Catecismo Ortodoxo
Parte II
Deus Manifestado no Mundo
10 – A Igreja
a - O estabelecimento da Igreja
O Senhor Jesus Cristo, em Sua conversa com seus discípulos
antes de Seus sofrimentos, prometeu a eles enviar o Espírito Santo,
o Consolador, que permaneceria com eles para sempre - o Espírito da
Verdade que os instruiria e os lembraria de tudo que ele próprio tivesse
falado para eles, e os informaria sobre o futuro. Aparecendo depois da Ressurreição
a seus discípulos, o Senhor concedeu a eles o poder dado por graças
do Espírito Santo com as palavras: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles
a quem perdoares os pecados lhes são perdoados: e aqueles a quem os
retiverdes lhes são retidos" (Jo. 20, 22-23). E dez dias depois
de Sua Ascensão, o Senhor, de acordo com sua promessa, enviou o Espírito
Santo sobre os discípulos no dia de Pentecostes na forma de língua
de fogo.
A descida no mundo do Espírito Santo foi expressa, antes de tudo, nos
extraordinários dons dos Apóstolos na forma de sinais, profecias
curativas, o dom da língua; e segundo lugar, em todos os poderes dados
por graça que conduziram os fieis de Cristo à perfeição
espiritual e à Salvação.
No Espírito Santo, no seu Divino poder, é dado a nós "tudo
o que diz respeito à vida e piedade" (2 Ped. 1, 3). "Esses
dons dados por graça estão na Santa Igreja que o Senhor fundou
na terra". Eles compreendem os meios de nossa santificação
e salvação.
Um exame desses meios de salvação é o objecto de uma nova
secção de Teologia Dogmática - aquela relativa à Igreja
de Cristo.
b - O conceito da Igreja de Cristo na terra
No significado literal da palavra, a Igreja é a "assembleia",
em grego «ekklesia», de «ekkaleo», significando "juntar".
Com esse significado ela foi usada no Velho Testamento também (o hebreu «kahal»).
No Novo Testamento, esse nome tem um incomparavelmente mais profundo e mais
místico significado que é difícil de abarcar em uma curta
fórmula verbal. O carácter da Igreja de Cristo é explicado
melhor pelas imagens bíblicas às quais a Igreja é assemelhada.
O Novo Testamento é a nova planta de Deus, o jardim de Deus, a vinha
de Deus. O Senhor Jesus Cristo por sua vida terrena, por sua morte na Cruz
e sua Ressurreição, introduziu na humanidade novos poderes dados
por graça, uma nova vida que é capaz de grande frutificação.
Esses poderes nós temos na Santa Igreja que é o seu Corpo. A
Sagrada Escritura é rica em expressivas imagens da Igreja. Aqui estão
as principais delas:
a - A imagem da vinha e os seus ramos: "Eu sou a videira verdadeira, e
meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim que não dá fruto,
a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto...
Estai em mim, e eu em vós: como a vara de si mesma não pode dar
fruto, se não estiver na videira, assim também vós se
não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em
mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer.
Se alguém não estiver em mim, será lançado fora
como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem...
Nisto é meu Pai glorificado, que deis muito fruto e assim sereis meus
discípulos" (Jo. 15, 1-8).
b - A imagem do pastor e do rebanho: "Na verdade, na verdade, vos digo
que aquele que não entra pela porta do curral das ovelhas, mas sobre
por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele porém que
entra pela porta é o pastor das ovelhas... em verdade vos digo que eu
sou a porta das ovelhas... Eu sou a porta; se alguém entrar por mim,
salvar-se-á, e entrará e sairá e achará pastagens...
Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas... Eu
sou o Bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas, sou conhecido...
e dou minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são
desse aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão
a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor" (Jo. 10, 1-6).
c - Imagens da cabeça e do corpo: "O Pai sujeitou todas as coisas
a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como a cabeça
da Igreja, que é seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef.
1, 22-23, e em outros lugares).
d - A imagem de um prédio em construção: "Assim que
já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos
dos Santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos
Apóstolos e dos Profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra
de esquina; no qual todo edifício bem ajustado, cresce para o templo
santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificadores
para morada de Deus em Espírito" (Ef. 2, 19-22).
e - A imagem de uma casa de família: "...para que saibas como convém
andar na casa de Deus, que é a Igreja do Deus Vivo, a coluna e a firmeza
da verdade" (1 Tm. 3, 15). "... Cristo, como Filho sobre sua própria
casa; a qual somos nós" (Heb. 3, 6).
A mesma coisa igualmente referem-se outras imagens do Evangelho: a rede de
pescar, o campo que foi semeado, o vinhedo de Deus. Nos Padres da Igreja encontra-se
com frequência uma comparação da Igreja no mundo com um
barco no mar.
O Apóstolo Paulo, comparando a vida da Igreja de Cristo com um casamento,
ou com o relacionamento entre marido e mulher, conclui seus pensamentos com
essas palavras: "Grande é esse mistério: digo-o porém,
a respeito de Cristo e da Igreja" (Ef. 5, 32). A vida da Igreja em sua
essência é mística; o curso de sua vida não pode
ser incluído inteiramente em nenhuma "história." A
Igreja é completamente distinta de qualquer tipo que seja de sociedade
organizada na terra.
c - O início e o propósito da Igreja
A Igreja de Cristo recebeu a sua existência com a vida
para a terra do Filho de Deus, "quando a plenitude do tempo veio" (Gal.
4, 4), e com ele trouxe a salvação para o mundo.
O início de sua existência em sua forma e significados completos,
com a plenitude dos dons do Espírito Santo, foi no dia de Pentecostes,
depois da ascensão do Senhor. Nesse dia, depois da descida do Espírito
Santo, sobre os Apóstolos, em Jerusalém foram baptizados cerca
de três mil homens. E adiante, o Senhor adicionou cada dia aqueles a
serem salvos, à Igreja. Desse momento em diante, o território
da cidade de Jerusalém, a seguir a Palestina, e então todo Império
Romano, e até mesmo terras além de suas fronteiras, começaram
a ser cobertas com comunidades cristãs ou Igrejas. O nome "Igreja" que
pertence a toda comunidade cristã, mesmo a uma única casa ou
família, indica a unidade dessa parte com o todo, com o corpo da Igreja
de Cristo completa.
Sendo "o corpo de Cristo", a Igreja "vai crescendo em aumento
de Deus" (Col. 2, 19). Comparando a Igreja com um prédio que não
está completo, e continua: "...todo edifício bem ajustado,
cresce para o templo santo no Senhor" (Ef. 2, 21). Esse crescimento não é só no
sentido do visível, aumento quantitativo da Igreja na terra; em grau
ainda maior, este é um crescimento espiritual, a perfeição
dos santos, o preenchimento do mundo celeste-terrestre pela santidade. Através
da Igreja é realizada "a dispensação da plenitude
dos tempos" pré-ordenada pelo Pai, para que "torne a congregar
em Cristo todas as coisas,... tanto as que estão nos céus como
as que estão na terra" (Ef. 1, 10).
No sentido de seu crescimento terrestre, a Igreja desenvolve nas esferas dos
ofícios divinos e dos cánones; é tornada mais rica pela
literatura patrística; ela cresce nas formas externas que são
necessárias para as condições terrestres de existência.
A Igreja é o nosso lar espiritual. Como no seu próprio lar -
e ainda mais que isso - os pensamentos e acções de um Cristão
estão intimamente ligados com a Igreja. Nela ele deve, enquanto viver
na terra, trabalhar a sua salvação, e fazer uso dos meios de
santificação dados pela graça para ele. Ela prepara suas
crianças para a morada celeste.
Como, pela graça de Deus, o renascimento e o crescimento espiritual
ocorre em um homem, em que sequência isso normalmente ocorre, que obstáculos
devem ser ultrapassados por ele no caminho da salvação, como
ele deve combinar os trabalhos indispensáveis com a ajuda dada por graça
de Deus - ramos especiais da teologia e do aprendizado espiritual são
devotados a todos esses assuntos. Eles são chamados de Teologia Moral
e Teologia Ascética.
A Teologia Dogmática limita o assunto da Igreja a um exame das condições
dadas por graça na Igreja para a obtenção do objectivo
da salvação em Cristo.
d - A Cabeça da Igreja
O Salvador dando autoridade aos Apóstolos antes da
sua Ascensão, contou a eles muito claramente que ele próprio
não cessaria de ser o invisível Pastor e Piloto da Igreja: "e
eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos" (Todos os dias constantes e inseparavelmente; Mt.
