos" (2 Cor 11, 5; 12, 11), o Apóstolo Paulo declara duas vezes, adicionando: "ainda que nada sou". As relações mútuas nos Apóstolos foram construídas sobre bases de igualdade hierárquica. Tocando em sua viagem para Jerusalém para encontrar os mais renomados Apóstolos, Tiago, Pedro e João, o Apóstolo Paulo explica que ele foi "por revelação", testando a si próprio pela consciência católica dos Apóstolos, mas não pela visão pessoal de nenhum entre os mais renomados. "E quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem)" (Gal. 2, 6). E como para pessoas separadas, o Apóstolo Paulo escreve: "E chegando Pedro à Antioquia, resisti-lhe na cara, porque era repreensível" (por sua atitude para com os Cristãos não circuncidados; Gal. 2, 11). As mesmas relações mútuas de acordo com o princípio da igualdade hierárquica dada por graça permanecem para sempre na Igreja entre os sucessores dos Apóstolos - os Bispos.

q - Os Concílios da Igreja

Quando entre os Apóstolos surgiu a necessidade de apelar para uma voz autoritária mais alta ou para um julgamento - isso foi com relação aos importantes mal entendidos que surgiram em Antioquia com respeito à aplicação do ritual da lei de Moisés - os Apóstolos reuniram-se em um Concílio em Jerusalém (Act. 15), e os decretos desse Concílio foram reconhecidos como obrigatórios para toda a Igreja (Act. 16, 4). Por esta atitude os Apóstolos deram um exemplo de resolução conciliar das mais importantes questões da Igreja para todos os tempos.
Assim o mais elevado órgão de autoridade na Igreja, e a mais alta autoridade em geral é um Concílio de Bispos; para uma Igreja local é um Concílio de seus Bispos locais, e para a Igreja Ecuménica, um Concílio de Bispos de toda a Igreja.

r - A ininterruptibilidade do episcopado

A sucessão dos Apóstolos e a ininterruptibilidade do Episcopado constituem um dos lados essenciais da Igreja. E ao contrário: a ausência da sucessão episcopal em uma ou outra denominação Cristã deriva-se de um atributo da verdadeira Igreja, mesmo que nelas esteja presente um ensinamento dogmático não distorcido. Tal entendimento esteve presente na Igreja desde o seu início. Da história da Igreja de Eusébio de Cesaréia nós sabemos que todas as Igrejas Cristãs locais antigas preservaram listas de seus Bispos em sua sucessão não interrompida.
Santo Irineu de Lyon escreve: "Nós podemos enumerar aqueles que foram apontados como Bispos das Igrejas pelos Apóstolos, e seus sucessores até o nosso tempo". E, de facto, ele enumera em ordem a sucessão dos Bispos da Igreja Romana quase até o fim do segundo século" (Against Heresies, pt 3, ch 3).
A mesma visão da importância da sucessão é expressa por Tertuliano. Ele escreveu a respeito dos heréticos de seu tempo: "que eles mostrem o começo de suas Igrejas, e revelem a série de seus Bispos que devem continuar em sucessão de modo que seu primeiro Bispo tenha tido como sua causa ou predecessor um dos Apóstolos ou um dos Padres Apostólicos que esteve muito tempo com os Apóstolos. Pois as Igrejas Apostólicas guardam as listas de Bispos precisamente dessa forma. A Igreja de Smirna, por exemplo, apresenta Policarpo, que foi apontado por João; a Igreja de Roma aponta Clemente, que foi ordenado por Pedro; e da mesma forma as outras Igrejas também apontam para aqueles homens como rebentos da semente Apostólica" (Tertuliano, "Concerning the Prescriptions" contra os heréticos).

s - O aspecto pastoral da Igreja

"Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos ministérios de Deus... Todavia, a mim pouco se me dá ser julgado por nós, ou por algum juízo humano...; pois quem me julga é o Senhor" (1 Cor. 4, 1-4).
" Aos Presbíteros que estão entre vós admoesto eu, que sou também Presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar. Apascenta o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servido de exemplo ao rebanho" (1 Ped. 5, 1-3).
" Lembrai-vos os vossos pastores, que vos falaram a Palavra de Deus, a fé dos quais imitais, atentando para sua maneira de viver" (Heb. 13, 7).
" Obedecei a vossos pastores, e sujeita-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil" (Heb. 13, 17).

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011