28, 20). O Salvador ensinou que ele, como o Bom Pastor, tinha que trazer para
dentro também aquelas ovelhas que não eram desse aprisco de modo
que tivesse que haver um só rebanho e um só pastor (Jo. 10, 16). "É-me
dado todo poder no céu e na terra. Portanto ide, ensinai todas as nações..." (Mt.
28, 18-19). Em todas essas palavras está contida a ideia de que o sumo
Pastor da Igreja é o próprio Cristo. Nós temos que estar
cientes disso para não esquecer a intima ligação e união
interior da Igreja na terra com a Igreja celeste.
O Senhor Jesus Cristo é também o Fundador da Igreja: "...
edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
sobre ela" (Mt. 16, 18).
Cristo é também o Fundamento da Igreja, a sua pedra de esquina: "Porque
ninguém pode por outro fundamento, além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo" (1 Cor. 3, 11).
Ele também é a Cabeça. Deus Pai "sujeitou todas as
coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constitui como Cabeça
da Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em
todos" (Ef. 1, 22-23). "... a cabeça é Cristo, do qual
todo o corpo bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas,
segundo a justa operação de cada parte, faz aumento do corpo,
para sua edificação em amor" (Ef. 4, 15-16). Como todos
os membros de nosso corpo constituem um completo e vivo organismo que depende
de sua cabeça, assim também a Igreja é um organismo espiritual
no qual não há lugar onde os poderes de Cristo não ajam.
Ela é, a Igreja, "plena de Cristo" (Bispo Teófano,
o Recluso).
Cristo é o Bom Pastor, de seu rebanho, a Igreja. Nós temos "o
grande Pastor das ovelhas" de acordo com o Apóstolo Paulo (Heb.
13, 20). O Senhor Jesus Cristo é o Sumo Pastor: "servindo de exemplo
ao rebanho", o Apóstolo Pedro pede àqueles que foram colocados
como Pastores na Igreja, como co-pastor deles (em grego «syn-presbiteros»), "e
quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa
de glória" (1 Ped. 5, 1-4).
Cristo é o invisível Sumo Bispo da Igreja. O Hieromártir
Inácio, portador de Deus, um Padre Apostólico, chama o Senhor
de "Bispo Invisível" (grego: «episkopos aoratos»).
Cristo é o eterno Sumo Sacerdote de sua igreja, como o Apóstolo
Paulo explica em sua Epístola aos Hebreus. Os Sumos Sacerdotes do Velho
Testamento "eram em grande número, porque pela morte foram impedidos
de permanecer. Mas estes, porque permaneceu eternamente, tem um sacerdócio
perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por
Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Heb. 7,
23-25).
Ele é, de acordo com o Apocalipse de São João, o Teólogo: "...o
que é verdadeiro, o que tem a chave de David; o que abre, e ninguém
fecha; e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3, 7).
A verdade é que o próprio Cristo é a Cabeça da
Igreja, tem sempre corrido de maneira viva, e continua a correr através
da autoconsciência da Igreja. Em nossas preces diárias também
lemos, "Ó Jesus, Bom Pastor das Tuas ovelhas..." (Oração
de S. Antióquio nas Orações Antes de Dormir do Livro Ortodoxo
de Orações).
Crisóstomo ensina em suas homilias sobre a Epístola aos Efésios
o seguinte: "Em Cristo, na carne, Deus colocou uma única cabeça
para todo mundo, para anjos e homens; isto é, Ele deu um único
princípio para os anjos e para os homens: para um, Cristo de acordo
com a carne; e para outro, Deus o Verbo. Assim como se alguém dissesse
a respeito de uma casa, que uma parte dela estava estragada e a outra parte
estava forte, e dever-se-ia restaurar a casa, isto é, torna-la mais
forte, colocando uma nova fundação sob ela; assim também
aqui, Ele trouxe todos sob uma única cabeça. Só então
a união é possível; só então existirá aquela
perfeita ligação, quando tudo, tendo uma certa ligação
indispensável com o que está acima, será trazido sob uma única
cabeça" (Works of St. Crysostom in Russian, V 11, p- 14).
A Igreja Ortodoxa de Cristo recusa-se a reconhecer ainda outra cabeça
da Igreja na forma de um "Vigário de Cristo na terra", um
título dado na Igreja Católica Apostólica Romana ao Bispo
de Roma. Tal título não corresponde nem à Palavra de Deus
nem à universal consciência e Tradição da Igreja;
ele corta a Igreja na terra da imediata união com a Igreja-celeste.
Um vigário é indicado na ausência do representante; mas
Cristo está invisivelmente presente em sua Igreja sempre.
A rejeição pela antiga Igreja na visão do Bispo de Roma
como o Cabeça da Igreja e Vigário de Cristo na terra é expressa
nos escritos daqueles que foram activos nos Concílios Ecuménicos.
O Segundo Concílio Ecuménico de Bispos, depois de completadas
as actividades escreveu uma epístola ao Papa São Dâmaso
e a outros Bispos da Igreja Romana, que termina assim: "Quando desse modo
o ensinamento da fé está em acordo, e o amor Cristão está estabelecido
em nós, nós cessaremos de falar as palavras que foram condenadas
pelos Apóstolos: "Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Cefas".
E quando nós todos nos manifestarmos como de Cristo, já que Cristo
não é dividido em nós, então pela misericórdia
de Deus nós preservaremos o corpo de Cristo não dividido, e estaremos
corajosamente diante do Trono do Senhor".
A personalidade de liderança no Terceiro Concílio Ecuménico,
São Cirilo de Alexandria, em sua "Epístola sobre Símbolos
Sagrados", que está incluída nos Actos desse Concílio,
escreve: "Os mais santos Padres, ... que então se reuniram em Niceia,
compuseram o venerável Símbolo Ecuménico (Credo). Com
eles Cristo, ele próprio presidiu, pois Ele disse: "Porque onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio
deles" (Mt. 18, 20). Pois como pode existir qualquer dúvida que
Cristo presidiu esse Santo e Ecuménico Concílio? Porque lá,
uma certa base e uma firme e uma insuperável fundação
foi lançada, e mesmo estendida para todo universo, isto é, esta
santa e irrevogável confissão. Se é assim, então
Cristo que é a Fundação, pode estar ausente se de acordo
com as palavras do sapientíssimo Paulo: "Porque ninguém
pode por outro fundamento, além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo" (1 Cor. 3, 11).
O Bem-aventurado Teodoreto, em uma homilia que também foi colocada nos
Actos do Terceiro Concílio Ecuménico, endereçada aos heréticos,
os seguidores de Nestório, diz: "Cristo é uma pedra de tropeço
e escândalo para os descrentes, mas não põe os fiéis
em vergonha; uma preciosa pedra e uma fundação, de acordo com
as palavras de Isaías quando ele disse que Cristo é a pedra que
os construtores rejeitaram e que tornou-se a pedra de esquina. Cristo é a
fundação da Igreja. Cristo é a pedra que foi tirada não
com mãos, e foi mudada para uma grande montanha e cobriu o universo,
de acordo com a profecia de Daniel; é para Ele, com Ele, e pelo seu
poder que nós batalhamos, e por quem nós somos removidos para
longe das cidades reinantes, mas não somos excluídos do Reino
do Céu; pois nós temos uma cidade no alto, Jerusalém, "da
qual o artífice e construtor é Deus" (Heb. 11, 10), como
diz o Apóstolo Paulo.
A respeito da pedra sobre a qual o Senhor prometeu ao Apóstolo Pedro
fundar sua Igreja, São Juvenal, Patriarca de Jerusalém, em sua
Epístola ao clero da Palestina depois do Quarto Concílio da Calcedónia
escreve: "quando o chefe e primeiro dos Apóstolos Pedro disse: "Tu és
o Cristo, Filho de Deus vivo", o Senhor respondeu: "Bem-aventurado és
tu Simão Barjonas, porque tu não revelou a carne e o sangue,
mas meu Pai que está nos céus. Pois eu também te digo
que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt. 16, 16-18).
Nessa confissão a Igreja de Deus é feita firme, e essa fé,
dada a nós pelos santos Apóstolos; a Igreja tem mantido e manterá até o
fim do mundo".
e - A ligação íntima entre a Igreja na terra e a Igreja no céu
O Apóstolo instrui aqueles que vieram a acreditar em
Cristo e foram juntados à Igreja como segue: "Mas chegastes ao
monte de Sião, e a cidade do Deus vivo, Jerusalém celestial,
e aos muitos milhares de anjos, à universal assembleia, e à Igreja
dos primogénitos, que estão escritos nos céus, e à Deus,
o juiz de todos e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e à Jesus
o Mediador duma Nova Aliança..." (Heb. 12, 22-24). Nós não
estamos separados de nossos irmãos mortos na fé por um inultrapassável
abismo de morte: eles estão perto de nós em Deus, "porque
para Ele vivem todos" (Lc. 20, 39).
A Igreja canta essa relação no «Kondakion» na festa
da Ascensão do Senhor: "Tendo cumprido o plano providencial a nosso
respeito e tendo unido a criatura terrestre aos habitantes dos céus,
Tu foste elevado em glória, ó Cristo nosso Deus, não Te
afastando, mas permanecendo com aqueles que Te amam e a quem Tu mesmo disseste:
Eu estou convosco e ninguém pode algo contra vós".
Por certo, existe uma distinção entre a Igreja de Cristo na terra
e a Igreja dos santos nos céus; os membros da Igreja terrena ainda não
são membros da Igreja celeste.
Relacionado com isso a "Epístola dos Patriarcas Orientais" (século
XVII), em resposta ao ensinamento dos Calvinistas a respeito da uma e invisível
Igreja, formula assim o ensinamento Ortodoxo sobre a Igreja: "Nós
cremos, como fomos instruídos a crer, naquela que é chamada,
e que de facto é, a Igreja Santa, Católica e Apostólica,
que engloba todos aqueles, que quem quer que sejam e estejam onde estiverem,
acreditam em Cristo, e que estando agora em sua peregrinação
terrena, ainda não vieram morar na pátria celeste. Mas nós
não confundimos nem minimamente a Igreja em peregrinação
com a Igreja que alcançou a pátria celeste, só porque,
como alguns heréticos pensam, uma e a outra, ambas existem, e ambas
são como se fossem dois rebanhos do único Sumo Sacerdote, Deus,
e são santificadas pelo único Espírito Santo. Tal confusão
deles é fora de lugar e impossível, visto que uma está batalhando
e ainda está a caminho enquanto a outra já está celebrando
a sua vitória e atingiu a terra do Pai e recebeu a recompensa, algo
que se seguirá também para toda a Igreja Ecuménica".
E na realidade, o mundo terrestre e o celeste são duas formas separadas
de existência: lá no céu essa existência é sem
corpo, aqui na terra é vida com corpo e morte física; lá,
aqueles que atingiram, aqui, aqueles que procuram atingir; aqui, fé,
lá, vendo o Senhor face a face; aqui esperança lá plenitude.
No entanto, não se pode representar a existência dessas duas religiões,
a celeste e a terrestre, como completamente separadas. Se nós não
atingimos tão alto como os santos no céu; os santos sim atingem
tão alto como nós. Como alguém que se tendo estudado toda
uma ciência tem comando também sobre suas partes elementares,
assim como um general que entrou em uma nação tem comando também
sobre suas fronteiras; assim também aqueles que alcançaram o
céu em seu comando aquilo que eles passaram através de, e eles
não cessam de ser participantes na vida da Igreja, militante na terra.
Os santos Apóstolos, partindo desse mundo, dispensaram o corpo terrestre,
mas não dispensaram o copo da Igreja. Não só eles foram,
mas eles também permanecem sendo as bases da Igreja. A Igreja é construída "sobre
o fundamento dos Apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a
principal pedra de esquina" (Ef. 2, 20) estando no céu, eles continuam
a estar em comunhão com os fieis aqui na terra.
Tal entendimento esteve presente no pensamento patrístico antigo, tanto
no oriente quanto no ocidente. Aqui estão as palavras de Crisóstomo:
"
De novo, o memorial dos mártires, e de novo um dia festivo e de solenidade
espiritual. Eles sofreram, e nós rejubilamos; eles lutaram, e nós
saltamos de alegria; sua coroa é a glória de todos, ou melhor,
a glória de toda a Igreja. Como pode ser isso? Você diria. Os
mártires são as nossas partes e membros. Mas, "de maneira
que se um membro padece, todos os membros padecem com ele, e se um membro é honrado,
todos os membros se regozijam com ele" (1 Cor. 12, 26). A cabeça é coroada
e o resto do corpo se rejubila, e recebe o vitorioso nos Jogos Olímpicos,
e todo o povo se rejubila, e recebe o vitorioso com grande glória. Se
nos Jogos Olímpicos, todo povo rejubila, e recebe o vitorioso com grande
glória; se nos Jogos Olímpicos aqueles que não participam
em nada dos esforços recebem tal satisfação, muito mais
pode assim ser com respeito às batalhas da piedade. Nós somos
os pés, e os mártires são as cabeças: "mas
a cabeça não pode dizer aos pés: não tenho necessidade
de vós" (1 Cor. 12, 21). Os membros são glorificados mas
a preeminência de glória não os separa da ligação
com as outras partes; porque então eles estão especialmente gloriosos
quando não estão separados da ligação com outras
partes". "Se eles não se envergonham de serem nossos membros;
pois neles está expresso o amor, e amor usualmente junta e liga coisas
que estão separadas apesar da sua diferença em dignidade" (São
João Crisóstomo, "Elogy for the Holy Martir Romanus").
"
Porque as almas dos mortos pios", diz o Bem-aventurado Santo Agostinho, "não
partem da Igreja, que é o Reino de Cristo. Isto é porque, no
altar do Senhor, o memorial delas é realizado pelo oferecimento do Corpo
de Cristo... porque isso deveria ser feito senão porque os fiéis
mesmo depois da morte permanecem membros da Igreja?"
O para sempre memorável Pastor russo João de Kronstadt, em seu "Thoughs
Concerning The Church" escreve: "reconheçam que todos os santos
são nossos irmãos mais velhos na Casa Una do Pai Celestial; eles
partiram da terra para o céu e eles estão sempre connosco em
Deus, e eles constantemente nos ensinam e nos guiam para a vida eterna por
meios dos Ofícios da Igreja, dos mistérios, dos ritos, instruções
e decretos da Igreja, que eles compuseram - por exemplo, aqueles relativos
a jejuns e festas - eles vivem junto connosco, eles cantam, eles falam, eles
instruem, e nos ajudam em várias tentações e tristezas.
E chamem-nos como se eles estivessem vivendo convosco sob o mesmo teto; glorifiquem-nos,
agradeçam-lhes, conversem com eles como com as pessoas vivas; e vocês
acreditarão na Igreja" (São João de Kronstadt, "What
Does it Means to Believe in the Church? Thoughts About the Church and the Orthodox
Divines Services").
A Igreja em suas orações para os Apóstolos e Hierarcas
chama-os de pilares, sobre os quais ainda hoje a Igreja está estabelecida. "Tu és
um pilar da Igreja"; "Vós sois pilares da igreja"; "tu és
um bom pastor e fervoroso professor, ó hierarca", "Vós
sois os olhos da Igreja de Cristo"; "Vós sois as estrelas
da Igreja" (de vários Ofícios da Igreja). Em harmonia com
a consciência da Igreja, os santos, indo para o céu, compõem
o firmamento da Igreja como estrelas magníficas, e eles brilham sobre
os fiéis, ó divinos Mestres, guerreiros de Cristo" (do Ofício
Comum do Mártires). "Como brilhantes e luminosas estrelas vós
mentalmente mostram-se no firmamento da Igreja, e assim iluminam toda criação
(do Ofício para os Hieromártires).
Existe uma base para tais apelos aos santos nas próprias palavras de
Deus. No Apocalipse de São João, o Teólogo, nós
lemos: "A quem vencer, eu o farei coluna no templo de meu Deus..." (Apoc.
3, 12). Assim os santos são colunas da Igreja não só no
passado, mas também em todos os tempos.
Nessa ligação da Igreja com os santos, e da mesma forma na liderança
da Igreja pelo próprio Senhor, pode ser visto um dos lados místicos
da Igreja. "Por tua Cruz, ó Cristo, existe um só rebanho
de anjos e homens; e na assembleia céu e terra rejubilam, clamando,
Senhor, glória a Ti" (Octoecos, Tom 1, Apóstica de matinas
de Quarta-feira).
O novo artigo do Símbolo da Fé indica os quatros atributos básicos
da Igreja: "creio na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica".
Esses atributos são chamados essenciais, isso é, sem os quais
a Igreja não é a Igreja.
f - Atributos da Igreja - Sua unidade
No texto grego a palavra "em Una", é expressa
como um numeral (em mian). Assim o Símbolo da Fé confessa que
a Igreja é uma: a - é uma como vista de dentro de si própria,
não dividida; b - é uma como vista de fora, não tendo
nenhuma outra a seu lado. A sua unidade consiste não em por junto que é diferente
por natureza, mas numa concordância interna e unanimidade. "Há um
só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados
em uma só esperança da vossa vocação. Um só Senhor,
uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de
todos, o qual é sobre todos e por todos em todos" (Ef. 4, 4-6).
Descrevendo a Igreja em parábolas, o Salvador fala de um só rebanho,
um só aprisco, uma videira, e uma pedra de fundação da
Igreja. Ele deu um só ensinamento, um único Baptismo, e uma única
comunhão. A unidade dos fiéis em Cristo contem o sujeito de sua
Oração de Sumo Sacerdote antes de seus sofrimentos na Cruz; o
Senhor orou: "Para que todos sejam um..." (Jo. 17, 21).
A Igreja na terra tem um lado visível e um lado invisível. O
lado invisível é: que sua Cabeça é Cristo; que
ela é animada pelo Espírito Santo; que ela é realizada
a mística da vida interior em santidade dos mais perfeitos de seus membros.
No entanto, a Igreja, pela natureza de seus membros, é visível;
desde que ela é composta de homens em seus corpos; ela tem uma hierarquia
visível; ela executa orações e acções sagradas
visivelmente; ela confessa abertamente, por meio de palavras, a fé de
Cristo.
A Igreja não perde sua unidade porque lado a lado com ela existem sociedades
cristãs que não pertencem a ela. Essas sociedades não
estão na Igreja, elas estão fora dela.
A unidade da Igreja não é violada por conta de divisões
temporárias de natureza não dogmática. Diferença
entre as Igrejas aparecem frequentemente vindas de informações
insuficientes ou incorrectas. Também, às vezes, uma quebra temporária
de comunhão é causada por erros pessoais de hierarcas individuais
que estão na cabeça de uma ou outra Igreja local; ou é causada
pela violação por eles de cánones da Igreja, ou pela violação
da submissão de um grupo eclesiástico territorial a outro de
acordo com antigas tradições estabelecidas. Além disso, ávida
mostra a possibilidade de perturbações dentro de uma Igreja local
até a manifestação exterior e trunfo dos defensores da
autêntica verdade ortodoxa. Finalmente, a ligação entre
Igrejas pode às vezes ser violada por longos períodos por condições
políticas, como frequentemente tem acontecido na história (Dois
exemplos da recente história da Igreja podem servir para ilustrar o
carácter dessas divisões temporárias. No começo
do século XIX, quando a Grécia proclamou a sua independência
do Sultanato Turco, as partes da Igreja Grega na própria Grécia
e a Igreja Grega na Turquia tornaram-se divididas exteriormente. Quando o Patriarcado
de Constantinopla, que ainda estava sob autoridade turca, foi forçado
a excomungar os "rebeldes" na Grécia, os Ortodoxos na Grécia
recusaram-se aceitar esse ato por ter sido feito sob coerção
política, mas eles não deixaram de olhar o Patriarca como um
membro da Igreja Ortodoxa que eles, nem tiveram dúvidas sobre se os
actos sacramentais não políticos eram doadores de graça.
Essa divisão conduziu à formação hoje de duas Igrejas
locais separadas (em completa comunhão uma com a outra): a da Grécia
e a de Constantinopla.
Nó século XX, na Igreja Ortodoxa Russa, foi formada em 1927 pelo
Metropolita Sérgio (Patriarcado de Moscovo) uma administração
da Igreja baseada na submissão aos ditames dos governantes ateístas.
Partes da Igreja na Rússia (a Igreja da Catacumba ou Verdadeira Igreja
Ortodoxa) e fora da Rússia (a Igreja Russa fora da Rússia) recusam-se
até hoje a ter comunhão com essa administração
por sua dominação política pelos comunistas; mas os Bispos
da Igreja fora da Rússia (a respeito da Igreja da Catacumba é mais
difícil fazer-se uma afirmação geral) não negam
a graça dos Mistérios do Patriarcado de Moscovo e ainda se sentem
um com o clero e fiéis do Patriarcado que tentam não colaborar
com os objectivos comunistas. Quando o comunismo cair totalmente na Rússia,
esses corpos da Igreja poderão mais uma vez ter comunhão ou até mesmo
se juntarem, deixando para um futuro Concílio livre todo o julgamento
relativo ao período "Sergianista") Em tais casos, a divisão
toca somente em relações exteriores, mas não toca ou viola
a unidade espiritual interior.
A verdade da Igreja Una é definida pela Ortodoxia de seus membros, e
não pela sua quantidade em um ou outro momento; São Gregório,
o Teólogo, escreveu a respeito à Igreja Ortodoxa de Constantinopla
antes do Segundo Concílio Ecuménico o seguinte: "Esse campo
foi uma vez pequeno e pobre... Não foi nem mesmo um campo. Talvez ele
não fosse digno de celeiros, armazéns e foices. Nele não
havia montes de feno nem ajuntamento de nada, mas talvez só erva pequena
e não amadurecida que cresce no telhado com a qual "o segador não
enche a sua mão", e que não chamam para si a bênção
daqueles que passam (Sal. 129, 6 - 8). Tal era o nosso campo, a nossa colheita!
No entanto ela é grande, gorda e abundante diante daquele que vê o
que está escondido... ainda, não é conhecida entre o povo,
não está reunida num lugar, mas é juntada pouco a pouco "como
as frutas de verão, como os rabiscos da vindima; não há cachos
de uva para comer" (Miqueias 7, 1). Assim era nossa pobreza e tristeza" (Sermão
de despedida de São Gregório, o Teólogo, aos padres do
Segundo Concílio Ecuménico).
"
E aonde estão aqueles", diz São Gregório noutra homilia, "que
nos recriminam por nossa pobreza e estão orgulhosos de sua riqueza?
Eles consideram um grande número de pessoas ser um sinal da Igreja e
desprezam o pequeno rebanho. Eles medem a divindade (o santo tem em mente aqui
os arianos, que ensinavam que o Filho de Deus era menos que o Pai) pesando
pessoas. Eles dão um grande valor a grãos de areias (isso é, às
massas) e desvalorizam os luminares. Eles guardam em seus tesouros pedras comuns,
e desdenham pérolas" (São Gregório, o Teólogo,
Homilia 3, contra os Arianos). Nas orações da Igreja estão
contidas petições pela cessação de possíveis
desentendimentos entre as Igrejas: "Faz com que acabem os cismas nas Igrejas...
apressa-te a por termo às revoltas das heresias pelo poder do Teu Espírito
Santo" (Oração Eucarística na Liturgia de São
Basílio, o Grande). "Nós Te glorificamos... Tu Uno na Trindade,
e imploramos pelo perdão de pecados, paz no mundo, e concórdia
na Igreja... concebe paz e unidade à tua Igreja, é tu que amas
a humanidade " (Cánon das Noturnas de Domingo, Tom 8, cântico
9).
g - Atributos da Igreja - Sua santidade
O Senhor Jesus Cristo cumpriu o trabalho de seu ministério
e morte na terra na Cruz; Cristo "amou a Igreja... para a apresentar a
si mesmo a Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante,
mas santa e irrepreensível" (Ef. 5, 25-27). A Igreja é santa
através de sua Cabeça, o Senhor Jesus Cristo. É santa,
também, através da presença nela do Espírito Santo
e seus dons dados por graça, comunicados nos Mistérios e outros
ritos sagrados da Igreja. Ela é santa também através de
sua ligação com a Igreja celeste.
O verdadeiro corpo da Igreja é santo: "E, se as primícias
são santas, também a massa o é; se a raiz é santa,
também os ramos o são" (Rom. 11, 16). Na verdadeira Igreja
sempre houve e sempre há pessoas da mais elevada pureza espiritual e
com dons especiais de graça - mártires, virgens, ascetas, santos
monges e monjas, hierarcas, justos, benditos. A Igreja tem um não contado
coro de pessoas partidas de todos os tempos. Ela tem manifestações
dos extraordinários dons do Espírito Santo, tanto visíveis
quanto escondidos dos olhos do mundo.
A Igreja é santa pelo seu chamado, ou seu propósito. Ela é santa
também por seus frutos: "...tendes o vosso fruto para santificação,
e por fim a vida eterna" (Rom. 6, 22), como o Apóstolo Paulo nos
instrui.
A Igreja é santa também através de seu puro e infalível
ensinamento da fé: a Igreja do Deus vivo e, de acordo com a palavra
de Deus, "a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim. 3, 15). Os Patriarcas
das Igrejas Orientais, considerando a infalibilidade da Igreja no seu ensinamento,
expressam-se assim: "dizendo que o ensinamento da Igreja é infalível,
nós não afirmamos nada mais que isso, que é imutável,
que é o mesmo que foi dado a ela no inicio como o ensinamento de Deus" (Encíclica
dos Patriarcas Orientais, 1848, parágrafo 12).
A santidade da Igreja não é obscurecida pela intrusão
do mundo na Igreja, ou pela pecabilidade dos homens, tudo o que é pecaminoso
ou mundano e que se introduz na esfera da Igreja permanece estranho a ela e é destinado
a ser peneirado para fora e destruído, como erva daninha na época
de plantio. A opinião que a Igreja consiste só de pessoas justas
e santas sem pecado não coincide com o ensinamento directo de Cristo
e seus Apóstolos. O Salvador compara a sua Igreja com um campo onde
o trigo cresce juntamente com o joio, e outra vez, com uma rede que tira dá água
dons e maus peixes. Na Igreja há bons e maus servos (Mt. 18, 23-35),
virgens sábias e loucas (Mt. 25, 1-13). "Nós acreditamos",
estabelece a Encíclica dos Patriarcas Orientais, "que os membros
da Igreja Católica são todos os fieis, e somente os fieis, isto é,
aqueles que sem duvida confessam a fé pura no Salvador Cristo (a fé que
nós recebemos do próprio Cristo, dos Apóstolos e dos santos
Concílios Ecuménicos), ainda que alguns fiéis possam submeter-se
a vários pecados. A Igreja julga-os, chama-os ao arrependimento, e os
conduz aos caminhos dos mandamentos salvíficos. É por isso apesar
do facto que eles são sujeitos aos pecados, eles permanecem e são
reconhecidos como membros da Igreja Católica enquanto não se
tornarem apóstatas e enquanto mantiverem a fé Católica-Ortodoxa".
Mas há uma fronteira, que se os pecadores ultrapassarem, eles, como
membros mortos, são cortados do corpo da Igreja, seja por um acto visível
da autoridade da Igreja ou por acto invisível do julgamento de Deus.
Assim, aqueles que não pertencem à Igreja e que são ateístas
ou apóstatas da fé Cristã, aqueles que são pecadores
caracterizados por uma teimosia consciente e falta de arrependimento pelos
seus pecados, como é dito no Catecismo (artigo nono). Também
entre aqueles que não pertencem a Igreja há heréticos
que corromperam os nossos dogmas fundamentais da fé; cismáticos
que por vontade própria se separaram da Igreja (o Cánon 33 do
Concílio de Laodicéia proíbe a oração com
cismáticos). São Basílio, o Grande explica: "os antigos
distinguiam entre heresia, cisma e assembleias arbitrárias. Eles chamavam
heréticos aqueles que se tinham cortado completamente para fora e se
tinham tornado estranhos na fé em si; chamavam-se cismáticos àqueles
que se haviam separado por iniciativa própria por opiniões a
respeito de certos assuntos eclesiásticos e em questões que permitiam
tratamento e cura; chamavam de assembleias ordinárias àquelas
reuniões compostas de padres ou Bispos desobedientes e povo não
instruído".
A Tradição da Igreja é irreconciliável com falsos
ensinamentos e heresias. Por isso a Igreja guarda estritamente a pureza da
verdade e ela mesma exclui os heréticos de seu meio.
h - Atributos da Igreja - Sua catolicidade
No texto grego do Símbolo da Fé de Nicéia-Constantinopla
(o Credo), a Igreja é chamada de "católica" (na tradução
eslavônica, sobornaya). Qual é o significado dessa palavra grega?
A palavra «catholikos» em grego antigo, na literatura pré-Cristã é encontrada
muito raramente. No entanto, a Igreja Cristã desde a antiguidade escolheu
essa palavra para significar um dos principais atributos da Igreja, nomeadamente,
para expressar seu carácter universal. Ainda que ela tivesse a disposição
palavras como cosmos (o mundo), ou «oikoumene» (a terra habitada),
evidentemente essas palavras eram insuficientes para expressar um certo conceito
novo que está presente só na consciência Cristã.
Nos antigos Símbolos de fé, aonde a palavra "Igreja" aparece, é sem
falha com a definição "católica". Assim, no
Símbolo da Fé de Jerusalém nós lemos: "e em
uma, santa, católica Igreja". No símbolo de Roma: "Na
santa, católica Igreja, a comunhão dos santos"; etc. Na
literatura cristã antiga, esse termo é encontrado muitas vezes
em São Inácio, o Portador de Deus, um padre apostólico,
por exemplo quando ele diz: "Onde Jesus Cristo está, lá está a
Igreja Católica". Esse termo é encontrado constantemente
nos Actos de todos os Concílios Ecuménicos. Na tradução
directa da palavra, ela significa o mais alto grau de abrangência, totalidade,
plenitude (sendo derivada de «cathola», significando "inteiramente
o todo").
Lado a lado com esse termo, também era usada com o significado de "universal",
a palavra «oikoumenicos». Esses dois termos não eram misturados.
Os Concílios Ecuménicos receberam o título de «oikomenicos
synodos de oikoumenicos» significando toda terra habitada - na verdade,
a terra que pertencia à civilização greco-romana.
A Igreja é católica. Isso corresponde às palavras apostólicas, "...
a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef. 1, 23). Esse conceito
indica que toda a raça humana é chamada para a salvação
e portanto rodos os homens são comprometidos a serem membros da Igreja
de Cristo, apesar de nem todos pertencerem a ela de facto.
O grande Catecismo Ortodoxo, respondendo a pergunta, "porque a Igreja é chamada
católica, ou seja, universal?" responde: "porque ela não é limitada
a qualquer lugar, nem tempo, nem povo, mas contém fieis verdadeiros
de todos os lugares, tempos e povos" (Eastern Orthodox Books Ed, p 50).
A Igreja não é limitada por lugar. Ela abrange em si todas as
pessoas que acreditam na maneira Ortodoxa, morem aonde quer que seja na terra.
De outro lado é essencial ter-se em mente que a Igreja era católica
mesmo quando ela era composta de um número limitado de comunidades,
e também quando no dia de Pentecostes, seus limites não se estendiam
além do salão superior de Sião e Jerusalém.
A Igreja não é limitada pelo tempo: ela foi pré-ordenada
a trazer pessoas para a fé "até o final do mundo...."; "...e
eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos" (Mt. 28, 20). O Espírito, o Consolador, "Ficará convosco
para sempre" (Jo. 14, 16). O Mistério da Eucaristia será cumprido
até que o Senhor venha outra vez para a terra (1 Cor. 11, 26).
A Igreja não é limitada por nenhuma condição de
ordem civil, nem por uma língua ou povo definido.
i - Igreja Apostólica
A Igreja é chamada "Apostólica" porque
os Apóstolos fizeram o início histórico dela. Eles espalharam
Cristianismo até aos confins da terra e quase todos eles selaram a sua
pregação com uma morte por martírio. As sementes do Cristianismo
foram semeadas no mundo pelas palavras deles e regadas com o seu sangue. A
chama inextinguível da fé no mundo eles acenderam pelo poder
a sua fé pessoal.
Os Apóstolos preservaram e transmitiram para a Igreja o ensinamento
da fé e da vida Cristã na forma que eles haviam recebido do seu
Mestre e Senhor. Dando em si próprios o exemplo de cumprimento dos comandos
do Evangelho eles entregaram aos fieis o ensinamento de Cristo pela palavra
da boca baseada na Sagrada Escritura para que ele fosse preservado, confessado
e vivido.
Os Apóstolos estabeleceram na Igreja a graça da sucessão
episcopal, e através dela a sucessão de graça para todo
o ministério da hierarquia da Igreja. Eles colocaram o início
da realização dos santos Mistérios do Corpo e Sangue de
Cristo, no Baptismo e Ordenação.
Os Apóstolos estabeleceram o inicio da estrutura canónica da
vida da Igreja, estando preocupados que tudo deveria ser feito decentemente
e em ordem; um exemplo disso é dado no capítulo catorze da Primeira
Epistola aos Coríntios, que contém instruções para
a as assembleias onde os Ofícios da Igreja são celebrados.
Tudo o que dissemos refere-se ao aspecto histórico. Mas além
disso existe outro aspecto, o interior que dá a Igreja uma qualidade
apostólica. Os Apóstolos não estiveram historicamente
na Igreja de Cristo; eles permaneceram nela e estão nela agora. Eles
estiveram na Igreja terrestre, e estão agora na Igreja celeste, continuando
a estar em comunhão com os fiéis na terra. Sendo o núcleo
histórico da Igreja, continuam a ser, estando espiritualmente vivos,
apesar de invisíveis, o núcleo da Igreja, agora e sempre, na
constante existência dela. O Apóstolo João, o Teólogo,
escreve: "... e nós anunciamos, para que também tenhais
comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com
seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo. 1, 3). Essas palavras tem para nós
a mesma força que elas tiveram para os contemporâneos dos Apóstolos;
elas contêm uma exortação para nós estarmos em comunhão
com a ordem dos Apóstolos, pois a proximidade dos Apóstolos com
a Santíssima Trindade é maior que a nossa.
Assim, tanto por razões de carácter histórico quanto por
razões de carácter interior, os Apóstolos constituem a
base, fundação da Igreja. Por essa razão é dito
na Igreja: ela é "Edificada sobre o fundamento dos Apóstolos
e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina" (Ef.
2, 20). A nomeação da Igreja como "Apostólica" indica
que ela é estabelecida não sobre só um Apóstolo
(como a Igreja Romana mais tarde veio a pensar), mas sobre todos os doze; de
outra forma ela teria que ter o nome de Pedro, ou João, ou de algum
outro. A Igreja como ela estava adiante do tempo nos preveniu contra pensar
de acordo com um princípio "carnal" (1 Cor. 3, 4): "Eu
sou de Paulo, e outro, eu sou de Apolo". No Apocalipse, a respeito da
cidade que descia do céu é dito: "E o muro da cidade tinha
doze fundamentos, e neles os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro" (Apoc.
21, 14).
Os atributos da Igreja indicados no Símbolo da Fé: "una,
santa, católica, apostólica", referindo-se à Igreja
militante. No entanto, eles recebem o seu significado completo com a consciência
da unicidade dessa Igreja com a Igreja celeste do único Corpo de Cristo:
a Igreja é una, com uma unidade que é tanto celeste, quanto terrestre;
e é santa com uma santidade celeste-terrestre; e é católica
apostólica pela sua ligação inquebrantável com
os Apóstolos e todos os santos.
O ensinamento Ortodoxo da Igreja, que é nele próprio muito claro
e repousa sobre a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição, tem
que ser contrastado com outro conceito que está largamente espalhado
no mundo protestante contemporâneo e que tem penetrado até em
círculos Ortodoxos. De acordo com esse diferente conceito, todas as
várias organizações Cristãs existentes, as assim
chamadas "confissões" e "seitas" ainda que estejam
separadas uma das outras, ainda assim compõe uma única "Igreja
Invisível", desde que cada uma delas confessa Cristo como Filho
de Deus e aceita o seu Evangelho.
A disseminação de tal visão é ajudada pelo facto
que lado a lado com a Igreja Ortodoxa existe fora dela um número de
Cristãos que excedem em muitas vezes o número de membros da Igreja
Ortodoxa. Com frequência nós podemos observar nesse mundo Cristão
fora da Igreja um fervor religioso e uma fé, uma vida moral digna, uma
convicção - na direcção do fanatismo - um comportamento
correcto, uma organização e uma ampla actividade caritativa.
Qual é a relação de todos eles com a Igreja de Cristo?
Com certeza, não existe razão para olharmos essas confissões
e seitas como no mesmo nível que as religiões não-Cristãs.
Não se pode negar que a leitura da Palavra de Deus tem uma influência
benéfica em qualquer um que nela procurar instrução e
reforço da fé, e que reflexão devota sobre Deus o Criador
e sobre o Provedor e Salvador, tem um poder elevado também entre os
Protestantes. Nós não podemos dizer que as orações
deles são totalmente infrutíferas se elas vem de um coração
puro, pois "em qualquer nação aquele que teme o Senhor, é agradável
a Ele" (Act. 10, 35 paráfrase). O Deus Omnipresente e Bom Provedor
está sobre eles, e eles não estão privados da misericórdia
de Deus. Eles ajudam a restringir a aproximação moral, vícios
e crimes; e eles opõem-se ao espalhamento do ateísmo.
Mas tudo isso não nos dá base para considera-los como pertencendo à Igreja.
Já o facto que uma parte desse amplo mundo Cristão fora da Igreja,
particularmente o Protestantismo todo, nega a ligação com a Igreja
Celeste, isto é, a veneração em oração da
Mãe de Deus e dos santos, e da mesma forma orações feitas
pelos mortos, indica que eles destruíram a ligação com
o Uno Corpo de Cristo que une em si o celeste e o terrestre. Além disso, é um
facto que essas confissões não-Ortodoxas "romperam" de
uma ou outra forma, directa ou indirectamente, com a Igreja Ortodoxa, com a
Igreja em sua forma histórica; eles mesmos cortaram a ligação,
eles "partiram" dela. Nem nós nem eles temos o direito de
fechar os olhos para esse facto. O ensinamento dos Não-Ortodoxos contêm
heresias que foram decididamente rejeitadas e condenadas pela Igreja em seus
Concílios Ecuménicos. Nesses numerosos ramos do Cristianismo
não há unidade, nem interior, nem exterior - seja com a Igreja
Ortodoxa ou entre eles mesmos. A unificação supra-confessional
(o "movimento ecumenista") que se está observando agora não
entra nas profundezas da vida dessas confissões mas tem um carácter
exterior. O termo "invisível" pode referir-se somente à Igreja
celeste. A Igreja na terra, ainda que tenha seu lado invisível, como
um barco que tem uma parte escondida na água e é invisível
aos olhos, ainda permanece visível, porque ela consiste de pessoas e
tem formas visíveis de organização e de actividades sagradas.
Por conseguinte é muito natural afirmar que essas organizações
religiosas são sociedades que estão "perto", ou "proximidade", "encostada",
ou talvez até mesmo "contígua" a Igreja, mas às
vezes "contra" ela; mas elas estão todas "fora" da
Una Igreja de Cristo. Algumas vezes cortaram-se da Igreja, outras foram para
longe. Algumas ao ir embora, ao mesmo tempo mantiveram ligações
de sangue com a Igreja. Outras perderam todo parentesco, e nelas o verdadeiro
espírito e as bases do Cristianismo foram distorcidas. Nenhuma delas
encontra-se sob a actividade da graça que está presente na Igreja,
e especialmente a graça que é dada nos mistérios da Igreja.
Elas não são nutridas por aquela mesa mística que conduz
ao longo dos passos da perfeição moral.
A tendência na sociedade cultural contemporânea de colocar todas
as confissões no mesmo nível não é limitada ao
Cristianismo; nesse mesmo nível igual para todos são colocadas
também as religiões não-Cristãs, baseado no facto
que todas "conduzem a Deus", e além tomadas todas juntas,
elas superam largamente o mundo Cristão em número de membros.
Todas essas visões "unitilizadoras" e "equalizadoras" indicam
um esquecimento do princípio de que podem existir muitos ensinamentos
e opiniões, mas existe uma só verdade. E a união Cristã autêntica
- unidade na Igreja - só pode ser baseada na unidade de mente e não
em diferenças de mente. A Igreja é "a coluna e firmeza da
verdade" (1 Tim. 3, 15).
j - A hierarquia da Igreja
Todos os membros da Igreja de Cristo forma um único
rebanho de Deus. Todos são iguais perante o julgamento de Deus. Porém,
assim como as partes do corpo tem diferentes funções, na vida
do organismo, e assim como numa casa cada parte tem um uso próprio,
assim também na Igreja existem vários cargos. O cargo mais elevado
na Igreja como uma organização é gerado pela hierarquia,
que é distinta dos membros comuns.
A hierarquia foi estabelecida pelo Senhor Jesus Cristo. Ele "... deu uns
para Apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas,
e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos,
para a obra do ministério, para edificação do corpo de
Cristo. Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo" (Ef. 4, 11-13).
Ninguém na Igreja pode tomar sobre si próprio o ministério
hierárquico, mas só aquele que é chamado e legalmente
colocado através do Ministério da Ordenação. "E
ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado
por Deus, como Aarão" (Heb. 5, 4). Não importa quão
elevada seja a vida moral que um homem leve, ele não pode preencher
o ministério hierárquico sem uma consagração especial.
Não é possível, portanto, traçar um paralelo entre
o grau moral de um homem e o grau de seu nível na hierarquia. Aqui uma
perfeita correspondência é desejável mas nem sempre é obtida.
l - Apóstolos
O Senhor Jesus Cristo durante o seu ministério terrestre
escolheu dentre os seus seguidores doze discípulos - os Apóstolos
(aqueles "enviados para longe") - dando-lhes dons espirituais especiais
e uma autoridade especial. Aparecendo a eles depois da sua Ressurreição,
ele disse-lhes: "...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio
a vós. E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei
o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, os pecados lhe
serão perdoados: e aqueles a quem os retiverdes lhes serão retidos" (Jo.
20, 21-23). Essas palavras significam que é essencial ser enviado do
alto de modo a preencher o ministério Apostólico, assim como
o ministério pastoral que se segue depois. O escopo desses ministérios é expresso
nas palavras finais do Senhor para os seus discípulos antes da sua Ascensão: "Portanto
ide, ensinai todas as nações baptizando-as em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar todas as coisas que
eu vos tenho mandado e eis que eu estou com vocês todos os dias, até a
consumação dos séculos. Amém" (Mt. 28, 19-20).
Nessas palavras finais o Salvador indica o triplo ministério dos Apóstolos
em sua missão: 1 - ensinar, 2 - executar funções sagradas
(baptizar), e 3 - governar ("ensinando-os a guardar toda as coisas").
E nas palavras "eu estou convosco, até a consumação
dos séculos" ele abençoa o trabalho pastoral dos sucessores
por todos os tempos até o final dos séculos, até que a
existência da Igreja terrestre tenha chegado ao fim. As palavras do Senhor
citadas anteriormente "Recebei o Espírito Santo" (Jo. 20,
21), testemunham que essa autoridade de pastoreio é inseparavelmente
unida com dons especiais na graça do Espírito Santo. Os três
ministérios hierárquicos estão unidos num único
conceito de pastores, de acordo com a expressão do Senhor: "Apascenta
as minhas ovelhas... apascenta as minhas ovelhas" (Jo. 21, 16-17), e dos
Apóstolos: "Apascentai o rebanho de Deus" (1 Ped. 5, 2).
Os Apóstolos estiveram sempre citando a ideia da instituição
Divina da hierarquia. Foi por um rito especial que o Apóstolo Matias
foi juntado à ordem dos doze no lugar de Judas que havia caído
fora (Act. 1). Esse rito foi a escolha de pessoas dignas, seguida por orações
e por lançamentos de sortes. Os Apóstolos escolheram sucessores
para si próprios através da ordenação. Esses sucessores
foram os bispos.
m - Bispos
O Apóstolo Paulo escreve a Timóteo: "não
desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a
imposição das mãos do presbitério" (1 Tim.
4, 14). E em outro lugar o Apóstolo escreve para ele: "Por cujo
motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição
das minhas mãos" (2 Tim. 1, 6). A Timóteo e Tito, Bispos
de Éfeso e Creta, é dado o poder de ordenar Padres: "Por
esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que
ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como
já te mandei" (Tit. 1, 5). Da mesma forma lhes foi dado o direito
de dar méritos aos Presbíteros: "Os presbíteros que
governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente
os que trabalham na palavra e na doutrina. Porque diz a Escritura: Não
ligarás a boca ao boi que debulha. E: digno é o obreiro de seu
salário" (1 Tim. 5, 17-18). Da mesma forma eles têm o direito
de examinar acusações contra os Presbíteros: "Não
aceites acusação contra o presbítero, senão com
duas ou três testemunhas" (1 Tim. 5, 19).
Assim os Apóstolos - aqueles que precisamente eram chamados para o mais
alto ministério na Igreja pelo próprio Senhor - colocaram Bispos
como seus sucessores imediatos, e continuadores, e Presbíteros como
seus próprios auxiliares e como auxiliadores dos Bispos, como as "mãos" dos
Bispos, deixando a questão de ordenação dos Presbíteros
com os Bispos.
n - Presbíteros (padres)
Presbíteros (literalmente "anciões")
foram nos tempos apostólicos e em todo tempo subsequente - e são
hoje em dia - o segundo grau da hierarquia sagrada. Os apóstolos Paulo
e Barnabé, como relata o livro dos Actos, passando por Listra, Antioquia
e Icónio, ordenaram Presbíteros em cada Igreja (Act. 14, 23).
Para a solução da questão acerca da circuncisão,
foi enviada uma embaixada a Jerusalém, para os Apóstolos e os
Presbíteros em Jerusalém (Act. 15, 2). No Concílio dos
Apóstolos, os Presbíteros ocuparam um lugar junto com os Apóstolos
(Act. 15, 6).
Depois, o Apóstolo Tiago instrui: "Está alguém entre
vós doente? Chame os Presbíteros da Igreja e orem sobre ele,
ungindo-o com azeite em nome do Senhor" (Tig. 5, 14). Da instrução
do Apóstolo Tiago nós vemos que: 1 - os Presbíteros executavam
os ritos sagrados da Igreja, e 2 - na Igreja do início podia haver vários
Presbíteros em cada comunidade, enquanto só um Bispo era indicado
para uma cidade e a região em torno dela.
No capítulo vinte e um do livro dos Actos, é relatado que quando
o Apóstolo Paulo voltou a Jerusalém depois da terceira viagem
Apostólica e visitou Tiago, todos os Presbíteros vieram, significando
que eles fizeram uma reunião especial da Igreja. Eles repetiram aos
ouvidos de Paulo o decreto do Concílio Apostólico a respeito
da não-circuncisão dos pagãos; mas eles pediram a Paulo
que executasse o rito de sua própria purificação, para
evitar a recriminação de que ele tinha renunciado ao nome de
Judeu.
Nos escritos Apostólicos os dois nomes de "Bispo" e "Presbítero" não
estão sempre distinguidos. Assim, de acordo com o livro dos Actos o
Apóstolo Paulo chamou em Mileto, os "presbíteros da Igreja" de Éfeso
(Act. 20, 17) e instruindo-os ele disse: "Olhai pois por vós, e
por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui Bispos,
para apascentar a Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue" (Act.
20, 28). No entanto, dessas expressões e de outras similares não
se pode concluir que na época dos Apóstolos os dois graus - Bispo
e Presbítero - estavam juntados em um. Isso só mostra que no
primeiro século a terminologia da Igreja não estava tão
padronizada como tornou-se depois, e a palavra "Bispo" era usada
em dois sentidos: às vezes no significado especial de grau mais elevado
da hierarquia, e às vezes no significado usual e geral de "inspector" ou “supervisor”,
de acordo com o uso grego daquele tempo. Na terminologia diária na Rússia
também, por exemplo, a palavra "inspeccionar" está longe
de significar que alguém tem necessariamente o grau de inspector (Um "inspector" é o
oficial encarregado de supervisionar a boa ordem geral em seminários
Ortodoxos).
o - Diáconos
O terceiro grau hierárquico na Igreja é o dos
Diáconos. Diácono, sete em número foram escolhidos pela
comunidade de Jerusalém e ordenados pelos Apóstolos, como lemos
no sexto capítulo do livro dos Actos. Sua primeira função
era ajudar os Apóstolos numa actividade prática secundária:
eles eram encarregados de "servir às mesas" - dar comida,
e estar preocupados com as viúvas. Esses sete homens foram mais tarde
chamados de Diáconos, apesar de no sexto capítulo do livro de
Actos, esse nome não ser ainda usado.
De epístolas pastorais fica aparente que os Diáconos eram apontados
pelos Bispos (1 Tim. 3, 8-13). De acordo com o livro dos Actos, para o ministério
de Diácono eram escolhidas as pessoas "enchidas com o Espírito
Santo e sabedoria". Eles tomavam parte na pregação, como
fé, Santo Estêvão, que selou sua pregação
de Cristo com seu martírio de sangue; e como São Felipe que realizou
o baptismo do eunuco (Act. 8, 5.38). Na Epístola aos Felipenses, o Apóstolo
Paulo manda saudações aos "Bispos e Diáconos" (1,
1), como portadores da graça do ministério hierárquico,
auxiliares dos Bispos.
São Justino, o Mártir escreve: "Os chamados Diáconos
entre nós dão a cada um dos que estão presentes comunhão
do pão sobre o qual foi realizado o agradecimento (Eucaristia) e do
vinho e da água, e eles levam o pão, vinho e água para
aqueles que estão ausentes". Isso significa que eles distribuíam
e levavam para fiéis não só comida, mas também
os dos Eucarísticos. O seu ministério, portanto, era limitado
na Igreja antiga, como é agora, aos Divinos ofícios e ao dar
a graça.
No Concílio de Neo-Cesaréia em 314, foi necessário que
o número de Diáconos numa comunidade, mesmo numa cidade grande,
não devia exceder sete, citando a passagem do livro dos Actos. Na literatura
da Igreja antiga, às vezes Bispos e Diáconos são citados
sem menção de Presbíteros, aparentemente em vista do facto
que os próprios Bispos eram os representantes das comunidades nas cidades,
enquanto aos presbíteros era dado o ministério das comunidades
fora das cidades.
p - Os três degraus da
hierarquia
Então a hierarquia da Igreja é composta de três degraus.
Nenhum dos três graus pode ser tomado somente pelo desejo pessoal de
alguém; eles são dados pela Igreja, e a indicação
para eles é executada pela bênção de Deus através
da ordenação de um Bispo, e a transmissão da Sucessão
Apostólica.
Todo os três graus de sacerdócio são indispensáveis
para a Igreja. Mesmo que uma pequena comunidade tenha como representantes da
hierarquia somente um ou dois dos graus (um Padre, um Padre e um Diácono,
dois Padres, etc), ainda, na Igreja como um todo, e mesmo na Igreja local, é essencial
que exista a totalidade da hierarquia. O Padre Apostólico, Santo Inácio,
expressa em suas epístolas o testemunho da preocupação
da Igreja antiga com isso. Ele escreve: "É essencial, como de facto
vós estais agindo, não se fazer nada sem o Bispo. Da mesma forma,
obedecei aos Presbíteros como Apóstolos de Jesus Cristo - nossa
esperança, em quem Deus concede que vivamos. E todos deveriam cooperar
de todas as maneiras com os Diáconos que servem os ministros dos Mistérios
de Jesus Cristo, pois eles não são ministros de comida e bebida,
mas servos da Igreja de Deus". "Todos vós deveríeis
reverenciar os Diáconos, como um mandamento de Jesus Cristo, o Filho
do Deus Pai, e os Presbíteros como a assembleia de Deus, como o coro
dos Apóstolos. Sem eles não há Igreja" (Inácio,
o Portador de Deus, «Epistle to the Trallians», par. 2; To The
Smyrneans, par. 8). Na expressão de Tertuliano, "sem Bispos não
há Igreja" (Tertuliano, "Against Marcian", part 4, chap
5).
Entre os Bispos há alguns que são líderes por sua posição,
mas não por sua dignidade hierárquica, dada por graça.
Assim era também entre os Apóstolos. Apesar de entre os Apóstolos
existirem aqueles que eram especialmente venerados e renomados, reverenciados
como colunas (Gal. 2, 2.9), ainda assim todos eram essencialmente iguais, no
seu grau apostólico. "Porque penso que em nada fui inferior aos
mais excelentes apóstolos" (2 Cor 11, 5; 12, 11), o Apóstolo
Paulo declara duas vezes, adicionando: "ainda que nada sou". As relações
mútuas nos Apóstolos foram construídas sobre bases de
igualdade hierárquica. Tocando em sua viagem para Jerusalém para
encontrar os mais renomados Apóstolos, Tiago, Pedro e João, o
Apóstolo Paulo explica que ele foi "por revelação",
testando a si próprio pela consciência católica dos Apóstolos,
mas não pela visão pessoal de nenhum entre os mais renomados. "E
quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro
tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência
do homem)" (Gal. 2, 6). E como para pessoas separadas, o Apóstolo
Paulo escreve: "E chegando Pedro à Antioquia, resisti-lhe na cara,
porque era repreensível" (por sua atitude para com os Cristãos
não circuncidados; Gal. 2, 11). As mesmas relações mútuas
de acordo com o princípio da igualdade hierárquica dada por graça
permanecem para sempre na Igreja entre os sucessores dos Apóstolos -
os Bispos.
q - Os Concílios da Igreja
Quando entre os Apóstolos surgiu a necessidade de apelar
para uma voz autoritária mais alta ou para um julgamento - isso foi
com relação aos importantes mal entendidos que surgiram em Antioquia
com respeito à aplicação do ritual da lei de Moisés
- os Apóstolos reuniram-se em um Concílio em Jerusalém
(Act. 15), e os decretos desse Concílio foram reconhecidos como obrigatórios
para toda a Igreja (Act. 16, 4). Por esta atitude os Apóstolos deram
um exemplo de resolução conciliar das mais importantes questões
da Igreja para todos os tempos.
Assim o mais elevado órgão de autoridade na Igreja, e a mais
alta autoridade em geral é um Concílio de Bispos; para uma Igreja
local é um Concílio de seus Bispos locais, e para a Igreja Ecuménica,
um Concílio de Bispos de toda a Igreja.
r - A ininterruptibilidade do episcopado
A sucessão dos Apóstolos e a ininterruptibilidade
do Episcopado constituem um dos lados essenciais da Igreja. E ao contrário:
a ausência da sucessão episcopal em uma ou outra denominação
Cristã deriva-se de um atributo da verdadeira Igreja, mesmo que nelas
esteja presente um ensinamento dogmático não distorcido. Tal
entendimento esteve presente na Igreja desde o seu início. Da história
da Igreja de Eusébio de Cesaréia nós sabemos que todas
as Igrejas Cristãs locais antigas preservaram listas de seus Bispos
em sua sucessão não interrompida.
Santo Irineu de Lyon escreve: "Nós podemos enumerar aqueles que
foram apontados como Bispos das Igrejas pelos Apóstolos, e seus sucessores
até o nosso tempo". E, de facto, ele enumera em ordem a sucessão
dos Bispos da Igreja Romana quase até o fim do segundo século" (Against
Heresies, pt 3, ch 3).
A mesma visão da importância da sucessão é expressa
por Tertuliano. Ele escreveu a respeito dos heréticos de seu tempo: "que
eles mostrem o começo de suas Igrejas, e revelem a série de seus
Bispos que devem continuar em sucessão de modo que seu primeiro Bispo
tenha tido como sua causa ou predecessor um dos Apóstolos ou um dos
Padres Apostólicos que esteve muito tempo com os Apóstolos. Pois
as Igrejas Apostólicas guardam as listas de Bispos precisamente dessa
forma. A Igreja de Smirna, por exemplo, apresenta Policarpo, que foi apontado
por João; a Igreja de Roma aponta Clemente, que foi ordenado por Pedro;
e da mesma forma as outras Igrejas também apontam para aqueles homens
como rebentos da semente Apostólica" (Tertuliano, "Concerning
the Prescriptions" contra os heréticos).
s - O aspecto pastoral da Igreja
"Que os homens nos considerem como ministros de Cristo,
e despenseiros dos ministérios de Deus... Todavia, a mim pouco se me
dá ser julgado por nós, ou por algum juízo humano...;
pois quem me julga é o Senhor" (1 Cor. 4, 1-4).
"
Aos Presbíteros que estão entre vós admoesto eu, que sou
também Presbítero com eles, e testemunha das aflições
de Cristo, e participante da glória que se há de revelar. Apascenta
o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não
por força, mas tendo domínio sobre a herança de Deus,
mas servido de exemplo ao rebanho" (1 Ped. 5, 1-3).
"
Lembrai-vos os vossos pastores, que vos falaram a Palavra de Deus, a fé dos
quais imitais, atentando para sua maneira de viver" (Heb. 13, 7).
"
Obedecei a vossos pastores, e sujeita-vos a eles; porque velam por vossas almas,
como aqueles que hão de dar contas delas; para que o façam com
alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil" (Heb.
13, 17).
Arcebispo Primaz Katholikos
S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)
Última actualização deste
Link em 01 de Outubro
de 2011